Podia ter inspirado uma das contundentes Novelas do Minho, mas a genialidade de Camilo Castelo Branco teria certamente que incluir hoje uma referência aos vinhos frescos, intensos e frutados que são produzidos na Quinta de Santa Cristina.
A propriedade vem de uma dessas famílias típicas das terras de confluência entre o Minho e Trás-os-Montes que alimentaram as novelas camilianas. Ao filho padre, único herdeiro, sucederiam as sobrinhas, só que o clérigo tinha um filho bastardo, que acabaria de reconhecer em legado testamentário. E mesmo tendo o pecaminoso desvio sacerdotal proporcionado o casamento para uma das três herdeiras naturais, a propriedade acabou fatalmente por ficar retalhada.
O enredo mete ainda uma capela, de Santa Cristina, onde o padre rezava a missa sem necessidade de ultrapassar os muros da propriedade, e tem também um final feliz, já que foi toda essa memória e património que os actuais proprietários se esforçaram por reconstituir. Da unificação da propriedade à reconstrução da capela e muros de delimitação.
O acrescento de uma adega, de recorte moderno e de forte impacto visual, pode até destoar no contexto histórico mas é essencial para a história actual da quinta: a produção de vinhos de qualidade que os mercados, nacional e de exportação, todos os anos absorvem na totalidade.
São à volta de 50 hectares de vinhas com as castas características da região, para uma produção que na última vindima resultou em cerca de 400 mil litros e meio milhão de garrafas vendidas.
Apesar do sucesso da região e das vendas que aumentam ano após ano, é sabido que nos Vinhos Verdes nem tudo é igual e têm medrado também os projectos que apostam em vinhos mais secos e estruturados, fugindo à desgraçada dupla de gás e doçura.
Pelas condições naturais, a sub-região de Basto é das de maior homogeneidade e identidade. Em áreas mais elevadas e enquadrada pelas serranias da Cabreira, Barroso, Alvão e Marão, o clima é mais agreste, com o Inverno frio e chuvoso e o Verão quente e seco, e está resguardada dos ventos e influência marítima, atingindo as uvas melhor e mais equilibrada maturação.
Desde o início do actual projecto, em 2004, que a plantação de Alvarinho foi uma aposta estratégica na Quinta de Santa Cristina, que partilha com o Arinto a primazia do encepamento na propriedade. Também a Azal, Trajadura, Loureiro e um pouco de Fernão Pires entram nos lotes habituais dos vinhos brancos. Para os rosados a base é de Espadeiro e Padeiro de Basto, enquanto o vinhão reina em absoluto nos tintos.
Caso muito particular é o da casta Batoca, uma particularidade da sub-região já quase abandonada e que em Santa Cristina é assumida como uma espécie de símbolo das particulares características das suas vinhas: solos arenosos de origem granítica a proporcionar condições óptimas de maturação.
A enologia está a cargo do reputado Jorge Sousa Pinto, que depois de uma fase inicial em que foi necessário potenciar a produção e ganhar mercado, avança agora para produções mais afinadas e potenciadoras de um outro patamar de qualidade. Os vinhos são mais secos e estruturados, e o conhecimento acumulado sobre parcelas e material vegetativo é uma vantagem. A vindima e vinificação é feita por castas e parcelas, permitindo que os lotes sejam depois feitos em função de objectivos e mercados específicos, o que, não sendo pecado, é sempre bom para o negócio.