A master blender
Regressemos então à The Scotch Whisky Experience. É altura de provarmos os whiskies. O nosso guia explica-nos que inicialmente a visita centrava-se mais na história do whisky ao longo dos tempos na Escócia, a maneira como a produção evoluiu, o tempo em que era um negócio sobretudo ilegal, o aparecimento dos “barões” que criaram as marcas hoje famosas e por fim a fase em que estas marcas se concentraram nas mãos de poucas grandes empresas.
Até meados do século XIX, a maior parte do whisky vendia-se directamente da barrica. Depois começaram-se a fazer os blends, misturando whiskies de diferentes barricas, com diferentes características e graus de envelhecimento. E no final do século XIX estes blends já eram vendidos em mais de 100 países — ajudados pela crise em que tinha mergulhado a produção de vinho depois de a filoxera ter destruído grande parte das vinhas na Europa. Hoje, a esmagadora maioria dos whiskies vendidos são blends, mas os single malt continuam a fascinar os conhecedores e, claro, a ter preços bastante mais elevados.
Com o passar do tempo, a The Scotch Whisky Experience deixou de se centrar tanto na história e adaptou o seu discurso a algo que, segundo o nosso guia, interessa mais aos visitantes: a experiência de provar um whisky e, sobretudo, de perceber as diferenças entre os single malt produzidos nas várias regiões. Passamos, para isso, para outra sala, onde pequenos filmes nos mostram as diferenças entre as regiões produtoras das Terras Altas (Highlands), Terras Baixas (Lowlands), Speyside e Islay.
Para nos ajudar, é-nos dado um postal onde cada região corresponde a uma cor, que devemos esfregar com um dedo e cheirar. Não há dúvidas de que os cheiros são completamente diferentes, mais cítricos nas Lowland, mais florais nas Highlands, mais adocicados (com um claro aroma a banana) em Speyside e, indiscutivelmente, fumados na ilha de Islay. Para um principiante, o mais fácil é identificar um whisky fumado. Esta característica é dada por um uso muito mais intenso da turfa na fase de secagem do malte. Envolto em fumo, este nunca mais perde esse aroma, mesmo ao fim de anos numa barrica.
Mas para completar a nossa formação acelerada no mundo dos whiskies falta uma coisa essencial: conhecer um master blender. Caroline Martin é master blender da Logan e a responsável pelo whisky que a marca lançou em Portugal no final do ano passado, o Logan Heritage Blend, que vem substituir o Logan 12 anos. Caroline vai dar-nos a provar a bebida que demorou dois anos a criar e na qual combinou perto de duas dezenas de whiskies de diferentes características — um blend tem sempre whiskies single malt e os chamados whiskies de grão, que são destilados industriais de grãos, geralmente trigo, milho ou centeio.
Para um master blender, explica-nos Caroline, é mais interessante este trabalho de procurar os equilíbrios certos entre uma grande variedade de whiskies (incluindo os de grão, que são bastante mais discretos mas permitem aos single malt brilhar), de várias idades, destilarias e tipos de barrica, do que trabalhar num single malt, onde a margem de manobra é menor, o que reduz, necessariamente, o trabalho de autor. Num single malt pode-se, sobretudo, jogar com o tempo que o whisky passa na barrica e com o tipo de barrica usada.