Fugas - Vinhos

Adriano Miranda

Copos, cheiros e serviço

Por Rui Falcão

Gosta de vinho, ouviu sugestões sobre a necessidade de ter copos apropriados e finalmente decidiu dar o passo decisivo de investir num conjunto de copos razoáveis para melhorar a apreciação do vinho.

Embora raramente se justifique comprar copos especializados e diferenciados para cada estilo de vinho, sejam eles brancos, tintos, espumantes e vinhos fortificados, ficou a saber que um bom par de copos é indispensável para a fruição do vinho.

Ou seja, neste momento tem copos adequados para o serviço do vinho. Muito provavelmente terá também investido, ou estará a considerar o investimento, num decanter para aqueles vinhos ou momentos especiais que justifiquem a sua utilização. Ganhou consequentemente um mundo de vidro ou cristal, consoante o investimento feito, um universo que carece de manutenção e cuidados redobrados. Tratar de copos e decanters é uma tarefa simples e rotineira sem grandes exigências mas que merece algum cuidado e prudência na execução.

Primeiro cuidado a ter, imaculabilidade aromática dos copos. Tenha em consideração que tanto o vidro como o cristal absorvem facilmente todo o tipo de aromas, podendo dessa forma arruinar o prazer da prova. Como todo e qualquer enófilo rapidamente se apercebe, guardar copos ou decanters nas caixas de cartão originais é sinónimo quase imediato de um copo ou decanter com um profundo e intenso cheiro a cartão. Da mesma forma que guardar copos e decanters em armários, por mais arejados e limpos que estes estejam, representa quase de imediato uma concentração de aromas pouco recomendáveis que são vulgarmente conhecidos como “cheiro a armário”. Por isso, copos e decanters devem ser preferencialmente guardados de pé no armário, com a boca virada para cima de forma a minimizar a concentração de odores no copo. Mesmo assim, caso não use os copos diariamente, será provável sentir necessidade de lavar copos antes de cada utilização.

Lavagem que nem sempre é uma tarefa pacífica, sobretudo se investiu em copos de cristal de perfil muito fino. Com o uso, copos e decanters sujam-se com manchas de calcário e vinho, obrigando a cuidados de limpeza muito particulares. Por um lado, a evaporação do vinho no fundo de copo provoca a aparição de anéis de sedimentos que são particularmente visíveis nos vinhos tintos e nos vinhos fortificados da família dos Porto, Madeira e Moscatel. Estes resíduos nem sempre são fáceis de limpar e podem em casos extremos ter consequências fatais para o brilho e clareza do cristal. Para que tal não aconteça, habitue-se a lavar rapidamente os copos após a utilização, tarefa que nem sempre é fácil de executar depois de um jantar longo. Por isso, e caso decida deixar as limpezas para o dia seguinte, não se esqueça de acrescentar um pouco de água no fundo de cada copo antes de apagar a luz, impedindo que os resíduos sequem, colando-se ao vidro.

Lembre-se que para lavar copos e decanters necessita apenas de água, muita água, preferencialmente morna ou quente. Por regra não precisa de usar detergentes na lavagem, excepto obviamente se os copos estiverem encardidos ou demasiado sujos para serem lavados só com água. Na verdade, não precisa de se preocupar em demasia, podendo até lavar os de vidro na máquina da loiça, desde que tenha o cuidado de não usar detergentes perfumados. Já os decanters não devem ser lavados com detergente sob qualquer circunstância, já que por regra têm uma boca demasiado fechada que concentra aromas e não permite que o detergente seja completamente eliminado. Os detergentes domésticos são de difícil remoção, interagindo de forma misteriosa com o cristal e o vidro. Um copo mal lavado, em que o detergente não tenha sido convenientemente eliminado, poderá conduzir a resultados estranhos. Se pretender que os seus copos ganhem um brilho extra, experimente colocar os copos de boca para baixo sobre vapor de água muito quente. Verá que o copo passa a revelar um brilho extra.

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