Fugas - Vinhos

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O Ventozelo mostra os primeiros sinais da sua fibra

Por Manuel Carvalho

A imponente Quinta do Ventozelo já fornece matéria-prima para os vinhos do grupo Gran Cruz desde 2011. Mas só depois da sua aquisição aos galegos da Proinsa é que o grupo iniciou uma estratégia que pretende levar os Ventozelo ao topo do Douro. As estreias de 2014 prometem.

Na curva do rio que fica logo a seguir ao Pinhão no sentido da nascente do Douro, ergue-se um enorme anfiteatro de vinhas onde qualquer enólogo ou viticultor gostaria de actuar. A Quinta de Ventozelo tem 400 hectares de área total, e pouco menos de 200 são ocupados pelo vinhedo. Ali, há condições para qualquer grande criação: Porto ou DOC Douro, brancos ou tintos. Os ingredientes abundam: vinha velha e vinha nova, castas autóctones com pequenas parcelas de Syrah (a plantação de Cabernet Sauvignon foi arrancada), castas tintas e castas brancas (12 hectares, no total), exposições à luz do sol para todos os gostos, vinhas em lugares mais quentes junto ao rio ou mais frescas a 600 metros de altitude.

Com tanto potencial e tanta diversidade, o Ventozelo, uma das maiores e mais imponentes quintas durienses, tornou-se a chave com que a Gran Cruz pretende mudar definitivamente uma página da sua história, deixando de apostar no volume para se tornar um dos emblemas da qualidade do Douro em vinhos DOC ou nos Porto de categorias superiores. “Queremos ser uma referência da região e produzir vinhos de classe mundial”, diz Jorge Dias, o administrador da empresa detida pela multinacional francesa La Martiniquaise. Os primeiros passos estão já a ser dados e as expectativas para os próximos anos são muitas.

A Gran Cruz já trabalha com matéria-prima do Ventozelo desde 2011, quando os seus anteriores proprietários, os galegos da Proinsa, desfizeram um negócio com a Real Companhia Velha, reassumiram a propriedade plena da quinta e contactaram Jorge Dias e a sua equipa para explorar a sua produção. Na altura, porém, o contrato feito entre franceses e galegos assentava em bases conjunturais. E a Gran Cruz não tinha condições para fechar o ciclo produtivo, desde a vinha até ao estágio dos vinhos. Para o conseguir, a empresa fez um enorme investimento numa adega moderna em Alijó (rondou os 14 milhões de euros). A adega foi inaugurada em 2014, mas “só este ano” entraram “no ano ‘um’ de produção”, diz José Manuel Soares, o enólogo-chefe da empresa.

A compra do Ventozelo foi a peça que fez, para já, fechar o ciclo de investimento dos franceses. A Gran Cruz, maior exportadora de vinho do Porto em volume (23% do mercado), quer reposicionar-se. Foi com esse objectivo que Jean-Pierre Cayard, filho do fundador do grupo, contratou Jorge Dias, em 2009, para executar o projecto. A produção do Ventozelo, combinada com as entregas de uma rede de mais de 3000 produtores locais, permite conceber uma estratégia para os diferentes segmentos do mercado, desde a base até ao topo. A Gran Cruz será a marca de acesso nos Porto, dispondo para isso de um potencial de armazenamento de vinhos na adega de Alijó que ronda os 22 milhões de litros; a Dalva será a marca premium e a Quinta do Ventozelo a superpremium, diz Jorge Dias. Para lá das novas produções, o grupo tem uma herança de vinhos do Porto com alguns vinhos fora de série: o Colheita de 1985 da Gran Cruz é magnífico e os Dalva Porto Branco (Golden White) de 1963 ou de 1971 são extraordinários.

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