Fugas - Vinhos

Barca Velha foi uma das estrelas da prova

Barca Velha foi uma das estrelas da prova Adriano Miranda

Uma prova com “grandes vinhos” que “são património” do país

Por Alexandra Prado Coelho

O crítico Fernando Melo conduziu uma prova excepcional, antecipando o festival Wine&Food que decorre este fim-de-semana em Lisboa.

O BPI Wine&Food, mostra de vinhos e gastronomia com produtores de todo o país e vários workshops e sessões de cozinha ao vivo, decorre no Pátio da Galé, em Lisboa, entre sexta e domingo. Mas, na quinta-feira à noite, numa antecipação do evento (uma organização da CofinaEventos e do BPI), o crítico de vinhos Fernando Melo apresentou a um número restrito de convidados uma excepcional prova de vinhos na Pousada de Lisboa, a dois passos do Pátio da Galé. Os organizadores pretendem que este jantar se repita nas próximas edições, alargando-se a mais participantes, mas mantendo o seu carácter de momento único.

E foi um momento único para o próprio Fernando Melo, que contou como há muito tem vindo a fazer listas daqueles que considera serem os grande vinhos portugueses de sempre. Não os “vinhos fantásticos, que conseguem classificações meteóricas nas revistas”, mas “os grandes vinhos, que é uma coisa muito diferente” porque são aqueles que “contam uma história, têm uma matriz, um passado e são património”. Mas as listas nunca se tinham transformado numa prova, o que aconteceu na quinta-feira pela primeira vez.

“Trata-se de anos muito específicos de vinhos muito específicos”, salientou o crítico, que os considera fundamentais para compreender o que se faz hoje em Portugal no mundo dos vinhos. E, por serem tão complexos, não se tentou sequer fazer uma harmonização com a comida. “Isso exigiria meses de trabalho”. Houve, por isso, um menu normal e Fernando Melo aconselhou a que os vinhos fossem apreciados com toda a descontracção.

Começou por um Frei João 1974, uma garrafa antiga que nem especificava as castas no rótulo. De cor dourada e, naturalmente, aromas evoluídos, mantém uma frescura que surpreende. Tal como o segundo vinho servido (ambos acompanhados por um creme de cogumelos com nata fresca e cerófilo), mais recente, um Dona Paterna 1998, Alvarinho, daquela que é “a marca mais antiga de Vinho Verde”, explicou Fernando Melo.

Vieram depois dois tintos, um Quinta do Mouro (Estremoz, Alentejo) e um Quinta das Bageiras (Bairrada), ambos de 1995, que “foi um ano muito importante, o ano da pré-história do vinho português”, disse o crítico, lembrando que a revolução que transformou o panorama em Portugal no que ao vinho diz respeito “tem apenas vinte anos”. Fernando Melo aproveitou também para explicar que “há um parâmetro complexo para medir um vinho, que é a frescura, e que não tem nada a ver com o nível de álcool”. O trabalho da Quinta das Bageiras mostra o momento em que a até então difícil casta Baga “inaugura o estilo bebível”.

Estávamos já no prato principal – supremo de pintada e queijo brie com risotto de cogumelos – e chegaram às mesas outros dois tintos, Quinta do Ribeirinho 1996 e um Barca Velha de 1966. O primeiro mostra o que é o resultado de uma vinha de pé franco, ou seja, que não precisou de enxerto por ser anterior à praga da filoxera que arrasou com as vinhas no final do século XIX. E que, além disso, tem “aromas de folha de eucalipto” por estar situada num eucaliptal muito batido pelo vento.

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