Mas os humores do tempo e das eternas variações climáticas precipitaram a vindima transformando-a numa das mais precoces de sempre, tal como de resto se tem transformado em estranha norma ao longo dos últimos anos.
Agora que o momento mais alto do ano se presta a terminar, quando o ciclo em que tudo se decide se prepara para a conclusão é tempo de começar a alinhar as primeiras reflexões sobre as perspectivas globais desta vindima de 2015. É tempo para tecer as primeiras impressões genéricas sobre como correu o ano agrícola, tempo para meditar sobre o breve instante da vindima que culmina as esperanças e angústias de um ano inteiro de trabalho, esses dois curtos meses do ano em que se condensam tantas expectativas e preocupações, tantas ansiedades e alegrias.
A vindima foi o culminar de longos meses de inquietações permanentes, sobretudo num ano tão atípico e surreal como 2015, período durante o qual produtores e viticultores seguiram o desenvolvimento da vinha com a preocupação de quem sabe que a natureza nem sempre é gentil e que a adversidade espreita em cada esquina. Quem trabalha e tem vinhas sabe por experiência própria como os anos são sempre diferentes, sabe como as surpresas são uma constante da vida, por vezes agradáveis por vezes madrastas, obrigando a um estado de desassossego permanente.
Até que a vindima esteja completamente terminada, até sentir a segurança de ter a produção recolhida na adega, nenhum produtor consegue dormir descansado e poucos conseguirão esconder o sobressalto que entretém o espírito. Olhar para o céu, espreitar continuamente para as sempre incertas previsões atmosféricas, controlar maturações, controlar a entrada de uva e conseguir governar os mapas complexos da gestão de espaço de uma adega passam a ser o dia-a-dia de qualquer enólogo e produtor. Por vezes a natureza ajuda a suavizar as muitas preocupações levantadas pela vindima oferecendo indícios de um ano excepcional, por vezes a natureza exacerba as apreensões com a perspectiva de uma vindima adversa.
Apesar de todas as aflições manifestadas ao longo do ano, apesar da soma de tantos sinais pessimistas que a natureza se foi encarregando de insinuar, a vasta maioria dos produtores suspira de alívio agora que grande parte das fermentações já terminou com resultados muito agradáveis. O sorriso no rosto é a nota dominante e o aroma nas adegas não deixa esconder que as esperanças numa colheita épica são fundadas e mais ou menos generalizadas.
E no entanto todas as previsões apontavam para um desfecho bem mais sombrio. A seca foi uma constante e a falta de água uma dor de cabeça que confundiu de igual forma quem não tinha rega e quem dispunha de irrigação na vinha. A seca foi tão violenta que mesmo quem dispunha de charcas ou de barragens privadas acabou cedo por se ver na iminência do descalabro ao ver esses depósitos esvaziar-se a uma velocidade desconcertante.
Associado à seca despertou uma Primavera ferozmente quente com registos de temperatura pouco habituais e que em alguns meses chegaram a bater as marcas mais elevadas de que existem cadastros.