Nas clássicas caves, a vida é claramente agora outra, não só com a reconversão tecnológica mas também com a qualificação dos técnicos, que tornaram possível o controlo de todo o processo de produção. O trabalho começou nas vinhas próprias, com o conhecimento aprofundado de castas e territórios e continuou nas adegas. Na mudança estiveram casas históricas como as Caves S. João, São Domingos, Montanha, Primavera ou Aliança, que deixaram de alimentar a produção com vinhos comprados a granel, a que se associam produtores de nova geração como as casas Campolargo, Colinas de S. Lourenço e, mais recentemente, a Rama & Selas. Ou ainda o assinalável exemplo de consistência que constitui a Adega Cooperativa de Cantanhede. E, claro, produtores empenhados numa procura de identidade e carácter, como são os casos da família Pato - Luís, o pai, e a filha Filipa -, ou a Quinta das Bágeiras.
É neste contexto de renovação e orientação para a qualidade que a Baga emerge como casta com potencial identitário e como símbolo da ideia de Bairrada. A Baga há muito que se estava a impor pelo carácter extraordinário dos seus vinhos tintos, excelentes para envelhecer em garrafa. Mas sabe-se também que a sua maturação tardia levanta problemas à agricultura e faz com que as suas qualidades só se revelem por completo nos anos em que a vindima se faz antes da chegada das chuvas. E essa não é, claramente, a regra.
Para os produtores, o projecto Baga Bairrada dá uma ajuda a superar esse constrangimento. Uma vez que o grau de maturação das uvas para se fazer espumante é menor do que, por exemplo, para os vinhos tintos, os produtores têm mais possibilidades de fazer a vindima antes das chuvas, correndo assim menos riscos. Depois de vindimarem a uva Baga para espumantes, podem esperar mais alguns dias ou semanas pela maturação ideal e pelo clima apropriado para fazerem os grandes vinhos tintos.
E no que respeita à qualidade, Luís Pato não tem dúvida de que “acabará por ser uma exigência do mercado”. Até porque “se a Baga que se produz é demasiada quando pensamos em vinhos tintos, é já muito pouca quando pensamos na produção de espumantes”. E o presidente da CVRB explica que “no último ano já houve quem não tivesse conseguido encontrar varas de Baga para plantar”, sintoma da confiança e do regresso da Baga como a casta que identifica a região.
Luís Pato considera que “o projecto é uma excelente forma de valorizar a Bairrada”, vendo-o também como mais um efeito da acção dos Baga Friends. “Para mim é até um orgulho, depois de 30 anos contra a corrente a defender a Baga”, sublinha, confessando nunca ter acreditado “que fosse possível em tão pouco tempo inverter o ciclo da Baga”. E esse é, por enquanto, o maior feito para Pedro Soares: “Conseguiu-se já inverter o ciclo de abandono e arranque de Baga”.
O número de produtores de qualidade que recorrem à Baga para a produção de espumantes não tem parado de aumentar. Por vezes, a Baga é associada a castas brancas típicas da região. Mas é crescente a aceitação e reconhecimento dos blanc de noir (brancos de uvas tintas) produzidos em exclusivo a partir da casta emblemática da região. Além da estrutura e complexidade aromática, os Baga caracterizam-se também pela cremosidade, mineralidade e boa apetência gastronómica.