Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

Vinhos espumantes de excelência

Por Rui Falcão

A passagem de ano é o momento que reúne todas as condições para devolver espaço e tempo aos vinhos espumantes.

Celebra-se hoje mais um final de ano, mais um virar de página que representa uma nova etapa na vida dobrando a esquina do renovar de votos de esperança por um ano novo que se aproxima. Passagem de ano onde é apetecível soltar os ventos de ânimo e festejo, nem que seja por um só dia até que a realidade nos force a regressar à rotina do dia-a-dia. Momento que reúne todas as condições para devolver espaço e tempo aos vinhos espumantes, vinhos que, apesar das longas prosas a garantir a sua serventia ao longo do ano, continuam a ser intimamente associados à ideia de celebração, cumprindo o seu fado de comemoração de entrada triunfal no ano novo, vinhos que continuam a estar predestinados ao brinde, à alegria e aos votos de bom sucesso.

Poderíamos até brindar com Champagne, Cava, Sekt, Prosecco ou qualquer dos muitos nomes de vinhos espumantes existentes no mundo. Felizmente tal não é necessário porque os espumantes nacionais estão bem e recomendam-se. É virtualmente impossível perceber as razões para que o chauvinismo português face aos vinhos estrangeiros não se propague ao mundo dos vinhos espumantes. É difícil perceber por que razão depreciamos e desprezamos tanto os vinhos estrangeiros, convencidos que produzimos os melhores vinhos do mundo para depois, quando chegamos aos vinhos espumantes, invertermos o sentimento assumindo que só o que é francês, espanhol ou italiano valerá a pena.

Não faltam os vinhos espumantes nacionais de qualidade. Na sua maioria são originários das regiões mais clássicas e tradicionais no estilo, mesmo se por vezes continuam a surgir agradáveis surpresas, algumas delas dos sítios mais inesperados. Se Távora-Varosa e Bairrada continuam a afirmar-se como as duas regiões mais empenhadas nos espumantes, assiste-se hoje ao despertar de outras denominações para a magia dos vinhos espumantes. E depois há realidades surpreendentes mas imensamente interessantes, exercícios de excelência como o que os vinhos Vértice fazem no Douro, um dos locais mais improváveis para a espumantização, ou os ensaios que algumas empresas fazem no Dão, Bucelas e Vinho Verde com resultados francamente animadores.

Como muitos já descobriram, não é fácil fazer vinho espumante, sobretudo quando felizmente insistimos em seguir o método clássico originado na região francesa de Champagne, o melhor método para criar uma bolha mais fina, elegante e intensa. Os resultados finais são muito melhores mas o custo é também ele superior, não só nos custos económicos directos como no tempo de imobilização das garrafas na adega. Muitos produtores, sobretudo nos espumantes mais tradicionais e de melhor qualidade, deixam o vinho repousar durante mais de quatro anos, chegando em casos excepcionais a deixar o vinho parado durante quase oito anos.

Os espumantes mais sérios, aqueles que realmente espelham o terroir e que exaltam as virtudes da terra e do homem, são os das três famílias com menor presença de açúcar identificados como bruto natural, extra bruto e bruto. A categoria bruto natural, que por ora ainda continua a ser pouco visível nas prateleiras, representa os vinhos espumantes que não beneficiam de adição de açúcar, vinhos sem correcções e sem maquilhagem edulcorante de qualquer espécie. As consequências de tamanha austeridade podem ser demasiado extremas para muitos apreciadores, redundando com frequência em vinhos verdadeiramente secos, fechados, severos e sisudos, mas que no entanto são o retrato mais fiel das vinhas e do vinho base.

--%>