Num jantar com os jornalistas na Fundação Eça de Queirós, em Tormes, Smith recorda 26 de Julho de 2012, o dia em que veio uma nuvem de Espanha e que em quatro minutos o granizo levou 50% da produção. “Nada a fazer.” Este ano também perderam a uva que daria origem ao vinho branco, “foram duas manhãs de geada”, conta, servindo um Avesso 2013, o vinho que “fez a reputação da quinta” desde a década de 1990 – o granito típico da região dos vinhos verdes, bem com o clima mais continental são determinantes para esta casta que precisa muito de sol, explica. “Não aparece noutras regiões do mundo”, assegura.
É também de uma indústria “a céu aberto” que fala Rui Cunha, o enólogo responsável pela Quinta de Covela, durante a apresentação dos vinhos que se podem beber este Verão.
O enólogo pega numa garrafa de Avesso de 2015 (9,50 euros) e serve-a aos jornalistas. É um vinho mais jovem e com maior acidez do que o de 2013, reconhecemos. O avesso é a casta “rainha do vale”, diz, tem acidez, boa estrutura e “potencial de envelhecimento na garrafa”.
“Quando se pensa no vinho verde ou se vai logo para o norte para os alvarinhos, ou para Ponte de Lima com vinhos pouco alcóolicos e com mais gás. De há seis ou oito anos para cá, começou a olhar-se para outras castas da região e ver quais são as mais específicas”, conta o especialista. Assim, no Minho temos os alvarinhos, no centro os loureiros, e em Baião que termina no vale do rio Douro, o avesso, continua.
Os consumidores de vinho verde estão a mudar, acredita Rui Cunha, “um amante da doçura e gás é um consumidor que está a desaparecer e a região está a apresentar vinhos mais característicos e próprios”.
O Avesso de Covela é um vinho de casta única – “fomos os primeiros a pô-lo no mercado”, orgulha-se o enólogo –, que pode ser bebido pré-refeição, com um queijo de cabra ou que acompanha bem uma refeição como as de cozinha asiática, sugere.
Segue-se o Arinto edição nacional 2015 (9,50 euros). É para quem gosta de beber entre dois mergulhos, imagina Rui Cunha. É um vinho leve, mas com potencial de envelhecimento.
Por fim, segue-se um Rosé (11 euros), também de 2015, feito com touriga nacional e com um perfil “mais elegante, austero, com acidez muito presente”, define Rui Cunha, depois de o provar.
Boavista vai chegar ao mercado
Depois da Covela, os dois sócios começaram a procurar um lugar onde pudessem produzir vinho tinto. “Em 2013 estávamos a negociar duas hipóteses”, recorda Tony Smith. As hipóteses eram a Quinta das Tecedeiras, que fica na margem esquerda do Douro; e a Quinta da Boa Vista, mais acima da Covela, ambas no coração da região demarcada do Douro.
A Boa Vista é uma quinta emblemática, datada de 1756 e associada ao barão de Forrester porque pertencia a um amigo dele e mais tarde foi comprada pelos filhos do inglês. Smith nunca pensou que a Sogrape a iria vender, afinal trata-se de uma quinta de onde nunca saíram vinhos próprios, mas cujas uvas faziam vinhos como o Porto Offley, continua Smith.
Os dois sócios nunca pensaram que a Sogrape vendesse os 80 hectares da Boa Vista, por isso, estavam a negociar as Tecedeiras. Acabaram por ficar com as duas. “Honestamente não estávamos à espera, nunca acreditei que iam vender. Na mesma semana tivemos de decidir e achamos que era melhor ficar com a Boa Vista porque ia ser comentado no mercado, era uma jóia e essas não aparecem muito no Douro”, lembra Smith.