Mas, para além das variedades tradicionais da ilha da Madeira, sobram ainda algumas castas extraordinárias, que infelizmente estão virtualmente extintas na ilha. Num espírito mais optimista da vida, assiste-se hoje ao reforço de plantação do Terrantez e a um suave despertar do Bastardo, duas das variedades mais interessantes e relevantes do Madeira. Por ora continua a perder-se pouco tempo e esforço com a Malvasia Cândida, variedade de origem levemente misteriosa que esteve na fundação do nome e prestígio dos vinhos da Madeira. Que neste momento exista em produção regular uma única vinha desta casta na ilha é motivo simultaneamente de preocupação e perplexidade face ao potencial das virtudes desta casta única. Sim, a viticultura é absolutamente desesperante e não há muitos locais físicos onde a plantar… mas não será fácil conter o espanto perante a falta de motivação de viticultores e produtores para a recuperar de uma forma mais activa.
Estranhamente, embora se percebam alguns dos fundamentos, o Moscatel é encarado como uma casta autorizada mas não recomendada, uma casta excluída da promoção e da produção, relegada para um papel mais que secundário na vinha e no vinho. O que, sinto necessidade de o salientar, me parece espantoso face à qualidade e estilo ímpar que a variedade proporciona na Madeira. Sim, é verdade que existem vinhos Moscatel em muitas paragens no mundo, e que o nome está banalizado, mas os velhos Frasqueira Moscatel da Madeira que tenho tido a ventura de provar têm-se sempre apresentado magníficos, sumptuosos, ricos e frescos sem demonstrar nenhum dos tiques varietais da casta, afirmando-se como exemplares excelentes de Vinho da Madeira.
O Vinho da Madeira é e será sempre um vinho de nicho, um vinho para especialistas e apaixonados, um vinho de convertidos à causa. Não há que ter ilusões a esse respeito e dificilmente poderia ser de outra forma, até pela escassez de produção. Nem poderia ser de outra forma face aos custos elevados, à especificidade da insularidade, à dimensão da Madeira, à escala da vinha e ao número muito limitado de produtores no activo. É um vinho rico e intelectual, um dos melhores do mundo, um vinho eterno e poderoso. Ainda está à espera para o comprovar?