Aqui, a experiência pode perfeitamente recuar no tempo um século ou um século e meio para a era da revolução liberal. Ferreiras de 1815 provados recentemente estão excelentes. O N’Oublie dos Symington nasceu em 1882 e é grandioso. Em garrafa, caso dos Vintage, ou em cascos, caso dos Colheita, os Porto envelhecem admiravelmente e nesse processo ganham aromas de chá preto, de frutos secos, de fruta cristalizada, por vezes verniz, gerando sensações extraordinárias e irrepetíveis — para lá da comoção que beber um vinho nascido num tempo histórico distante concede. Madeiras do século XVIII provados recentemente estão vivos e recomendam-se e a acidez e frescura de exemplares com 100 ou mais anos chegam a emocionar.
Em todos os casos, nos brancos, nos tintos ou nos generosos, o encontro entre a natureza pródiga de um ano, de uma vinha, de um enólogo e a depuração do tempo consegue separar o efémero e o imediato do duradouro e irrepetível. Para um branco, cinco ou seis anos podem ser suficientes para lhe refinar os aromas — um Encruzado do Dão ou um Bucelas vivem muito bem com muitos mais anos de garrafeira. Para um tinto grandioso, dez anos bastam para começar a mostrar toda a sua riqueza e complexidade. Para os outros grandes vinhos de Portugal, a espera pode muito bem exigir muito mais do que o tempo de uma vida. São, nesses casos, autênticos testemunhos da história que, como a arte dos grandes monumentos, nos concedem experiências que vão para lá do limiar dos sentidos.