O ditado popular “ano novo, vida nova” faz parte da tradição e do imaginário social da quadra que atravessamos. Com o começo de cada ano civil regressa a oportunidade para argumentar sobre algumas das tendências futuras, alguns dos fenómenos que poderemos observar ao longo deste novo ano de 2015 que poderão mudar a nossa percepção e valorização do vinho.
Tal como em qualquer outra actividade económica, o vinho também navega ao sabor das modas e tendências velejando em águas agitadas que variam de acordo com os ditames de cada época. O que valorizávamos num passado recente passa a ser quase irrelevante no presente, da mesma forma que o que enaltecemos no presente passará a ser um acessório menos entusiasmante num futuro muito próximo.
A velocidade destas transformações foi acelerada pelo modelo social em que vivemos, pela sofreguidão pela novidade, pelo entusiasmo com que abraçamos propostas novas, independentemente da sua validade ou do seu fundamento. Mesmo o mundo sempre tão conservador do vinho, um mundo que durante décadas se conseguiu manter relativamente distante dos fenómenos da moda e que se pautava por um classicismo quase barroco, teve de se adaptar a estas convulsões sociais que obrigam a seguir cartilhas diferentes que se renovam a um ritmo intenso e intimidante.
Exemplos destas tendências que vão surgindo com uma agilidade surpreendente são aquilo que se chama de vinhos biológicos, biodinâmica, vinhos naturais, vinhos de graduação alcoólica elevada, vinhos leves, vinhos sem álcool, vinhos vegan, vinhos sem sulfuroso, vinhos sem madeira, vinhos com duas ou três passagens por barricas novas e um sem fim de outros jeitos e feitios que em muitos casos não passarão de modas passageiras.
Pouco importa se quem segue estas tendências compreende a filosofia inerente a cada proposta, pouco importa se cada uma destas tendências tem justificação e proporciona resultados bondosos. Em muitos casos infelizmente o mais importante é apanhar o comboio, entrar a bordo do sabor do mês, abraçar causas que nesse momento têm valor acrescentado e que geram uma imagem positiva. As tendências vêm e vão ao sabor das marés. Algumas estão em franca regressão de popularidade enquanto outras aparentam estar em franca ascensão na hierarquia social do vinho.
A madeira é uma dessas tendências, ou melhor, a ausência da sua presença ou, no mínimo, a diluição da sua percepção. Se num passado recente se enalteciam os sabores tostados e caramelizados da barrica, a presença e peso da baunilha, coco, chocolate e demais tiques aromáticos da madeira, hoje a tendência é fugir do sufoco e peso destes aromas para apostar em vinhos mais discretos e joviais, onde sobressaia a frescura e a pureza da fruta em detrimento do fardo dos excessos de madeira. E quando a presença da madeira é obrigatória, sobretudo nos vinhos do segmento hierárquico mais elevado, a tosta surge muito mais discreta e menos penalizadora da elegância e clareza do vinho.
A outra tendência é a aposta em madeira e barricas de diferentes proveniências deixando de lado o duopólio do carvalho francês e americano para abraçar madeiras oriundas de outras paragens como o carvalho húngaro, austríaco, russo, esloveno ou de outras paragens mais exóticas, Igualmente exótica é a inclinação para a utilização de tipos de madeiras diferentes, madeiras usadas num passado distante e cujo uso deixou de estar na moda, assistindo-se hoje a uma recuperação de simpatia pela experimentação de madeiras como a acácia, cerejeira, mogno ou outras espécies ainda mais excêntricas.