Fugas - Vinhos

  • Domingos e Tiago Alves de Sousa
    Domingos e Tiago Alves de Sousa
  • Gaivosa
    Gaivosa
  • Vinha do Abandonado
    Vinha do Abandonado
  • Quinta da Gaivosa Porto Vintage 2013
    Quinta da Gaivosa Porto Vintage 2013
  • Quinta da Gaivosa Tinto 2011
    Quinta da Gaivosa Tinto 2011

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O futuro dos Alves de Sousa está no regresso ao passado

Sobe-se a encosta adjacente à Gaivosa e no cume vê-se o espectáculo do Douro histórico. Domingos ainda se lembra dos dias em que uma legião de trabalhadores desmontou a montanha e plantou a vinha das Carvalhas. Situada a 430 metros de altitude, a vinha conservou a face que a família lhe concedeu há uns 60 anos. Ao fundo corre o rio Corgo e muito perto estende-se uma plantação nova de Horta Osório - a antítese das Carvalhas, com os seus patamares gigantescos e um seu sistema de rega estranho numa numa região onde chove quatro vezes mais do que no Douro Superior. Caminhando pela cumeada da montanha que divide a encosta da Gaivosa dos declives que correm para o Corgo, nota-se que a vinha do Alto é bem mais jovem (pouco mais de seis anos) mas manteve o figurino das vinhas tradicionais.

Continua-se e descobre-se o Abandonado, uma vinha velhíssima, com quase 50% de falhas impossíveis de reparar por ser necessário usar explosivos ou buldózeres para fazer a replantação. A vista da vinha faz justiça ao seu nome. É um pedaço de resistência de um Douro frágil e antigo, quase um arcaísmo. Tiago chegou a pensar na sua reestruturação. Mas teve a boa ideia de fazer dali um vinho antes de avançar. O resultado foi a criação de um dos mais poderosos ícones do vinho nacional dos últimos anos.

Logo abaixo da vinha de Lordelo, outro dos prédios com direito a um vinho de marca própria, há uma nova vinha em reconstrução e, mais uma vez, Tiago e Domingos Alves de Sousa contrariam a corrente. Em vez de enxertos prontos comprados em viveiristas, plantaram aí bacelos nos quais em breve hão-de enxertar varas colhidas nas suas vinhas mais velhas – a excepção foram alguns enxertos prontos com a casta Touriga Franca, porque a ideia é conservar a identidade do local. Porquê? “O que nós mais procuramos é o carácter varietal [a identidade de cada casta] e o carácter da vinha”, explica Tiago.

Gaivosa, Vale da Raposa, Abandonado ou Vinha do Lordelo são vinhos que exprimem essa identidade e esse carácter. Cada vinha tem a sua própria natureza, que depende da sua idade, da sua altitude – questão crucial numa zona “onde passamos uma curva e a temperatura sobe dois graus”, como nota Domingos Alves de Sousa -, das suas castas e da sua exposição ao sol. Se há vinhos de terroir em Portugal, os vinhos desta família estão seguramente entre os mais genuínos e consistentes.

Mais um Gaivosa para a posteridade

O Quinta da Gaivosa de 2011 está a chegar ao mercado. E promete tornar-se um novo ícone da casa, mesmo que seja difícil repetir a proeza do genial 1995 ou o soberbo 2003. Mas sabe-se que a Gaivosa faz grandes vinhos nos anos vintage (o que nem sempre acontece com os DOC Douro provenientes das zonas mais quentes junto ao rio) e 2011 não é excepção. Este Gaivosa é um vinho que irradia impressões balsâmicas (caruma, aromas de bosque), fruta preta elegante e sofisticada, onde tudo parece situar-se em proporções perfeitas. A origem em vinhas com mais de 80 anos, onde dominam as castas Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinto Cão, confere-lhe elegância, profundidade e grandeza e a altitude e exposição garantem-lhe uma notável graça e frescura natural. É um vinho com uma profundidade e complexidade extraordinários. (Preço: 34.90; Classificação: 96 pontos)

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