O que aconteceu a seguir dependeu do local onde as vinhas estavam instaladas. No Baixo Corgo e no Cima Corgo, a maior parte da produção foi afectada pela instabilidade do tempo e pela precipitação. No Douro Superior, onde as uvas amadurecem mais cedo, boa parte da vindima fez-se em boas condições – quando a chuva se anunciou, a Quinta do Vale Meão já tinha vindimado 85% da sua produção. E mesmo no Cima Corgo, as vinhas nas zonas mais profundas do vale, perto do rio, puderam fazer a colheita em tempo seco – foi o caso da Quinta do Javali, em Nagozelo do Douro, concelho de São João da Pesqueira. No resto da região, os resultados nem sempre foram os melhores, por muito que, como nota Paul Symington na sua memória, nesse ano tenha havido estupendas produções de Touriga Nacional, de Touriga Franca e de Sousão, as castas que, regra geral, fazem a base dos lotes dos Vintage.
Os vinhos de 2014 que foram declarados na categoria Vintage e que entraram nesta prova reuniram no essencial o lado mais positivo do ano. São vinhos nos quais a elegância se sobrepõe à potência, onde a dimensão floral da Touriga ganha peso à expressão da fruta madura e concentrada. São, no geral, Vintage muito apelativos e interessantes, com aromas que sem serem, no geral, prodigiosos pela intensidade, mostram uma dimensão de delicadeza que vale a pena realçar. E são, ao mesmo tempo, vinhos com boa acidez, uma característica fundamental para que possam crescer na garrafa ao longo das próximas décadas. Serão vinhos do outro mundo? A essa questão só o tempo pode responder. Em princípio, serão sempre vinhos magníficos. Estando em causa uma incerteza própria da natureza dos Vintage, o melhor é experimentar e guardar, ficando-se à espera do veredicto do ambiente redutor da garrafa
Quinta do Bom Retiro Vintage 2014
95
Adriano Ramos Pinto
Preço: 56€ (em www.garrafeirasaojoao.com)
Aroma muito aberto, domínio da violeta, boa presença de fruta vermelha madura. Tanino finíssimo mas muito potente. Na boca apresenta-se com uma frescura fantástica e uma dimensão de fruta extraordinária. Acidez e tanino bem conjugado. Um vintage feminino na dimensão da fruta, mas com garra na componente tânica e na acidez. É sem dúvida o mais tenso dos quatro vinhos provados e o que exige mais tempo de garrafa para mostrar todo o seu potencial. Foram produzidas 9000 garrafas.
Quinta do Javali Vintage 2014
93
Quinta do Javali
Preço: 70€
Boa fruta, sugestões balsâmicas (cedro) e vegetais (espargo), notas de terra húmida e de caixa de tabaco. É o Vintage menos previsível na dimensão da fruta e também o menos subtil de todos na sua expressão aromática. Na boca é um vinho gordo, com tanino bem mais temperado do que é normal esperar num Vintage tão jovem, apresentando uma boa envolvência e harmonia. Sedoso, com boa fruta, razoável complexidade. Pensado para ser consumido mais cedo, é um vinho com personalidade própria. Uma agradabilíssima surpresa.
Quinta do Noval Vintage 2014
94
Quinta do Noval
Preço: 95€ (em www.garrafeiranacional.com)
O Noval é um Vintage razoavelmente contido nos aromas. Exige tempo para se abrir e se revelar. Depois, revela-se o mais acentuadamente floral, delicado e fino, deixando no ar aromas de bosque magníficos. Na boca tem o poder dos Noval, mas igualmente a delicadeza. Está longe de ser uma bomba na estrutura ou na acidez, mas não é um Vintage frágil: sua estrutura é evidente e a acidez final vibrante. Mas é pela qualidade da fruta e das sensações que deixa na boca, principalmente no final, que este Vintage merece especial crédito. Produziram-se 12 mil garrafas