Fugas - Vinhos

Quinta das Vargellas

Quinta das Vargellas Paulo Ricca

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A anatomia do Porto Vintage pelo bisturi da Fladgate

O clima é fundamental

Claro que todos estes saberes e este potencial de pouco valem quando a natureza não ajuda. O clima no Douro é fundamental. Entre 1970 e 2014, o grupo Fladgate registou três vintages clássicos por década e notou que três em cada quatro vindimas permitem a produção de Vintage (clássico ou single quinta, em tese mais ligeiros e fáceis de beber a médio prazo — 2015 é um desses anos). O que é fundamental para que haja um grande Vintage “acontece nas cinco ou seis semanas antes da vindima”, diz David Guimaraens. Um estudo detalhado dos registos do clima duriense nas últimas décadas prova que “o predicado Vintage” requer que a chuva entre Abril e Outubro seja apenas um terço da média anual, que a temperatura média de Julho seja mais amena e que a precipitação em Setembro seja inferior a 20 milímetros. 

Quando chega à vindima, o destino de um potencial Vintage inicia-se através da separação. Os lotes de diferentes parcelas das diferentes vinhas são vinificados separadamente nos 33 lagares espalhados pelo Douro. Logo aqui pode haver uma vaga suspeita da qualidade, mas nada é certo. Só após o primeiro Inverno se escolhem os melhores lotes para Vintage — os outros envelhecerão em casco. E só no segundo ano se fazem as primeiras reavaliações. Se a equipa de enologia acreditar no potencial dessa vindima, lá para Abril ou Maio fazem-se os lotes finais e procede-se à sua avaliação. E faz-se o anúncio: Vintage clássico, Vintage single quinta — o ano não vintage dispensa apresentações.

A Fladgate Partnership tem surpreendido os apreciadores do vinho do Porto com lançamento de grandes colheitas (vinhos que envelhecem em casco, ao contrário dos vintage que crescem na garrafa), com destaque para o Scion e vinhos com 50 anos de idade. Mas, bem lá no fundo, a sua equipa de enologia, a de viticultura e a sua administração continuam a respirar Vintage por todos os poros. Se não fosse assim, dificilmente marcas como a Taylor’s ou a Fonseca estariam na vanguarda da qualidade dos Porto Vintage e, por arrastamento, no pelotão da frente das grandes companhias mundiais do vinho.   

 

 

 

 

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