E a editora impôs algumas alterações?
Praticamente nenhumas. Apenas Uderzo sugeriu duas pequenas alterações. Uma tinha a ver com a estação do ano em que se desenrola a acção e a outra consistiu em algumas pequenas observações a propósito da psicologia do Obélix. Uderzo esteve muito mais atento ao trabalho do desenhador.
Por falar em desenhador. Sei que Conrad não foi o desenhador inicialmente escolhido. Houve um primeiro desenhador, Frédérick Mébarky, que acabou por abandonar o projecto. O que é que realmente se passou?
É simples. Frédérick não aguentou a pressão e literalmente explodiu. O problema é que ele era um desenhador do estúdio de Uderzo, que fazia ilustrações publicitárias e passava a tinta os desenhos de Uderzo, mas que não tinha nenhuma experiência da planificação e da narrativa em BD. Por isso, tinha muitas dificuldades em contar uma história em banda desenhada. Quando percebemos que a coisa não ia resultar, tivemos que arranjar um substituto, que foi Conrad.
E Conrad introduziu alguma alteração na história, em relação à versão com que Mébarky tinha trabalhado?
Não, e por duas razões. Primeiro, porque quando ele chegou o story board já estava todo feito; depois, como ele teve um prazo muito curto para desenhar o álbum, o meu story board até lhe deu jeito.
E o que é que nos pode adiantar sobre o novo álbum?
Oficialmente, a única coisa que posso adiantar é que a história termina com um banquete na aldeia gaulesa, como sempre (risos)... De resto, não posso dizer nada, mas como há algumas pequenas informações que já apareceram na Internet, posso dizer que, como é habitual nos álbuns de Astérix, haverá uma série de elementos típicos da tradição do país, como o monstro de Loch Ness, e vamos saber também a verdadeira razão por que a Muralha de Adriano foi construída.
Foi à Escócia fazer pesquisa para escrever a história?
Já conhecia a Escócia e voltei lá por causa do álbum. Mas o cenário não é o principal. A história passa-se numa Escócia que, mais do que corresponder à Escócia histórica real, tem que corresponder à ideia que as pessoas têm da Escócia. Ou seja, há que jogar com os estereótipos de forma divertida. Do mesmo modo, a pesquisa histórica é importante, mas não é decisiva. Quando decidi escrever sobre os Pictos, fui naturalmente investigar. Mas a verdade é que não há grande informação sobre os Pictos, o que até me deu jeito, pois assim pude inventar os meus Pictos que, na boa tradição de Astérix, são os ascendentes dos escoceses modernos.
E já tem ideias para os próximos álbuns?
Ideias, tenho algumas. Mas a verdade é que o contrato que assinei foi só para este álbum. Vamos a ver como é que as coisas correm, como é que o livro é recebido... E depois, se a editora estiver interessada, também é preciso que eu arranje uma boa história que queira contar e que agrade ao editor. Sem estar entusiasmado com a história, não consigo trabalhar.
Qual é a diferença entre trabalhar numa série como Astérix ou em projectos mais pessoais como a série Le Retour à la Terre, feita com o seu amigo Manu Larcenet.