Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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A Baga instalou-se de vez na produção de espumantes da Bairrada

A primeira “decorre fundamentalmente das importantes alterações ao nível da produção e das empresas engarrafadores ocorridas no final dos anos 90, quando as empresas que eram fundamentalmente compradoras de vinhos a granel incorporaram técnicos e passaram a produzir os seus próprios vinhos”. Pedro Soares explica que com isto a produção de espumantes passou a ser pensada, programada e orientada logo a partir da vinha. “E a qualidade dos vinhos é claramente a grande mais-valia para os espumantes da Bairrada”, garante.

Um segundo momento de afirmação de qualidade diferenciadora acontece com a crescente adopção da casta Braga como base para os espumantes. O presidente da CVR entende que “além de ser a casta típica da Bairrada, tem características aromáticas claramente diferenciadoras e proporciona vinhos que se distinguem também pela frescura e cremosidade”.

Mesmo com vinhos menos cuidados no passado, José Carvalheira constata que “nunca chegou a haver um sentimento depreciativo em relação aos espumantes da Bairrada”, concordando também com a ideia de que a Braga aporta aos espumantes uma cremosidade que os torna únicos. “E essa é a diferença entre o vinho com gás e o espumante. E isto na Bairrada interpreta-se muito bem”, conclui, assinalando que a produção de espumantes tende a ser maioritariamente com Baga, se bem que a sua utilização seja ainda recente.

A evolução começou há pouco mais de dez anos com produtores como Luís Pato (com um rosé) e as Caves Primavera, “mas está rapidamente a criar escala”, confirma Pedro Soares. Também produtores como a Adega de Cantanhede (Marquês de Marialva), as Caves S. Domingos, Aliança, Montanha estão a usar a Baga em grande escala. Nas Caves S. João prepara-se igualmente o lançamento de um espumante exclusivamente a partir desta casta e as Caves da Montanha acabam de por no mercado o seu “Grand Cuvée”, claramente distintivo em relação ao que atá agora faziam.

Pedro Soares garante que este tipo de vinhos tem tido grande aceitação no mercado e que produtores como a Adega de Cantanhede ou as Caves Primavera – que já faz mais de 80 mil garrafas por ano – têm já dificuldade em responder à procura durante todo o ano.

Para procurar fazer dos espumantes com Baga o produto-bandeira da região, a CVR está já a pensar num símbolo distintivo para as garrafas, um selo específico para a certificação e o futuro pode até trazer uma garrafa e um copo ou flutes próprios para os espumantes de Baga.

Num lote alargado de espumantes provados pela Fugas (ver lista) ficou evidente o salto qualitativo da generalidade dos espumantes bairradinos. Mas o que é agora mais surpreendente é a diversidade de estilos e características.

Para lá da capacidade e do conhecimento técnico instalado, José Carvalheira considera que a heterogeneidade é outra das riquezas da região. “Tem muito a ver com os diferentes tipos de solos. Os argilosos tendem a dar vinhos mais minerais, enquanto os franco-arenosos tendem a acentuar as características frutadas.

Além disso obtêm-se diferentes expressões cromáticas decorrendo da maior ou menos extracção das uvas”, explica, para concluir: “A Bairrada é um território pequeno mas tem uma diversidade impressionante. Muitas vezes até dentro da mesma vinha”. Há que saborear.

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