Embora a regulamentação obrigue a estágios mínimos de dois anos em madeira, os moscatéis de Setúbal mais jovens, das principais casas, passam normalmente quatro a cinco anos na madeira antes de serem colocados no mercado. Depois temos os vinhos com indicação de ano de colheita e os de idade. Estes últimos, que ostentam nos rótulos as denominações “20 anos”, “30 anos” e “mais de 40 anos”, são obrigatoriamente constituídos por lotes com o mínimo de idade mencionada. É possível utilizar ainda a designação “Superior” em vinhos até cinco anos de estágio, desde que autorizados pela câmara de provadores local. Contudo, esta qualificação, que alguns produtores reservam para os seus melhores vinhos, nem sempre foi utilizada de forma uniforme. Por exemplo, a JMF classificou o 1911, recentemente engarrafado e vendido em leilão, como “Superior”, o mesmo não aconteceu com outras colheitas míticas, como o 1947 - que obteve a pontuação máxima de 100 pontos, na Wine Advocate de Robert Parker - ou o 1955.
Existem registos históricos que mencionam o Moscatel de Setúbal como um vinho apreciado pela realeza europeia, de Ricardo II de Inglaterra a Luís XIV de França. Porém, ao contrário do Vinho do Porto (e mesmo do Madeira), que beneficiou de uma distribuição mundial graças aos comerciantes ingleses instalados no Norte, este primo do Sul continua um desconhecido no estrangeiro. E se este facto beneficia o verdadeiro apreciador, que assim pode adquirir uma boa garrafa por um preço menos elevado, a verdade é que isso retira valor e prestígio a um vinho cujos melhores exemplares se encontram entre os grandes do mundo. No final do leilão do 1911, que decorreu em Dezembro último, o director de enologia e proprietário da JMF Domingos Soares Franco lamentava a circunstância de certos lotes, como o que foi arrebatado por 2700 euros e que incluía três garrafas de 1911 mais uma de 1947 (o tal dos 100 pontos Parker), não ter alcançado um valor superior. “O 1947 foi de borla”, desabafou na altura.
O que ver, comer e o que comprar
Vila Nova de Azeitão é uma agradável localidade rodeada de vinhas, com a Serra da Arrábida à espreita. De Lisboa distam 34 quilómetros, num percurso que se faz em 40 minutos de carro, ou um pouco mais, sobretudo aos fins-de-semana, quando a pacatez do lugar se altera com a afluência de visitantes em busca das atracções locais - que além dos vinhos e da gastronomia, inclui um ambiente rural muito apreciado, praias, serra, alguns palácios e museus.
Um dos focos de atracção é a Casa Museu da José Maria da Fonseca onde se encontra o rico espólio vínico da família. Este é o local para se ficar a saber mais, por exemplo, sobre o “Torna Viagem”, um moscatel que no tempo das caravelas atravessava o oceano nos porões dos barcos, beneficiando com o calor na passagem pelos trópicos, à ida e no regresso a Portugal. No final da visita recomenda-se uma paragem na loja do museu, onde além de gourmandises e do habitual merchandising se pode adquirir (ou provar) uma boa parte dos moscatéis e de outros vinhos da casa.