Fugas - Vinhos

Paulo Ricca

Dez anos de ouro da Quinta da Romaneira

Por Pedro Garcias

É possível, atendendo ao próprio nome da quinta, que na Romaneira já se faça vinho desde os romanos. Mas a propriedade actual só está no negócio dos vinhos do Douro e Porto há apenas 10 anos. O bastante, no entanto, para já ser perceptível o seu enorme potencial.

O antigo dono da Quinta da Romaneira, António Borges Vinagre, neto do fundador do Banco Borges & Irmão, gostava de dizer que a sua propriedade era maior do que o Principado do Mónaco, que tem uma área de cerca de 220 hectares. Imaginar todo o Mónaco dentro da Romaneira e ainda vislumbrar olivais, vinhas e montes de fora é uma imagem forte que diz bem da grandeza daquela quinta, uma das maiores da região, com cerca de 400 hectares, 2,5 quilómetros de frente de rio Douro e 50km de estradas no seu interior.

Junto ao vizinho Roncão, a Romaneira pertence ao imaginário duriense, não só pela sua dimensão e beleza, mas também pela qualidade dos seus vinhos do Porto. No século XIX, o Visconde Vila Maior já se referia ao vinho da Romaneira como “um dos melhores do Douro, notável pela sua suavidade, corpo e aroma”, associando o seu carácter distinto a uma forte presença da casta Touriga Nacional — que ainda hoje representa cerca de 40% de toda a vinha da quinta. Os vinhos da Romaneira foram, de resto, os primeiros vinhos do Porto a ser leiloados pela famosa leiloeira Christie’s, em 1872.

O inglês Christian Seely, que em 1993 aterrou no Douro para dirigir a Quinta do Noval, comprada nesse ano pela seguradora AXA à família Van Zeller, depressa ficou a conhecer o potencial da Romaneira. Em 2004, ele e mais 11 investidores compraram a quinta aos herdeiros de António Vinagre (diz-se que por 5 milhões de euros), para fazerem vinho e construírem um hotel de luxo, destinado a receber as maiores celebridades do planeta com todas as mordomias e no maior dos recatos.

O hotel foi feito, algumas personalidades conhecidas como Angelina Jolie e Brad Pitt dormiram lá, mas o negócio acabou por fracassar e ficar nas mãos da financeira francesa IDI. E é então que entra na história um jovem e bem-sucedido banqueiro brasileiro, André Esteves, que, em 2013, comprou por mais de 20 milhões de euros a maioria do capital da empresa à IDI, que investira 11,8 milhões de euros. Esteves adquiriu a Romaneira para a transformar na sua casa de férias em Portugal e abri-la apenas a convidados, dispondo para isso de nove funcionários permanentes.

O banqueiro desistiu da hotelaria e passou a concentrar-se na produção de vinho, apoiado na visão e conhecimento de Christian Seely — que se manteve como acionista e com uma quota ainda maior — e na experiência e sabedoria do enólogo António Agrellos. A mesma dupla que em 20 anos resgatou a Quinta do Noval de um período de menos fulgor e a colocou de novo no topo, nomeadamente no segmento do Tawny Colheita e do Porto Vintage (o Quinta do Noval Nacional é o mais caro e exclusivo de todos os vintages que se produzem no Douro) e, nos anos mais recentes, também nos vinhos DOC.

A Quinta do Noval é, de resto, o modelo que serve de inspiração aos proprietários da Romaneira. No vinho do Porto, partem com muitas décadas de atraso. De colheitas velhas herdadas dos antigos donos só existe um Porto Tawny de 40 anos, por sinal belíssimo (ver última Fugas), e o Vintage mais velho tem apenas 10 anos. Mas esse Tawny e os também extraordinários LBV 2007 e Vintage 2011 são a prova acabada de que o terroir da Romaneira tem mesmo algo de especial.

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