Números difíceis de obter e que frequentemente se encontram indisponíveis para quem não tiver disponibilidade financeira para investir fortunas em estudos de mercado encomendados a grandes empresas de consultoria. Números sempre interessantes mas a que raras vezes temos acesso, excepto quando ocasionalmente publicados por estudos universitários motivados pela curiosidade científica e pela ajuda à comunidade que acabam divulgados livremente.
É sobre um desses estudos, neste caso patrocinado pelo centro de estudos Wine Economics da Universidade de Adelaide na Austrália, que me debruço para analisar alguns números e salientar algumas curiosidades, aceitando que o estudo, que se debruça maioritariamente sobre a evolução da produção e comércio durante a primeira década deste milénio, será fidedigno e que os números serão correctos.
A primeira informação assenta na evolução da área reservada à vinha em cada país ao longo desta primeira década. Se na maioria dos países do novo mundo essa área cresce de forma mais ou menos pronunciada na Europa, o crescimento é mínimo ou nulo, chegando mesmo a ser negativo, como é evidente em Portugal, Roménia, Bulgária, Rússia e, embora em menor grau, em Espanha, que continua a ocupar a maior mancha de vinha no mundo, abarcando 22,13% da área total de vinha no mundo, quase um quarto da superfície mundial de vinha.
Apesar da imensidão de vinha, Espanha é apenas o terceiro produtor mundial de vinho em litros (em 2010), ultrapassada por França e Itália, que ocupam, respectivamente os dois lugares cimeiros. Os Estados Unidos erguem-se ao quarto posto, logo seguidos pela China, que no curtíssimo espaço de uma década se converteu do absolutamente nada no quinto maior produtor de vinho do planeta: produz já quase 6% do vinho que é consumido no mundo. Seguem-se a Argentina, Austrália, Chile, África do Sul e Alemanha, ficando Portugal fora dos dez principais países produtores. Portugal surge na décima segunda posição, logo após a Rússia… embora os números russos sejam pouco fiáveis e devam ser encarados com algum cepticismo, já que uma parte substancial do vinho russo é proveniente de outras paragens e posteriormente rebaptizado como russo.
É interessante referir que o Brasil produz já mais de metade do vinho que Portugal elabora, reservando 1,20% da produção mundial contra os 2,24% aplicados pela produção nacional. Na verdade, produz vinho em muito maior quantidade que países tão influentes como a Nova Zelândia (0,65%), Áustria (0,72%), Hungria (0,90%) ou Grécia (1,13%). É igualmente curioso que um país tão conhecido pela sua produção de vinho como o Uruguai produza menos vinho em volume que o Japão, Suíça ou Peru, equiparando-se em peso ao Canadá. Igualmente singular é o peso mediático de países como Líbano ou Israel, quando se sabe que a sua produção não ultrapassa países tão exóticos como a Bielorrússia, Uzbequistão, Albânia, Montenegro, Turquemenistão, Cazaquistão, Marrocos, Tunísia, Argélia, Turquia ou Luxemburgo.
Qual a casta mais plantada no mundo é uma das perguntas mais clássicas entre os entusiastas do vinho. Para espanto geral, a resposta igualmente clássica assenta na casta Airén, uma casta branca espanhola plantada quase exclusivamente em Espanha, praticamente desconhecida da maioria e que durante muitas décadas foi realmente a variedade mais plantada do universo. Pois o Airén foi agora relegado para a terceira posição hierárquica, destronado pelos omnipresentes Cabernet Sauvignon e Merlot, as castas que ocupam agora as duas posições cimeiras, com respectivamente 6,30% e 5,81% do encepamento mundial total. Nas posições seguintes encontram-se as castas Tempranillo (Aragonez/Tinta Roriz), Chardonnay, Syrah, Garnacha, Sauvignon Blanc, Trebbiano e Pinot Noir.