Fugas - Vinhos

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O novo Alentejo visto a partir do Arrepiado Velho

No final de 2004 as plantações estavam concluídas. Estava na hora de escolher um enólogo para preparar a primeira vindima, que se anunciava logo para 2005. Inicialmente, a família proprietária pensou em recorrer a um dos consultores com nome firmado na nova geração de vinhos alentejanos, mas David Booth sugeriu que entrevistassem um jovem ousado e irreverente que estava a começar a sua carreira na região. “Depois de falar com o António Maçanita, a minha mãe ficou imediatamente convencida”, recorda António Antunes. Seria ele o dono do lugar. Ao mesmo tempo, a imagem de marca começou a ser trabalhada, ao nível do logotipo e dos rótulos, mas neste domínio as primeiras encomendas ao exterior não passaram na avaliação dos donos.

A solução acabaria por ser encontrada dentro de portas. Marta Neto, a mulher de António que tinha acabado o seu curso de design, apresentou uma ideia que acabou por ser escolhida. Arrepiado é o nome que a população local dá a um pássaro e Marta estilizou uma imagem de duas aves simulando um beijo. Os rótulos com este conceito colocaram as garrafas da Arrepiado Velho entre as mais belas e sedutoras imagens de marca do vinho nacional. A revista americana The Coolfit haveria de colocar os seus rótulos entre os 30 melhores do mundo.

Quando as primeiras 3000 garrafas da Arrepiado Velho chegaram ao mercado, o sucesso foi imediato. Até ao Natal, todas tinham sido vendidas. Este sucesso, porém, era mais aparente do que real. “Nesse ano pensámos que o negócio seria fácil”, recorda António. Não foi. Vender 3000 garrafas não é o mesmo que vender 50 mil, como muitos investidores de outras áreas de negócio que apostaram no vinho vieram a descobrir. Sob a batuta de António Maçanita, os vinhos começavam a mostrar conceito e qualidade, como ainda hoje o comprova o Collection de 2008, um tinto com um excelente aroma de fruta preta, um balanço notável, taninos finos e elegantes e uma acidez que lhe empresta uma atraente frescura. Mas havia reveses com os quais a família teria de se confrontar. Em 2011, por exemplo, um ataque de míldio quase que arrasou a produção. Para agravar o cenário, os negócios principais da família corriam mal. A Arrepiado Velho precisava de uma gestão mais permanente e presente. É então que António pega na sua família, deixa o Norte do país, esquece o surf e vai viver com a sua mulher para a herdade. Chegara a hora do tudo ou nada.

Desde então, a situação da empresa estabilizou. Os seus vinhos afirmaram uma personalidade, marcada pela elegância e pela frescura, o seu portefólio varia entre blends de reservas, varietais e propostas fora da caixa como o Brett Edition, no qual a equipa de enologia deixa desenvolver (em doses muitíssimo moderadas, note-se) um fungo que dá origem a aromas que sugerem o suor de cavalo – este vinho é um dos grandes sucessos da casa. Com António a tempo inteiro na parte comercial, na adega e na vinha (onde conta com a colaboração do viticultor Nuno Ramalho), as vendas não pararam de crescer. Este ano, foram colocadas 70 mil garrafas no mercado, das quais, entre 70 e 80% foram para o estrangeiro, com destaque para o Brasil, Angola e Canadá. Ainda em 2015, os vinhos reserva da casa estão esgotados. Os vinhos da Arrepiado foram listados numa grande central de compras no Japão, o que, a prazo, pode garantir o escoamento de 20 ou 30 mil garrafas por ano, acredita António Antunes.

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