Fugas - Vinhos

  • Caril de Manga, Chef Vitor Sobral
    Caril de Manga, Chef Vitor Sobral Jorge Simão
  • Rabo de boi, Chef Vitor Sobral
    Rabo de boi, Chef Vitor Sobral Jorge Simão
  • Moamba, Garoupa, Chef Vitor Sobral
    Moamba, Garoupa, Chef Vitor Sobral Jorge Simão
  • Presa porco preto, Chef Vitor Sobral
    Presa porco preto, Chef Vitor Sobral Jorge Simão
  • Montemor branco
    Montemor branco DR
  • Pedra Cancela Rosé
    Pedra Cancela Rosé DR
  • Regateiro
    Regateiro DR
  • Pedra Cancela reserva
    Pedra Cancela reserva DR
  • Casimiro Gomes, fundador da LusoVini
    Casimiro Gomes, fundador da LusoVini DR

Os melhores vinhos portugueses para a moamba, os quiabos e a mandioca

Por Alexandra Prado Coelho

A produtora e distribuidora LusoVini vai lançar uma brochura para mostrar que há um vinho português certo para cada prato criado por Vítor Sobral cruzando sabores de Portugal, Brasil e África.

O chef Vítor Sobral fez as receitas, Luís Lopes, director da Revista de Vinhos, seleccionou os vinhos — e assim a moamba de garoupa com quiabos e farinha de musseque aparece casada com o vinho verde branco Mito, de Anselmo Mendes, ou o Foral de Montemor, um branco alentejano da Herdade do Menir; o camarão com caril, manga e malagueta verde combina com um rosé do Dão, que pode ser o Pedra Cancela Selecção do Enólogo, ou o Casul, da Quinta da Alorna; e o ensopado de borrego, mandioca, cominhos e hortelã da ribeira pede um tinto, e a escolha pode ser entre dois alentejanos, o Évoramonte ou o Monte Damião.

A ideia de fazer uma brochura – intitulada O Vinho à Mesa, Sabores da Lusofonia, que será apresentada a 7 de Janeiro no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa – com receitas de alguns dos países lusófonos em harmonização com vinhos portugueses partiu da empresa LusoVini, produtora e distribuidora de vinhos que tem apostado forte nesta relação com Angola, Moçambique e o Brasil.

Quando conversamos com Casimiro Gomes, fundador da LusoVini, ele está precisamente no Brasil, e é daí que nos explica o caminho que decidiram seguir. “O normal seria basear a estratégia na produção. Mas percebemos que por muito bons que fossem os nossos vinhos, se não tivéssemos um mercado não iríamos ter sucesso”. Foram, por isso, à conquista desse mercado.

“Tenho 52 anos, 30 dos quais de actividade nesta área, mas os mercados mudam, e felizmente tivemos o bom senso, quando lançámos o projecto da LusoVini, de voltarmos a analisar cada um deles”, conta. A ideia não era apenas a exportação, o objectivo foi sempre a internacionalização para alguns países – hoje, cinco anos depois, a empresa está instalada em Angola (LusoVini Angola, em Luanda), Moçambique (Mozamvini, em Maputo) e Brasil (Brasvini, São Paulo).

E a primeira constatação quando chegaram ao terreno foi que muitos em Portugal ainda não tinham percebido como tudo estava a mudar. “Uma das coisas que notámos quando aqui chegámos foi que Portugal estava a mandar para cá os restos. Nas prateleiras encontrávamos vinhos brancos de colheitas muito atrasadas, e, apesar de a preferência dos angolanos ser pelos vinhos portugueses, estavam a consumir muitos vinhos brancos sul-africanos”, conta Casimiro.

“Em Angola, até há seis anos atrás bastava ter produto em stock — o cliente colocava o dinheiro na conta e perguntava quando podia levantar. Hoje não é nada assim. Percebemos que o mercado ia ter oferta em excesso e que a distribuição ia evoluir de forma muito rápida, pelo que tínhamos que olhar para o mercado de Angola como se estivéssemos a olhar para o de Nova Iorque, coisa que era difícil de explicar a equipas que estavam habituadas a um cliente que pedia por favor para comprar. Hoje isso não existe”. Por isso, em Luanda já têm até loja para provas e organizam jantares vínicos.

Moçambique é um mercado mais pequeno, com outras particularidades. “O peso da população muçulmana é muito grande, há lojas que não têm uma única bebida alcoólica, e precisamos de canalizar os diferentes produtos para os diferentes nichos”, explica o responsável da LusoVini. E há ainda o Brasil, onde também houve uma evolução muito grande e “quem consome vinho representa hoje um mercado de primeiro mundo, muito esclarecido”. Neste caso, por exemplo, foi preciso ultrapassar preconceitos instalados. “Nas décadas de 70 e 80 mandámos para o Brasil vinhos muito maus, de tal forma que ainda hoje há pessoas que se negam sequer a prová-los”.

Vencer estes preconceitos exige o tal trabalho de proximidade com os clientes que, defende Casimiro Gomes, só é possível estando nos países. Aí aprende-se também muito mais sobre as preferências dos diferentes consumidores, e é possível ir afinando a oferta, e a própria produção.

João Paulo Gouveia, accionista fundador da LusoVini, é também produtor da região do Dão e faz aquela que é uma marca de referência da empresa, o Pedra Cancela. Também ele defende que é fundamental “estudar os mercados, percebê-los” e adaptar as referências aos diferentes gostos. “O mercado africano, por exemplo, prefere vinhos com mais álcool do que o da Europa do Norte, que procura mais fruta, mais elegância, por isso na nossa produção temos ligeiras diferenças de lote. Sabemos que não podemos condicionar muito os mercados.”

Mas, acima de tudo, os vinhos portugueses têm uma grande vantagem, explica o produtor: “São vinhos muito gastronómicos, e, como temos vinhos muito diferentes uns dos outros, adaptam-se às diversas gastronomias. No caso do Pedra Cancela, são vinhos versáteis, frescos, com bastante acidez. E como [Angola, Moçambique ou o Brasil] têm cozinhas fortes, que usam muito especiarias, os vinhos com acidez têm vantagem a relação a outros.”

Tanto Casimiro Gomes como João Paulo Gouveia frisam um ponto:“O mundo está à procura de novas sensações, e Portugal pode dar isso. Estes vinhos diferenciados são hoje muito valorizados”, diz o produtor. “Quando orientamos um vinho para uma gastronomia, os portugueses são imbatíveis”, acrescenta Casimiro.

Por isso, nada melhor para começar do que mostrar como das mais de 70 referências da LusoVini há, entre brancos, tintos, rosé, espumante e Porto, vinhos para acompanhar as criações em que Vítor Sobral cruzou influências da lusofonia – da presa de porco preto com puré de cogumelos e beringela e farofa de espinafres, a uma caldeirada de cabrito à angolana, para terminar com um pudim de coco com compota de ananás.

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