Fugas - Vinhos

David Guimaraens, herdeiro de uma longa tradição de enologia

David Guimaraens, herdeiro de uma longa tradição de enologia Adriano Miranda

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Os novos tempos antigos da Fladgate

A moderna geração de vintages das marcas Taylor’s, Croft e Fonseca são o resultado do trabalho de António Magalhães, um viticultor que conhece como poucos a história das vinhas e das videiras durienses, e de David Guimaraens, herdeiro de uma tradição de enologia que vai já na quarta geração.

A Taylor’s desenvolveu um sistema de armação do terreno e de plantação que é capaz de responder às exigências da mecanização mantendo ao mesmo tempo as altas densidades de videiras por hectare como no passado e a preservação da paisagem. É a “Segunda Geração do Socalco Pós-Filoxera”, com a qual as replantações nas vinhas do grupo estão a ser feitas – a área de vinha do grupo ultrapassa os 500 hectares.

A viticultura da Fladgate aposta numa combinação de castas cujo número vai muito para lá das escolhas da viticultura que dominaram o Douro nas últimas décadas. Uma espécie de regresso ao passado. “Nós lemos pouco as memórias dos séculos XVIII e XIX. Muitas vezes andámos a descobrir a roda”, afirma António Magalhães.

David Guimarães divide-as entre as “castas principais” que valem entre 60 e 80% do lote final (a Touriga Francesa, “a casta mais consistente que nós temos”, a Touriga Nacional, a Tinta Roriz e a Tinta Barroca), as “castas diferenciadoras”, que representam entre 20 a 30% do lote (Tinta Amarela, Tinto Cão, Tinta da Barca, que é a ex-libris da quinta de Vargellas, e a Tinta Francisca) e depois há um conjunto de “castas residuais” que apenas afinam o lote (inclui-se aqui o Rufete, a “alentejana” Alicante Bouschet, que era presença habitual nas vinhas pós-filoxéricas – vale perto de 3% das vinhas velhas da quinta da Roeda - ou a mais incompreendida Mourisco).

Os cuidados da viticultura estendem-se à enologia. A fermentação obedece hoje a modelos que exploram as características de cada casta e as relações que estabelecem entre elas nesta fase. É a “co-fermentação” que implica, por exemplo, a junção no mesmo lagar da Touriga Francesa (a equipa da Fladgate usa esta designação em detrimento da hoje mais vulgar “Touriga Franca”), cuja película é dura, com a Tinta Roriz, com uma película mais frágil. Ou da Tinta Barroca com a Tinta Roriz, castas com abundantes antocianinas (a Barroca) e taninos, ingredientes fundamentais para a fixação de cor.

Muitos destes saberes e destas práticas resultam, afinal, da “recuperação do conhecimento empírico”, que a Fladgate Partnership considera condição essencial para produzir um vinho que seja percebido como um bem sofisticado e capaz de reflectir a história, a tradição e a cultura da sua origem. 

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