Fugas - hotéis

Nelson Garrido

A terceira vida da Vintage House

Por Sandra Silva Costa ,

Sandra Silva Costa cometeu uma heresia: passou uma tarde de sábado a dormir, quando havia todo um Douro lá fora para explorar. O problema é este: está-se bem dentro de portas e a dada altura esquecemos que há vida fora dos muros da Vintage House, no Pinhão. A boa notícia é que amanhã é outro dia.
Podíamos começar a falar do Douro e dos socalcos; das vinhas e do vinho que daqui sai para o mundo; da paisagem e da comida que nos enchem a alma e a boca - mas para já este é um assunto de cama.

Chegamos numa tarde de sábado que ainda não decidiu se está de bem ou de mal com a vida - tão depressa chove como o sol leva a melhor e espreita-nos lá de cima. A viagem foi de pouco mais de hora e meia, é certo, mas toda a gente sabe que subir o IP4 debaixo de aguaceiros, e ainda por cima depois de uma noite mal dormida, não é coisa que se faça propriamente com uma perna às costas. Vai daí, quando chegamos só queremos cama. 

É verdade que as janelas para o rio são um autêntico íman, mas, já tínhamos dito, o nosso assunto é cama. E depois desta, tamanho XXL e de uma suavidade que nos embala em segundos, a nossa vida nunca mais será a mesma. Caímos nela e rapidamente mergulhamos num sono (quase) profundo - e que há-de durar o resto da tarde.

Pode soar a heresia, isto tudo: que se destaque a cama de um hotel debruçado sobre o Douro (cada quarto tem uma generosa porção a entrar-lhe descaradamente pelas janelas) e que se desbarate uma tarde de sábado a dormir. Mas foi isto que aconteceu e foi isto escrevemos no bloco de notas, nem mais nem menos. E agora, que já lá vão dois meses, pensamos que, se nos dispuséssemos a fazer um ranking de camas, esta do quarto 121 da CS Vintage House, no Pinhão, arriscava-se à medalha de ouro. Quem achar que a cama não é importante que atire a primeira pedra. 

Quando acordamos para a vida, o sol já praticamente desapareceu. Só agora olhamos com olhos de ver para o quarto que nos calhou em sorte: para além das duas janelas que dão para uma varanda que há-de ser imperdível no Verão, tem um sofá bordeauxonde repousa uma manta convidativa, cinco quadros na parede, televisão de ecrã plano, duas cadeiras, um candeeiro de leitura e papel de parede sobre a cama. Na casa de banho saltam à vista os azulejos que revestem a banheira e a zona do lavatório. Não há luxo desmesurado neste quarto, mas há espaço e conforto a passar das marcas.

Agora que já é noite e as luzes lá de fora já se acenderam para iluminar o edifício da Vintage House - instalada numa quinta que beija o rio datada do século XVIII e recuperada com o cuidado de preservar a arquitectura tradicional -, descemos ao andar de baixo e, agora sim, preparamo-nos para conhecer os cantos da casa. Ao lado da recepção fica o restaurante (Rabelo) que daqui a nada nos há-de receber para o jantar - diz quem sabe que está instalado onde chegou a funcionar uma tanoaria - e a seguir o bar Library, onde há um piano e uma lareira a crepitar timidamente. O tecto em madeira domina a sala e uma simpática escada em caracol leva aos quartos do primeiro andar. Continuamos a andar e desaguamos no chamado Salão dos Ingleses. A televisão está sintonizada no futebol e nós somos os únicos clientes. Sentimo-nos mais livres para observar cada um dos quadros que enchem uma das paredes - cenas de caça e campestres, naturezas mortas - e precisamos de algum embalo para descortinar todas as diferenças dos milhentos sofás clássicos que se espalham pela sala. Too much, confessamos, mas gostamos muito da grafonola ao canto. 

Na manhã seguinte - terá sido (ainda) do sono? - levamos algum tempo a encontrar o caminho para a sala do pequeno-almoço (Salão do Rio). Temos que subir umas escadas e voltar a descer outras - ou então entrar no elevador. Temos fome e a esta hora apetecia-nos um caminho mais friendly, mas quando nos sentamos à mesa esquecemos este pequeno obstáculo. É domingo, o hotel não está cheio e nós estamos capazes de comer este mundo e o outro. Comemos sem parcimónia e vamos bebendo do Douro que hoje corre debaixo de um sol simpático - a boleia de que precisávamos para agora espreitarmos o exterior do hotel. Não está tempo para piscina e ténis também não queremos, começamos com um passeio por entre rosas e camélias e só haveremos de parar junto ao rio, já fora dos muros da CS Vintage House.

Por falar nela, é tempo de nos determos umas linhas a contar a sua história. Que, na verdade, não é muito fácil de reconstituir. A assessoria de comunicação do hotel avança que não há "suporte documental sobre a história do imóvel". De acordo com habitantes do Pinhão, "o armazém funcionou até meados dos anos 80 como entreposto dos vinhos da Taylor"s". A Vintage House foi construída "a partir da restauração dos antigos armazéns de vinhos da Taylor"s, datados do século XVIII, pelo grupo Fonseca Hotéis". "O processo de licenciamento de reconstrução iniciou-se no ano de 1996" e oficialmente o hotel abriu a 4 de Julho de 1998. Esteve nas mãos do grupo Fonseca Hotéis até 2003, ano no qual foi adquirido pela Douro Azul. 

O grupo CS pegou na Vintage House em 2007 - deu-lhe, portanto, esta sua terceira vida. Que não é uma vida nada má, diga-se de passagem: foi com a chancela CS que o hotel passou das quatro para as cinco estrelas Brindemos, portanto - e nem precisamos de sair daqui para isso, que há uma loja de vinhos dentro de portas, onde, para além da venda, também se fazem provas de frente para o Douro. Saúde!

A Fugas esteve alojada a convite da CS Vintage House


Como ir
A partir do Porto, deve tomar-se a A4 até Amarante e, depois, continuar no IP4. Quando encontrar as indicações para Viseu/Chaves, deve sair na direcção de Viseu. Entrará então na A24, que deve abandonar quando surgir a placa Armamar/Valdigem. Vai depois entrar na EN 222 e seguir as indicações para o Pinhão, que fica a cerca de 150 quilómetros do Porto. Uma vez na vila, não há nada que enganar: a CS Vintage House dar-lhe-á de imediato as boas-vindas.

O que fazer
A CS Vintage House está coladinha à estação do Pinhão, de onde saem vários comboios que proporcionam agradáveis passeios serpenteando ao longo do Douro. Os barcos também estão logo ali à mão de semear, assim como várias quintas durienses que aceitam visitas. Pode também, simplesmente, passear nas imediações, seja a pé, seja de carro. Neste último caso, nunca nos cansamos de recomendar uma visita ao miradouro de São Leonardo da Galafura: a viagem durará pelo menos meia hora, mas é garantido que mais do que vale a pena. A vista é simplesmente avassaladora. Na Régua, a visita ao Museu do Douro também é obrigatória. 

Onde comer
O restaurante Rabelo, dentro da CS Vintage House, é uma boa opção para quem não quiser fazer grandes desvios - até porque na vila a oferta é praticamente inexistente. Quem, no entanto, quiser pegar no carro, é só fazer a viagem no sentido da Régua e parar na Folgosa. O DOC, do chef Rui Paula, reconforta a alma e o corpo: tem Douro a entrar por cada uma das janelas e uma comida sofisticada e contemporânea mas que vai beber muitíssimo às tradições transmontanas. A refeição não sai barata, é verdade, mas é uma experiência que vale mesmo a pena. Na Régua, sugerimos dois restaurantes: o Douro In, também vizinho do rio e onde se pratica uma cozinha igualmente moderna, e a Taberna do Jeréré, esta já um espaço muito mais rústico mas onde se serve muito boa comida tradicional portuguesa. 

CS Vintage House Hotel
Lugar da Ponte 
5085-034 Pinhão
Tel: (+351) 254 730 230
www.cshotelsandresorts.com
GPS: Long: -7.54374087386; Lat: 41.1899073953 
Preços: quarto standard: 205€; suite júnior:267€; suite luxo: 359€
Nome
CS Vintage House
Local
Alijó, Pinhão, Lugar da Ponto
Telefone
254730230
Website
http://www.cs-vintagehouse.com
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