Fugas - Vinhos

Paulo Pimenta

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O estranho mundo do vinho

Pior, cada produtor apresenta um número infinito de rótulos e referências, com frequência muitos mais do que deveria, existem dezenas de regiões e sub-regiões para conhecer, memorizar e compreender, dificultando o entendimento do vinho face ao mundo da cerveja nacional que é ao mesmo tempo tão poderosa, clara e virtualmente isenta de confusões.

Por isso, não se podem nem se conseguem estabelecer paralelismos entre os mundos do vinho e da cerveja e por isso o que funciona tão bem para a cerveja e bebidas espirituosas não é necessariamente apropriado ou adaptável para o vinho. Mais que pretender copiar o que outros mais ricos e poderosos fazem, o universo do vinho deveria começar por se compreender a si próprio, por aceitar a sua realidade, procurando encontrar formas de solucionar os seus problemas.

Uma das medidas óbvias seria o associativismo, não necessariamente na versão mais simples e tradicional do cooperativismo, mas no enquadramento da união de esforços, da simplificação de processos, na partilha de custos, na união de esforços. Projectos como por exemplo a Lavradores de Feitoria, uma associação de dezenas de pequenos produtores do Douro que decidiu compartir custos numa união voluntária onde existe uma só adega, um só enólogo, uma só equipa de gestão. Ou projectos como os Douro Boys e Independent Winegrowers, que criaram uniões informais que agregam um conjunto limitado de produtores que partilham recursos e custos na promoção dos vinhos nos principais mercados internacionais.

Mas se o associativismo é uma das medidas mais evidentes para ajudar o sector do vinho, embora tão pouco praticada num Portugal que sempre privilegiou o individualismo em detrimento do colectivo, a imaginação não se esgota aí. A simplificação é outra das necessidades, uma realidade que, apesar de parecer óbvia, está longe de ser assimilada pelo mundo do vinho. Na verdade, assiste-se hoje a um movimento contrário numa tentativa estranha de aprofundamento da complexidade começando a falar de sub-regiões que a maioria nem sabia que existiam.

Num mundo apressado que valoriza o Twitter, que raramente quer perder tempo para aprofundar conhecimentos e em que a maioria escolhe um vinho com o mesmo empenho com que escolhe um detergente ou uma pasta dentífrica, não será um erro aumentar o grau de confusão? Quando ainda lutamos para que um norte-americano, um alemão ou um brasileiro reconheça os nomes Alentejo, Dão ou Setúbal, faz sentido perder tempo com um degrau extra de confusão?

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