Fugas - Vinhos

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O homem que faz gin com uvas em Cognac

Da primeira vez que pensou em colher as flores da videira, em 2004, não sabia ainda o que iria fazer com elas (o primeiro G’Vine sairia para o mercado em 2006). Deixou algumas caixas cheias numa sala, com ar condicionado, durante um fim-de-semana e quando voltou a sala tinha-se enchido de um intenso cheiro tropical. Infelizmente as flores estavam já estragadas. “Mas a emoção provocada por aquele cheiro ficou gravada em mim”, conta. “A flor tem nela o que vai ser o sabor daquelas uvas. E aí podemos distinguir as várias castas, pode ser mais tropical, mais brioche, mais fruta vermelha.”

Depois da infusão, os dois líquidos (o da infusão dos botânicos e o da flor) são novamente destilados para se fundirem. “A destilação é o mais profundo casamento, são dois líquidos que se tornam vapor e que se fundem num único.”

O resultado é o Floraison, um gin de 40º “não apenas elegante mas inimitável”, diz Jean-Sébastien, que recusa a ideia de que, como dizem alguns, este seja um gin mais feminino. Acedeu, no entanto, a fazer outro, um pouco mais forte, para “quem gosta mais de beber o tipo London Dry”. E nasceu o Nouaison (43,9º), feito com a infusão dos pequeníssimos bagos de uva que surgem após a flor. “É a evolução do Floraison, menos floral, mais especiado.”

Com os dois gins percebeu que tinha conseguido um produto único, inovador — que estava no seu “oceano azul”. “Estou a trabalhar para a minha visão, o meu mundo. Sejam bem-vindos ao mundo das uvas. Sejam bem-vindos ao mundo da civilização.”

Garante que é por ter um produto diferente que vai sobreviver à febre do gin tónico que nos últimos anos tomou conta primeiro de Espanha (o melhor mercado para o G’Vine a par da França), depois de Portugal e a seguir de vários outros países. Surgiram entretanto mais de mil marcas de gin. “O que as pessoas querem é que um gin tenha uma história. Quando só ficarem dois ou três, o nosso vai continuar a ter uma história para contar.”

Além disso, acrescenta Jean-Sébastien, há a questão do estatuto. “Quero dar a experiência do luxo numa garrafa a um preço acessível [em Portugal, uma garrafa de G’Vine custa cerca de 40 euros]. Acredito firmemente que o G’Vine é um luxo na categoria dos gins.”

E é por aí que quer conquistar também partes do mundo que não “têm o ADN do vinho”, como a Ásia. Sabe que nesses mercados não pode, como na Europa Mediterrânica, apelar à relação profunda das pessoas com a cultura do vinho e da vinha. “Os asiáticos podem não se relacionar com isso mas relacionam-se com o desejo de ter uma experiência. E com a ideia de estatuto”. Porque, afinal, “os cereais são para o povo, as uvas são para os reis”. E quem melhor do que um “francês arrogante” e charmoso para nos dizer isto?

Um gin vindo do século XV

Antes de se lançar a fazer gin, Jean-Sébastien Robicquet quis estudar tudo o que havia sobre o tema e socorreu-se da ajuda de um especialista, Philip Duff. Num livro sobre a história da genebra (o nome original nos Países Baixos, a partir da palavra juniper/zimbro), encontraram a referência a uma receita datada de 1495. Foram procurá-la e descobriram-na, no holandês original, num manuscrito guardado na British Library.

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