Fugas - Vinhos

  • Nelson Garrido
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François Chasans, o francês que se apaixonou pela Bairrada

Recentemente, aproveitou a sua entronização como confrade dos enófilos da Bairrada para dizer o que pensa. Lembrou, a começar, que o último concurso dos melhores vinhos da Bairrada, organizado pela comissão vitivinícola regional, atribuiu a mais alta distinção a um vinho tinto de oito meses. “Um Baga tradicional não tem hipóteses nenhumas neste concurso. Mas há pior. Um Merlot foi eleito o melhor vinho do ano. Que imagem querem dar aos enófilos do mundo?”, questionou no seu discurso, lembrando que “um Merlot é um Pomerol e um Pinot Noir é um Nuits-Saint-Georges”, “vinhos de emoção adaptados aos seus terroirs”, que é o que acontece com a Baga em relação à Bairrada. “Portugal possui uma das maiores colecções de castas autóctones do mundo. Temos de nos servir deste tesouro para afirmar a nossa identidade”, defendeu.

François deu também o exemplo do novo Espumante Baga, com o qual a comissão vitivinícola espera um acréscimo de produção superior a 250 mil garrafas. “Mas como é que querem construir uma imagem com um produto que tem nove meses de cave no mínimo? Um estágio de três anos seria mais ambicioso. Façam só 20 mil garrafas da mais alta qualidade para começar”, desafiou, defendendo que a Bairrada, bem como o resto do país, só se poderá afirmar pela diferença, nunca pela quantidade. “A Romanée-Conti produz apenas seis mil garrafas”, lembrou, a propósito.

Do seu Quinta da Vacariça, François Chasans produz ainda menos (a quantidade de uvas não chega sequer aos cinco mil quilos). E, do pouco que produz, não tem vendido muito (em Portugal, o vinho está disponível em duas ou três garrafeiras e num ou noutro restaurante). A sua ideia é vender 80% do vinho no estrangeiro. Um seu amigo garante que até já tem paletes feitas para vender mais tarde em certos mercados. Aos 59 anos, François Chasans não tem pressa. Os Baga precisam de tempo em garrafa e o seu primeiro vinho, o Quinta da Vacariça 2008, um tinto imponente, tânico e com uma acidez soberba (um pouco menos maduro do que o 2009, mais civilizado nesta fase), ainda tem pelo menos “20 anos pela frente” (está à venda a 48 euros na Garrafeira Nacional). François sabe melhor do que ninguém que os grandes vinhos demoram muito tempo a fazer. O que custa são os primeiros 150 anos, como diriam os Rothschild.  

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