Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

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Luís Pato: A grande marcha em dois andamentos

A obrigação de qualquer bairradino seria não a criticar ou minimizar, mas sim de tentar entender o que se poderia fazer para que, em vez de produzir duas grandes colheiras em dez anos, ela nos deliciasse com grandes vinhos oito anos na mesma década. Foi esse o caminho que segui, ano após ano, experimentando e fazendo melhorias na vinha para alcançar a excelência. Resumindo, o que afirmei no discurso breve  para o saudoso Armando Sevinate Pinto, ministro da Agricultura à época  da inauguração da nossa nova adega, em 2002, foi de que queria um dia conseguir que a casta Baga fosse olhada pelos consumidores como uma casta de gabarito mundial. Julgo que as notas da reconhecida Jancis Robinson, primeiro, e agora da Wine Advocate, primeiro pela escrita do próprio Robert Parker (Baga em Pé Franco 1995, pontuação 91+ atribuída em 1998) ou agora com Mark Squires (Vinha Barrosa 2011, 94 pontos e Pé Franco 2011, 95 pontos) são prova de que não era irrealista, mesmo sendo visionário

Parte 3

O caminho em direção ao futuro

Os vinhos portugueses têm acertado o passo com o que de melhor se faz no mundo na última década, fruto da melhoria das condições de trabalho na adega e a introdução de uma geração de enólogos mais viajada e aberta. Portugal está no momento de mostrar a sua diferença, pela diversidade de castas, de métodos, de climas, de solos, de saber trabalhar a vinha e o vinho como quem faz ourivesaria. O que pretendo insinuar é que, se por um lado temos alguma quantidade de vinhos que nos permitem ocupar um espaço negocial do valor médio, temos muitos vinhos que são únicos.

Chegados aqui, temos de fazer passar esta mensagem de qualidade. É preciso educar o consumidor mundial e para esse efeito o trabalho da imprensa é importante, embora haja há muito jornalistas que reconhecem o nosso valor sem que os consumidores peguem os vinhos portugueses nas prateleiras, também porque alguns são tão baratos que os consumidores associam logo a vinhos ruins… mesmo sem o serem. Mas, sobretudo, é importante a educação dos agentes de venda ao consumidor, mostrando-lhes como podem surpreender os seus clientes com vinhos únicos e de enorme qualidade, e dos sommelliers, para quem os vinhos portugueses podem ser um achado como recomendação ao seu cliente que espera sempre uma surpresa  - e que melhor surpresa que um vinho elaborado com uma ou muitas das nossas 250 castas?

Na minha longa caminhada através do mundo, onde existem enormes diferenças culturais, aprendi que os vinhos elaborados com castas únicas dão ao consumidor uma sensação de usufruto de algo que nem todos podem alcançar. A pertença ao Velho Mundo, onde as castas estão definidas nas grandes marcas regionais (Cabernet a Bordeaux, Pinot à Borgonha, Baga à Bairrada, Touriga Nacional ao Dão, etc.) pela experiencia que são os séculos de presença local, dá-nos a vantagem que o Novo Mundo ainda não conseguiu. Eles estão ainda na fase que os leva a plantar o que julgam ser a próxima tendência sem olhar à casta que melhor se adapta ao terroir da região. Não podemos ser preguiçosos. Temos sim de olhar para o futuro, melhorando as castas que nos diferenciam. Só assim teremos futuro!

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