Fugas - Vinhos

  • Bruno Simões Castanheira
  • Miguel Manso

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Moscatel de Setúbal, o primo generoso do sul

Tão famoso como o moscatel é o Queijo de Azeitão, elaborado com leite de ovelha e com 20 dias de cura. De pasta mole, cor ligeiramente amarelada e um pico de acidez presente, este queijo lembra o Serra da Estrela, de onde descende. É possível acompanhar o seu processo de fabrico artesanal em lugares como a Quinta Velha (Quinta Velha, Queijeira, 2925 Azeitão; Tel: 212191125) ou adquiri-lo em vários pontos da vila, como a Pastelaria Cego (Rua José Augusto Coelho,150 - Tel:212180301), a Casa Negrito (Rua José Augusto Coelho, 26 - tel: 212 197 027) ou a Casa das Tortas (Praça da República nº 37 - Tel: 969 146 996). Muito recomendável igualmente é a doçaria local, à venda nestes mesmos lugares: dos viciantes “esses” (biscoitos secos de canela), à torta de Azeitão (com recheio de doce de ovos). Para almoçar ou jantar recomenda-se a já mencionada Casa das Tortas, ou a quem estiver disposto a percorrer uns quilómetros o Bataréu e a Ostraria, em Setúbal (a 15 km), o Ribamar, em Sesimbra (a 16 km), ou o Farol, no Portinho da Arrábida (a 13 km), com os pés quase em cima do oceano. Escusado será dizer que peixes e mariscos, de uma forma mais simples ou mais elaborada, são os reis da festa. E com o café, um moscatel, claro. Ou roxo.

Harmonizações com os grandes vinhos da Península

Pedimos a cinco profissionais do meio que elegessem um produto, ingrediente ou prato para harmonizar com três tipos de moscatel: novo, com idade e roxo. As respostas variaram, com exemplos mais evidentes e outros mais “fora da caixa”. Com uma ou outra excepção, a multiplicidade de propostas serve para mostrar não só a diversidade entre vinhos de uma mesma família, mas também uma versatilidade à mesa que muitos certamente não estão à espera.   

Para um Moscatel novo, Domingos Soares Franco elege os doces de ovos. “Vão bem com as notas de laranja e de alperce do vinho”. O ideólogo dos vinhos da JMF acrescenta ainda, uma inusitada ligação que um dia lhe apresentaram: gambas cozidas com molho tipo cocktail. “Essa não me esqueço”, acrescenta. Curiosamente, o escanção Manuel Moreira menciona igualmente gambas só que coradas e com molho de barbecue, alegando que funcionam bem “com o caramelizado do vinho”.   

Já Filipa Tomaz da Costa, enóloga da Bacalhôa, elege os “queijos maturados, como o São Jorge, Emmental ou Serra” (este com mais tempo de cura), como harmonização por contraste; e sobremesas à base de amêndoa, gelado de tangerina ou laranja - acompanhados por um doce ou bolo de chocolate preto – ou ainda café e frutos secos como harmonizações por semelhança. Por sua vez, Pedro Simões, da Casa Horácio Simões, prefere pratos não muito intensos, como “requeijão assado com pó de café e raspa de toranja”, uma entrada que lhe ficou na memória.

No caso do moscatel velho, Filipa Tomaz da Costa e Pedro Simões preferem acompanhá-lo com um bom charuto, enquanto Soares Franco deixa o fumo para o roxo e elege os figos secos, as passas o chocolate “com 60% máximo” e queijos que não sejam fortes (“porque o umami mata tudo”), uma escolha que é perfilhada igualmente pelo ex-escanção da Tasca Esquina (Lisboa) Sérgio Antunes. Já o seu colega Manuel Moreira além de uma consensual tarte de figos secos lembra-se de um teppan yaki de carne e vegetais preparado pelo chef Paulo Morais “que funcionou muito bem”. 

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