Fugas - Vinhos

Paulo Pimenta

O estranho mundo do vinho

Por Rui Falcão

Portugal, estatisticamente o grande país produtor de vinho mais fragmentado na produção, vive dividido num número infindável e de quantificação duvidosa de minúsculos produtores.

Por vezes parece que o mundo do vinho se movimenta num universo paralelo onde a lógica raramente impera e onde a racionalidade não faz parte dos requisitos vitais para a tomada de decisões.  

Por vezes parece que as decisões são casuísticas e desprovidas de estratégia, assentes mais no voluntarismo que em planos reflectidos e acompanhamentos claros das estratégias definidas.

Para tal contribui o facto de o universo do vinho se encontrar tão pulverizado em milhares de pequenas e pequeníssimas empresas, literalmente, muitas delas de cariz familiar e desprovidas de ambição. Uma realidade que é relativamente comum nos vários países produtores mas que atinge o seu zénite em Portugal, estatisticamente o grande país produtor de vinho mais fragmentado na produção, dividido num número infindável e de quantificação duvidosa de minúsculos produtores.

Pelo contrário, os grandes rivais do mundo do vinho, as empresas cervejeiras e as empresas de bebidas espirituosas são grandes conglomerados financeiros, empresas dominantes e muitas vezes multinacionais que, para além de um poderio financeiro invejável, definem estratégias coerentes e estáveis, patrocinam festivais mediáticos, eventos e equipas desportivas, dispõem de uma logística de distribuição poderosa que muitas vezes consegue forçar contratos exclusivos, empresas dinâmicas e com capacidade para investir somas consideráveis em campanhas publicitárias visíveis e duradouras.

Face a esta evidência, o mundo do vinho parece um anão. Sim, é verdade que se agruparmos todos os produtores de vinho do mundo os números passam a ser impressionantes. Sim, é verdade que, mesmo se combinarmos apenas os produtores de Portugal, os números continuam a ser impressionantes. O verdadeiro drama é que os números não podem ser consolidados porque a realidade revela um panorama radicalmente diferente, uma dispersão total que faz com que os dez maiores produtores de vinho em Portugal correspondam a menos de um quarto da produção total nacional. Números que impressionam ainda mais quando comparados com o Chile, país onde os cinco maiores produtores correspondem a um pouco mais de dois terços da produção total do país.

Esta é a realidade e não há muito que se possa fazer para reformar um sector tão dividido na produção e na viticultura com uma propriedade média tão parcelada. Por isso, e conhecendo esta realidade tão particular, muitas das propostas apresentadas dificilmente terão hipótese de sucesso. O mundo do vinho olha com demasiada frequência para o universo da cerveja e das bebidas espirituosas procurando soluções ou caminhos alternativos que pudessem emular um modelo considerado de sucesso. O problema é que as armas não são iguais e as realidades ainda menos iguais são.

Ao contrário do universo da cerveja, os produtores de vinho não conseguem celebrar acordos de exclusividade com a restauração ou hotelaria, não conseguem oferecer copos, caves com temperaturas de serviço, mobiliário, máquinas ou demais formas de pressão comercial. Ao contrário do universo da cerveja, os produtores de vinho competem por um lugar nas cartas de vinho de cada restaurante, competem pelo espaço em prateleira de supermercados com centenas de outros rótulos.

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