Fugas - Vinhos

Nuno Oliveira

Monte da Penha, vinhos autênticos

Por Rui Falcão

Quando a maioria pensa no Alentejo tem tendência para se refugiar nos estereótipos associados à região, imagens populares de planícies ondulantes, sobreiros, terra plana e soalheira, herdades a perder de vista, verões sufocantes temperados por um povo digno mas sereno.

Quando a maioria pensa em vinho alentejano prontamente saltam os clichés de sempre, apostando em vinhos suaves e aveludados, fáceis e frutados, vinhos sedutores e aprazíveis, cálidos a tender para a voluptuosidade. Desde sempre habituámo-nos a imaginar o Alentejo como uma realidade única, uma paisagem constante e imutável que consagra um estilo de vinhos semelhante e sem desvios drásticos ou discrepâncias assinaláveis.

Dificilmente poderíamos estar mais equivocados. O Alentejo está longe da uniformidade ou monotonia que tantas vezes lhe queremos colar. Falamos de um só Alentejo, quase sempre no singular, quando na realidade deveríamos referir-nos ao Alentejo no plural. Retratamos o Alentejo como o grande Sul, esquecendo-nos que Borba se situa geograficamente a norte de Lisboa ou que Portalegre assenta praça ainda ainda mais a norte que a cidade de Santarém.

Portalegre que se afirma cada vez mais como uma das imagens alternativas do Alentejo, como imagem de marca de um Alentejo fresco e muito mais diversificado do que gostamos de admitir. Entre os produtores clássicos da região de Portalegre conta-se o Monte da Penha, produtor singular que continua a produzir vinhos como poucos outros produtores nacionais e regionais têm coragem de elaborar.

Monte da Penha assim denominado por se situar precisamente numa penha, uma fraga que corta a serra que desaba mesmo junto a Portalegre. Cinco minutos são mais que suficientes para chegar ao Monte da Penha vindos de Portalegre, arribando a uma fraga alfinetada por pedras e pedreiras a céu aberto, terra agreste e austera de solos paupérrimos e inclinações generosas. Solos magros e pedregosos de rendimentos miseráveis, terras pobres e quase sem viabilidade agrícola, condições ideais para o sofrimento da vinha. Terra amena e arejada que, apesar do clima marcadamente continental, delicia-se com o resguardo da altitude e a alegria da água exultando com o amparo refrescante das neblinas e da humidade da serra de São Mamede que se situa mesmo ao lado.

Mas é quase impossível falar sobre o Monte da Penha sem antes aludir à Tapada do Chaves, produtor mítico com tradições e história para contar. Tudo porque o projecto marcadamente familiar teve origem em Francisco Fino, herdeiro da tradição dos vinhos da Tapada do Chaves, propriedade que em tempos esteve na posse da família Fino. Foi o avô de Francisco Fino que, em 1920, plantou as primeiras vinhas, algumas das quais ainda hoje teimam em resistir na Tapada do Chaves contígua ao Monte da Penha.

Francisco Fino decidiu plantar os primeiros treze hectares de vinha no Monte da Penha em 1984, vinhas que durante a primeira década contribuíram para alimentar os vinhos brancos e tintos da Tapada do Chaves até à venda desta, em 1998. Com a carta de alforria face aos novos proprietários, começou então o caminho autónomo dos vinhos do Monte da Penha. Em boa hora o fez, porque os vinhos merecem destaque e exposição pública!

As vinhas mais velhas plantadas no início da década de 1980 acabaram ordenadas de uma forma instintiva, assentando na mesma proporção e escolha de castas existentes à época na Tapada do Chaves. Uma escolha que implicou primazia para a Trincadeira, que surgiu acompanhada por Aragonês, Alicante Bouschet e mais umas pitadas de Moreto a servir de tempero, acrescidas mais tarde por um cheirinho de Touriga Nacional. Nas castas brancas reeditou o encepamento original, dando predominância ao Fernão Pires, Roupeiro e Arinto, acrescidos do condimento exótico da Tamarez, também conhecida como Trincadeira das Pratas.

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