Fugas - Vinhos

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Está a nascer um novo e grande clássico do Douro

A extraordinária colheita de 2011 foi uma bênção para o Douro e a Quinta do Vesúvio, embora tenha elevado as expectativas a um nível muito alto e difícil de repetir. A seguir a um grande ano, a um ano de embriaguez total, a ressaca tende a ser ainda mais penosa. É necessário ir acumulando novas colheitas para que o efeito se vá diluindo.

Mas já vamos em 2015 e alguns dos vinhos do Douro de 2012 que foram chegando ao mercado mostram-nos que, não sendo este um ano globalmente tão extraordinário como o anterior, também originou vinhos admiráveis. Para os amantes de tintos menos extraídos, menos polidos e mais frescos (como é o nosso caso), o ano de 2012 pode até ser mais exaltante. Por ter sido mais ameno na fase final de maturação, os vinhos não são tão extraídos e maduros, cansam menos e são mais digestivos.

O novo Quinta do Vesúvio 2012, apresentado esta semana na sua origem, marca muito bem essa diferença (custa 45 euros e foram produzidas apenas 14.100 garrafas). Provado à mesa juntamente com o Quinta do Vesúvio 2011 revelou maior frescura, com uma fruta menos madura e mais viva e um frescor de boca mais acentuado. É um vinho profundo, amplo, muito limpo de aroma, suculento, rico e apimentado. Um Douro sem os excessos dos verões quentes e irrespiráveis, um Douro mais ameno e civilizado.

Digamos que o 2012 está para o 2011 como o Pombal do Vesúvio está para o Quinta do Vesúvio. Embora seja ligeiramente mais alcoólico, o Pombal do Vesúvio tem taninos mais vivos e acidez mais evidente, o que faz dele um vinho muitíssimo agradável. Como a madeira utilizada é de segundo uso e os taninos não são tão polidos e a fruta não é tão madura, por causa da altitude, o vinho fica menos carnudo e denso, o que faz com que os taninos e a acidez se insinuem mais. Isso é particularmente notório no excelente Pombal do Vesúvio 2011.

As castas utilizadas também são decisivas. Enquanto no Pombal predomina a Touriga Franca (50%), logo seguida da Touriga Nacional (40%) e da Tinta Amarela (10%), no Quinta do Vesúvio o lote é dominado pela Touriga Nacional (70%), surgindo a Touriga Franca com 20% e a Tinta Amarela com apenas 5%. Apesar de a Touriga Nacional ter uma frescura mais cítrica, a Touriga Franca amadurece pior. O Quinta do Vesúvio beneficia também de uma maior diversidade de barricas e também da escolha dos melhores lotes. Todas as castas e parcelas envolvidas são vinificadas separadamente, permitindo reunir um amplo leque de vinhos na hora de fazer o blending final.

Fazer um grande vinho é cada vez mais um trabalho de relojoaria, de minúcia, paciência e também de respeito pela tradição e o lugar. O Quinta do Vesúvio foi criado sob estes princípios e, ao fim de cinco colheitas, já mostra uma solidez e uma consistência notáveis. Ainda tem que passar a prova do tempo, mas, pelo caminho já percorrido, está a nascer um novo e grande clássico do Douro.

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