Fugas - Vinhos

Adriano Miranda

2015, mais um ano perfeito para os vinhos portugueses

Por Pedro Garcias

Nas regiões do Douro e do Alentejo, onde a vindima vai adiantada, já se celebra mais uma colheita memorável. Nos Vinhos Verdes há quem fale em "vindima do século". Se o tempo continuar assim, 2015 promete ser um ano histórico para os vinhos portugueses.

No Douro, os figos costumam ser um bom barómetro da vindima. No ano passado, houve muitos e grandes, mas eram pouco doces e começaram a desfazer-se mal caíram as primeiras chuvas. Este ano, os figos estão mais desidratados, não cresceram tanto, há menos, mas são dulcíssimos. Vêm aí grandes vinhos.

Apesar da seca e do calor extremo que as vinhas do Douro tiveram que suportar em Junho e Julho, a região pode estar a viver uma nova vindima histórica. A última foi em 2011, considerada uma das melhores de sempre- pelo menos desde que há registos-, ao ponto de a revista americana Wine Spectator ter incluído três vinhos do Douro dessa colheita nos quatro primeiros lugares do seu top 100 de 2014. Dirk Niepoort, por exemplo, acredita que 2015 vai ser “ainda melhor do que 2011”.

“Este ano é perfeito, genial, para vinho do Porto e para DOC Douro, se não for vindimado tarde”, diz. “Os vinhos que me interessava fazer já os fiz. As uvas estão muito maduras, têm suportado bem o calor até agora, mas vão começar a entrar em sobrematuração, criando desequilíbrios que são favoráveis para o vinho do Porto mas desfavoráveis para os DOC Douro, uma vez que a acidez vai cair a pique”, explica.

No grupo Symington também já se antecipa um novo ano vintage. “Embora o ciclo de maturação tenha sido simultaneamente um dos mais quentes e secos dos últimos 36 anos, as reservas de água no solo foram suficientes para suster as vinhas, em virtude das abundantes chuvas do início do ano vitícola, que se revelariam determinantes. Em segundo lugar, o mês de Agosto tem sido [foi] menos quente do que é habitual com valores de temperaturas diurnas e nocturnas abaixo das médias para a época e isto tem sido muito favorável para a vinha”, sublinha Charles Symington, o responsável pela enologia. Charles lembra que “é fácil centrarmo-nos apenas no aspecto da precipitação, quando na verdade a temperatura do ar, nesta fase do ciclo da vinha, tem igual influência na capacidade das videiras em produzirem uvas sãs com bom equilíbrio entre grau de açúcar e acidez.”

O ciclo final de maturação está a ser perfeito, com noites frias e dias não muitos quentes. Mas o excesso de calor e a falta de água aceleraram a degradação dos ácidos das uvas, sobretudo das oriundas das zonas mais baixas, o que está a obrigar os produtores a fazer grandes correcções com ácido tartárico (um produto natural). “Nada a que o Douro e o Alentejo não estejam habituados”, como referia, com algum humor, o crítico João Paulo Martins. A este propósito, o bairradino Luís Pato conta uma experiência recente com um vinho José de Sousa Rosado Fernandes 1940, um tinto do Alentejo. “Devem ter usado tartárico com força, para durar tanto tempo. Em novo devia ser imbebível, mas agora está muito bom.” 

Tirando a acidez baixa, no Douro, os vinhos estão a nascer cheios de cor e sabor, com boa concentração e estrutura. O ano vai, sobretudo, de feição para as vinhas situadas nas zonas mais altas e para a Touriga Nacional, que consegue preservar melhor a acidez do que a Touriga Franca. Por seu lado, esta variedade, que assume um papel decisivo nos vinhos durienses, está a compensar a sua baixa acidez com um teor de álcool mais generoso e uvas suculentas e saborosas. A pequena dimensão dos cachos da generalidade das castas também está a ajudar à qualidade geral dos vinhos.

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