Fugas - Vinhos

As fulgurantes novas regras do vinho, descobertas pela revista Details neste Outono de 2014

Por Miguel Esteves Cardoso

A capa da revista americana Details de Outubro ostentava um título irresistível: “As novas regras do vinho (n.º 1: Os franceses não sabem peva”). Peva é a minha tradução do original “sh*t”.

Quem é que não gosta de estar a par das novidades no mundo do vinho? Lembrando-me da minha avó a sussurrar-me “aprender é sempre bonito” ao ouvido, atirei-me gulosamente às três páginas de ensinamentos.

Interessou-me saber a fonte para a regra número 1. É Olivier Magny, director do Bar Ô Chateau de Paris. Diz ele: “As pessoas da minha idade — tenho 34 anos — bebem Coca-Cola ou cerveja. Há alguns jovens franceses que começaram a beber vinho — mas não é por gostarem de vinho ou da França. Querem armar-se em nova-iorquinos.”

E pronto. Eis o fundamento da notícia: a opinião de um dono dum bar de vinhos que abriu em 2011. Como tem 34 anos e é licenciado em gestão, não foi preciso falar com mais ninguém. Quem sabe, sabe e o resto é conversa.

Embora eu só tenha vinte e tal livros sobre vinho — sobretudo enciclopédias e dicionários — fiquei para morrer quando soube que basta um único livro para saber tudo o que é preciso saber sobre vinhos.

O título é promissor: The Essential Scratch & Sniff Guide To Becoming A Wine Expert. Escrito por Richard Betts, o “livro parece ser para crianças — as folhas são de cartolina e está cheio de ilustrações e auto-colantes”. Depois vem o remate sensacional: “E, no entanto, o livro não é para crianças — é por isso que é tão divertido.”

Quem é que não se diverte à brava com livros que parecem para crianças mas não são, como aquela edição de Crime e Castigo em que página sim, página não salta-nos um pop-up de Raskolnikov? Para mais, segundo a Amazon, só tem 22 páginas. E não é por acaso que é o livro de vinhos mais vendido na Amazon.com. O segundo é o inteiramente dispensável The World Atlas of Wine, de um tal Hugh Johnson de que nunca ninguém ouviu falar.

Passemos aos vinhos. Para já “pode esquecer a Austrália”: em Washington State há Shiraz melhor. Quem o diz é o escanção do restaurante Aragona em Seattle, o qual é “spanish-influenced”.

A grande novidade — uma autêntica bomba — é a revelação que os vinhos “Gruner Veltliner (Austria)” são bons vinhos brancos que se podem beber todos os dias. Todos os dias! Quem diria que os austríacos fazem vinho? Qualquer dia são os suíços, raios nos partam. Fixem o estranho nome, Gruner Veltliner, porque tem futuro.

Podemos também esquecer os vinhos da Borgonha: “A Sicília é a nova Borgonha.” Com climas tão parecidos, não é de estranhar. Ainda por cima (mais uma surpresa agradável), os vinhos sicilianos, incrivelmente, são muito mais baratos dos que os da Borgonha. Aproveitemos já!

Outra novidade para o mundo não será para os portugueses: “Portugal: não é só Vinho do Porto”. Aqui vale a pena traduzir na íntegra: “A região do Douro, berço do Vinho do Porto, está a produzir alguns dos melhores tintos secos do lado ocidental das Sierras Nevadas. Há pessoas que reagem logo ‘O quê? Mas em Portugal fazem vinho?’”, diz Julie Dalton, que dirige o curso de vinhos de Wit & Wisdom, o restaurante do Four Seasons de Baltimore. “Mas se gosta de um tinto encorpado compre um Douro por metade do preço do que custaria um vinho semelhante dos Estados Unidos.”

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