Fugas - Vinhos

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Um Porto celebrado, que vinha do frio

David Guimaraens assinala que, muito provavelmente, o vinho começou a ser levado para a Terra Nova por uma questão de economia da logística, já que os navios saíam de Portugal habitualmente carregados com sal, essencial para o bem conhecido processo de preservação do bacalhau que os ingleses levavam a cabo na Terra Nova. Os cascos de Porto eram ali armazenados, e se uns saíam quase de imediato para os mercados de destino, é natural que, em anos menos bons, no comércio, algumas pipas tenham ficado mais tempo nos armazéns de Harbour Breton, onde acabaram, então, por sofrer essa paragem na fermentação cujo resultado, depois de reconhecidas quer pela empresa, quer pelos consumidores, foi replicado ano após ano.

Na verdade, ninguém sabe bem como tudo aconteceu, e isso pouco interessa, porque, como nota António Magalhães, as lendas, verdadeiras ou falsas, ganharam vida própria. O que se sabe é que os ingleses, gente letrada, que tomavam conta das instalações dos Newman em Harbour Briton, onde até havia um “clube” de convívio, eram eles próprios apreciadores de Porto, e o mais provável é que, ao acaso, se tenha juntado o engenho humano para transformar uma descoberta num processo de estágio assumido que perdurou até há poucos anos, dando ao mundo um porto afamado: o Matured in Newfoundland.

A Taylor’s continua a produzir o porto que a Newman’s vende. Jean-Pierre Andrieux, que se tem esforçado por manter vivas as relações entre a Terra Nova e Portugal — seja pelos livros que escreve, seja pela homenagem que organizou, no ano passado, aos bacalhoeiros portugueses sepultados em St. John’s — quer mais. O empresário gostava de ver produzida uma edição especial comemorativa desta relação transatlântica, com três ou quatro pipas de Porto que pudessem repetir a viagem de ida e volta entre o Porto e St. John’s, algo que, neste momento, não é legalmente possível. Entretanto, considerando os seus esforços para divulgação desta história que une os dois países, o canadiano vai ser entronizado, já este mês, como cavaleiro da Confraria do Vinho do Porto, decisão que o “deixou muito honrado”, explicou à Fugas.

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