A primeira sala marca imediatamente o ambiente acolhedor que se pretende ter no interior (até porque, mesmo neste início ameno de Inverno, o vento frio que sopra no exterior faz-nos já desejar algum conforto). Embalados por madeiras toscas e tons suaves avançamos até ao início da espiral. O material de construção é o betão, mas que aqui foi misturado com terra. “O arquitecto pediu-nos terra da propriedade”, sorri Pedro. “Assim, a adega tem a cor do Freixo.”
Percorremos a espiral, que permite aos visitantes ir espreitando para dentro das zonas de produção sem interferir com o trabalho que aí possa estar a acontecer, sobretudo em época de vindimas. Nas paredes redondas existem aberturas protegidas por vidros ou entradas que ficam suspensas sobre a sala de baixo com as cubas de inox e toda a maquinaria necessária para receber as uvas, separá-las e pisá-las – é utilizado apenas a gravidade para fazer chegar as uvas aos lagares, preservando assim o mais possível o fruto, que é depois pisado por um robot pneumático que replica a pisa a pé.
Percorremos três pisos – o projecto de arquitectura garantiu que toda a adega tivesse luz natural – e chegamos ao fundo da espiral, estamos a 40 metros de profundidade junto à zona onde os vinhos estagiam em barricas de carvalho francês novo. Voltamos a subir para o almoço que é servido numa pequena sala com parede envidraçada e vista para as barricas.
“Queríamos um design arrojado que não podia ficar atrás do que já se vê no mundo inteiro”, explica Carolina Tomé. A arquitectura das adegas é cada vez mais um factor de atracção e este projecto quis claramente apostar nisso – aliás, conta, os primeiros pedidos que receberam para visitas, antes mesmo da abertura, foram de arquitectos e estudantes de arquitectura.
Mas é preciso não esquecer que no centro de tudo isto está o vinho. E, apesar das belíssimas oliveiras com centenas de anos e das azinheiras e sobreiros que vemos no exterior, esta era uma propriedade sem vinha. No entanto, sublinha a directora de marketing, o que poderia ser uma desvantagem pode também ser visto como uma vantagem. “O enólogo pôde escolher a localização e as castas que melhor se adaptavam ao terroir, que aqui tem muito calcário, muito granito, xisto, o que nos permite ter maior acidez na uva.” Existem neste momento 25 hectares de vinha mas o projecto prevê que se chegue aos 23 hectares de castas tintas e 12 de brancas.
O objectivo é fazer vinhos “com um perfil diferente do característico do Alentejo, reunindo o melhor desta região, com muita estrutura e corpo, mas também o melhor dos vinhos do Norte, com a frescura, a elegância, a longevidade”, resume Carolina Tomé.
Para mostrar todo o potencial destes vinhos, o almoço foi cheio de desafios – “ninguém serviria estes pratos com vinho” se não estivesse confiante do resultado, assegurou Pedro. Depois de um queijo de cura longa veio um creme de cogumelos de sabor intenso, uma empada de perdiz e uma sobremesa com marmelo, sendo que, ao contrário do que se esperaria, nenhum dos pratos “matou” o vinho com que foi servido, que foi sempre afirmando a sua personalidade sem, por seu lado, “matar” o prato.