Pode parecer uma excentricidade, mas a ideia é que este venha a ser o vinho ideal para acompanhar o bacalhau do próximo Natal. Esta é, pelo menos, a convicção do produtor e do Clube de Oficiais da Marinha Mercante, que se juntaram para uma experiência que acreditam vai dar o resultado esperado.
A viagem em mar alto é de cerca de quatro meses, tempo em que se espera que o vinho adquira características de evolução que o tornem particularmente adequado para os pratos de bacalhau. A jornada inclui uma paragem na Terra Nova, onde as autoridades locais e o representante da diplomacia portuguesa certificarão a passagem das três mil garrafas deste tinto que terá o rótulo de Poseidon. É o nome do deus dos mares, que deverá abençoar o vinho e também as cerca de 400 toneladas de bacalhau com que o navio Coimbra espera regressar a Aveiro lá para final de Setembro.
Quanto ao vinho, trata-se de um lote especialmente afinado a partir do Lua Cheia em Vinhas Velhas, Reserva Especial 2014. Depois de o terem provado num evento da associação, os oficiais da marinha mercante pensaram num engarrafamento com rótulo próprio para distribuição entre associados.
A ideia de o levar ao mar evoca os “vinhos de volta”, que noutros tempos o acaso tornou mais fortes e complexos os vinhos Madeira. Essa é também a convicção de João Silva e Sousa e Francisco Batista, enólogos da Lua Cheia, que pensam que com a viagem o vinho pode acelerar o processo de envelhecimento em garrafa que o torna mais pronto e afinado.
Depositado nos porões do navio, e com o balouçar das águas, o vinho é sujeito a uma espécie de battônage que lhe pode adiantar a evolução. Também a circulação pela zona da rolha projecta o efeito de mrico-oxigenação, que, em princípio, deverá proporcionar taninos mais polidos e a estabilização da cor. Ou seja, um vinho com características e pronto a fazer bom casamento com os pratos de bacalhau já no próximo Natal.
Com base em vinhas velhas do vale do Pinhão e de zonas mais altas de Murça, o Poseidon associa as características de concentração e frescura que fazem os melhores vinhos do douro. Do Pinhão, de vinhedos na zona de Vale Mendiz, recebe um lote com predominância de Touriga Nacional e consequente poder aromático de potência, equilibrado com o lote de vinhas velhas de Murça, onde dominam castas tradicionais do Douro como a Touriga Franca, Tinto Cão, Sousão e Tinta Amarela, de maior frescura e acidez.
Os vinhos fermentaram em separado e o lote final procurou precisamente o equilíbrio entre concentração e frescura tendo em vista potenciar o efeito de vinho de volta. Para já anda às voltas pelos mares do Norte no bacalhoeiro Coimbra, que saiu de Aveiro no início de Junho e deve regressar em finais de Setembro. Na companhia do bacalhau do qual se espera venha a ser fiel amigo e aliado.