Ou seja, o grosso de castas que existem em Portugal teve origem em videiras originárias da Península Ibérica, ao passo que outros países europeus “foram mais influenciados pelas castas originárias do Cáucaso e do Médio Oriente”. Mas mesmo dentro da Península Ibérica há diferenças substanciais. Enquanto que Portugal possui 343 castas diferentes, Espanha só tem cerca de 120. Designações são algumas centenas, mas muitos dos nomes correspondem à mesma casta. Isto poderá querer dizer que, dentro da Península Ibérica, o grande centro de diversidade da videira está situado em Portugal. E o mais extraordinário é que o processo natural de criação de novas castas não tem parado no nosso país. Dois estudos independentes, um realizado na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e outro no BIOCANT- Centro de Inovação em Biotecnologia, identificaram, a partir da análise do ADN de 100 videiras, um total de 14 castas desconhecidas, várias delas originadas por cruzamento natural entre castas ancestrais.
A PORVID coordena uma rede de vinhas de conservação e estudo que foram multiplicadas a partir de cerca de 30 000 videiras identificadas maioritariamente em vinhas antigas. Com a candidatura que apresentou ao OPP, aquela associação pretende submeter a análises de ADN entre 5 mil a 7 mil dessas videiras. Se em 100 videiras, foram identificadas 14 castas novas, a análise de 5 mil a 7 mil videiras pode conduzir à descoberta de um número muito maior e confirmar “Portugal como uma verdadeira Arca de Noé da videira”, abrindo novas oportunidades para a enologia portuguesa. Novas castas permitem criar novos perfis de vinhos, ajudar a responder às alterações climáticas e até, quem sabe, fornecer novas substâncias para a produção de medicamentos ou cosméticos. Percebe agora, caro leitor, como é tão importante apoiar o projecto 671?