Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

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Vindima 2015, um ano excelente

O mês de Maio foi o mais quente de sempre do longo histórico de registos das temperaturas mensais, o mês de Abril situou-se no podium dos registos mais alterosos de sempre e Junho afinou pelo mesmo diapasão. Viveram-se meses de pânico à medida que as temperaturas de final de Primavera e início de Verão se mantinham extremamente pesadas e a falta de água começava a ameaçar a própria sobrevivência das videiras.

Foi então que um Julho e um Agosto muito mais suaves e sem nenhuma da exorbitância térmica anterior acabaram por acalmar o ânimo e os nervos de quem já fazia contas à vida calculando os prejuízos sustentados por um ano padrasto. As temperaturas de Verão mantiveram-se meigas o que permitiu, não obstante a permanente falta de água nos solos, uma maturação calma que surpreendeu ainda no final de Julho por uma evolução tão rápida que apanhou muitos desprevenidos quando ainda se encontravam em férias estivais.

Houve quem começasse a vindimar ainda nos dias finais de Julho, muito antes do que seria expectável e sobretudo muito antes do padrão moderno que já de si tem sido sucessivamente antecipado. Houve mesmo quem já tivesse arrumado os cestos de vindima na terceira semana de Agosto, prova de um ano temporão que por regra se traduz em vinhos desequilibrados, imaturos, simples e sem grandes condições naturais para ostentar riqueza ou complexidade.

Curiosamente, e contra todas as expectativas, os vinhos já fermentados ou em fase final de fermentação que repousam nas cubas e barricas de Norte a Sul de Portugal revelam uma realidade distinta, uma outra verdade que poucos ou nenhuns esperariam. Contrariando a lógica, o ano promete vir a perdurar nos registos como excelente, com uma qualidade média invejável, um ano profundamente equilibrado e onde dificilmente conseguiremos encontrar vinhos desequilibrados. A qualidade média será francamente elevada.

A única dúvida é se para além deste padrão qualitativo médio tão elevado teremos oportunidade de encontrar muitos vinhos excepcionais, vinhos que consigam perdurar e ultrapassar a fasquia do tempo. É que a habilidade dos enólogos vê-se não só nos anos muito difíceis, onde tudo tem de ser aproveitado até ao limite… como nos anos demasiado fáceis, onde tudo parece correr especialmente bem e onde as facilidades podem conduzir à presunção.

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