Fugas - Vinhos

Fabrizio Bensch/Reuters

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Madeira e outras perspectivas

Mas, para além das variedades tradicionais da ilha da Madeira, sobram ainda algumas castas extraordinárias, que infelizmente estão virtualmente extintas na ilha. Num espírito mais optimista da vida, assiste-se hoje ao reforço de plantação do Terrantez e a um suave despertar do Bastardo, duas das variedades mais interessantes e relevantes do Madeira. Por ora continua a perder-se pouco tempo e esforço com a Malvasia Cândida, variedade de origem levemente misteriosa que esteve na fundação do nome e prestígio dos vinhos da Madeira. Que neste momento exista em produção regular uma única vinha desta casta na ilha é motivo simultaneamente de preocupação e perplexidade face ao potencial das virtudes desta casta única. Sim, a viticultura é absolutamente desesperante e não há muitos locais físicos onde a plantar… mas não será fácil conter o espanto perante a falta de motivação de viticultores e produtores para a recuperar de uma forma mais activa.

Estranhamente, embora se percebam alguns dos fundamentos, o Moscatel é encarado como uma casta autorizada mas não recomendada, uma casta excluída da promoção e da produção, relegada para um papel mais que secundário na vinha e no vinho. O que, sinto necessidade de o salientar, me parece espantoso face à qualidade e estilo ímpar que a variedade proporciona na Madeira. Sim, é verdade que existem vinhos Moscatel em muitas paragens no mundo, e que o nome está banalizado, mas os velhos Frasqueira Moscatel da Madeira que tenho tido a ventura de provar têm-se sempre apresentado magníficos, sumptuosos, ricos e frescos sem demonstrar nenhum dos tiques varietais da casta, afirmando-se como exemplares excelentes de Vinho da Madeira.

O Vinho da Madeira é e será sempre um vinho de nicho, um vinho para especialistas e apaixonados, um vinho de convertidos à causa. Não há que ter ilusões a esse respeito e dificilmente poderia ser de outra forma, até pela escassez de produção. Nem poderia ser de outra forma face aos custos elevados, à especificidade da insularidade, à dimensão da Madeira, à escala da vinha e ao número muito limitado de produtores no activo. É um vinho rico e intelectual, um dos melhores do mundo, um vinho eterno e poderoso. Ainda está à espera para o comprovar?

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