Fugas - hotéis

Boa cama, boa mesa, boa vida

Por Sandra Silva Costa ,

Passámos um fim-de-semana a ver estrelas. Literalmente: na suite com vista para o mar tivemos direito a um telescópio, para o que desse e viesse; no restaurante Ocean, Hans Neuner mostrou por que é que a Michelin lhe confiou um dos seus selos de garantia. No Vila Vita Parc, em Porches, Algarve, só falta uma coisa: uma máquina para esticar o tempo.

O título não diz tudo. Temos boa cama, boa mesa, boa vida - e boa vista, seja a que horas for. Durante o dia, damos de caras com o mar que mais parece rio do Algarve. À noite, piscamos um olho e são as estrelas que vêm ter connosco: há um telescópio nesta suite que nos calhou em sorte e não perdemos tempo a arrastá-lo para a varanda. Ok, não somos propriamente peritos a manejá-lo, não vemos estrelas à primeira, mas aqui o céu é o limite.

Já tínhamos ficado bem impressionados enquanto percorríamos os jardins que dão acesso à residência do Vila Vita Parc, em Porches, concelho de Lagoa. Mas quando abrimos a porta da suite 357 e avistámos o telescópio pensámos isso mesmo, que neste resort cinco estrelas o céu é o limite. Literalmente. Amanhã teremos mais surpresas, mas agora ainda é hoje.

Hoje é um fim de tarde de sextafeira, o sol está quase a pôr-se e nós aqui esticados no cadeirão oval da varanda a olhar o mar lá em baixo, emoldurado por guarda-sóis de colmo, e a ouvir pássaros e gaivotas - são eles a banda sonora, que aqui não se ouve qualquer ruído. Lá dentro, em cima da mesa, uma garrafa de champanhe Demoiselle refresca-se num balde de gelo, ao lado de uns bolinhos de figo e alfarroba. Deixamo-nos ficar até que a noite quase caia e antes mesmo do banho ainda tiramos as medidas à cama. É grande e confortável e está repleta de almofadas que prometem amortecer-nos o sono.

Boa cama, dizíamos.


Hospitalidade portuguesa

Temos duas casas de banho, mas preferimos a do andar de cima para o que era suposto ser um duche antes do jantar. Tem banheira de hidromassagem e uma quantidade assinalável de sais, loções, cremes e espumas da marca Water L'Eau - irresistível, portanto. E há orquídeas, gerberas, conchas, velas e pauzinhos de incenso espalhados pelo mármore do lavatório.

Retemperados, descemos ao andar de baixo e reparamos em pormenores que há pouco nos tinham escapado: há uma máquina de café Delta à nossa disposição, chocolates Arcádia no minibar e louça de Porches pintada à mão em vários cantos da suite. A isto chama-se hospitalidade portuguesa.

Manuela Felgueiras explica: o Vila Vita pertence a um grupo alemão - o grupo DVAG - e durante vários anos (abriu em 1992) esteve mais vocacionado para o mercado germânico. Neste momento, a administração do hotel, que se estende por 22 hectares e se divide em várias áreas, quer atrair mais hóspedes portugueses. Para isso, foi criada uma direcção de hospitalidade portuguesa - a cargo de Manuela Felgueiras. "Queremos mudar a filosofia do hotel e estamos a tentar criar experiências únicas cá dentro no âmbito da história, da cultura e da gastronomia portuguesas.

Queremos que os portugueses se sintam em casa quando aqui chegam e que os estrangeiros sintam saudades quando se vão embora", expõe a directora. Temos mais exemplos para dar: os têxteis (toalhas e lençóis) também são made in Portugal e estão a decorrer negociações para que os produtos de banho passem a ter a chancela da Ach Brito.

Hoje jantamos no restaurante Adega, de comida típica portuguesa, a piscar o olho ao peixe do Algarve e também à gastronomia alentejana. Assim seja: escolhemos camarão da costa frito com alho e piri-piri para entrada (16€); e "o melhor do porco preto alentejano: secretos, plumas, lombo, chouriço e migas" para prato principal (26€). Acompanhamos com um excelente Herdade dos Grous 23 Barricas 2008 (46€) (a Herdade dos Grous é do mesmo grupo do Vila Vita) e fechamos com um dueto de torta de laranja e alfarroba com figo (7,5€).

Boa mesa, dizíamos.


Mimo vital

Hoje já é outro dia - que amanheceu soalheiro e ameno. Tomamos o pequeno-almoço e que pequeno-almoço! na esplanada do edifício principal do Vila Vita e, agora sim, estamos a postos para descobrir todos os cantos à casa. À boleia de um buggy, andamos pelos jardins com vegetação subtropical e vamos passando em revista os três espaços distintos de alojamento do Vila Vita: no edifício principal estão 73 quartos, entre duplos e suites; na residência há 29 suites; no Oasis Parc, onde nasceu o Vila Vita (foise expandindo ao longo dos anos), há 60 suites; finalmente, duas villas, cada uma delas com piscina privativa.

Alguns espaços estão em remodelação, tanto no edifício principal como no Oasis Parc; neste último, onde impera uma construção tipicamente algarvia, tivemos oportunidade de conhecer, quase em primeira mão, as novas suites, cujo look contemporâneo promete. Ainda no Oasis, duas suites terão bónus: um roof terrace service, com espreguiçadeiras e duche.

Talvez só hoje tenhamos tomado consciência da dimensão deste resort, que faz parte da rede The Leading Hotels of the World. Esta é a parte do alojamento - e ainda temos para ver a piscina exterior, a interior, o ginásio, a loja, a biblioteca, os espaços para crianças (Anabella's Kids Parc e Natalie's Creche), o putting green, o campo de voleibol... Desistimos de enumerar: não falta nada nestes 22 hectares. Nada mesmo: nem sequer uma cave de vinhos, construída numa antiga cisterna, e que hoje serve de abrigo a uma colecção com mais de 16 mil garrafas, entre vinhos portugueses e do mundo (Itália, França, Chile, África do Sul...). Todas as quintas-feiras há provas de vinhos abertas aos hóspedes que queiram participar e é possível também fazer jantares vínicos neste espaço. Vão por nós: vale a pena descer as escadas e espreitar os tesouros que aqui estão escondidos.

O sol já perdeu a força e agora entregamo-nos às mãos dos profissionais do Vila Vita Vital, o spa onde seremos mimados durante as próximas duas horas (amanhã voltaremos, mas por nossa conta, para o jacuzzi, a sauna e o banho turco). De entre os vários tratamentos disponíveis, escolhemos a massagem anti-stress, que provámos e aprovámos.

Estamos infinitamente mais leves e regressamos, sem pressas, à suite 357. Logo mais à noite, teremos vinho do Porto, velas acesas e pétalas sobre a cama. Francisco, o mordomo simpático e dedicado, não deixa nada ao acaso.

Boa vida, dizíamos.

 

Restaurante Ocean

Agora sem plural majestático, na primeira pessoa do singular e directa ao assunto: o burro sou eu. Não tenho especial aptidão pelas lides da cozinha, mas posso dizer que sou um bom garfo. Gosto de comer, que se há-de fazer? E gosto de comida bem feita, saborosa e diversificada. Marcha um cabrito assado comme il faut, mas também marcha um singelo peixe grelhado na brasa, ou um risotto de cogumelos. E, descobri agora, ao arrepio dos meus próprios preconceitos, também marcha caril. A culpa não morre solteira: é de Hans Neuner, o chefe austríaco que, em 2007, entrou para o Ocean, restaurante integrado no Vila Vita, com um objectivo bem definido: ganhar uma estrela Michelin. Conseguiu-a no ano passado.

A cozinha de Neuner, 33 anos, é, nas palavras do próprio, "como uma valsa vienense": "segura, elegante, romântica". E também "clássica e intemporal". Depois de um menu de degustação no Ocean, eu, que em alguns momentos fiquei a olhar para os pratos como um burro olha para um palácio (mas calma, o pessoal de sala, simpático e solícito, explica tudinho, ainda que com sotaque alemão), sou obrigada a concordar com quase tudo. Os "Momentos Culinários" de Neuner no Ocean são compostos por sete pratos e custam 130 € (sem vinhos). Sentei-me à mesa às 20h00, saí depois das 23h00. Entretanto, foram desfilando pela mesa criações gastronómicas deliciosas e visualmente atractivas - um verdadeiro carrossel de cores, formas e texturas para os sentidos.

Aqui ficam os pratos, para memória futura: "Carabineiro, ananás de barbecue, piri-piri e amendoins caramelizados"; "Ostra de Sagres, emulsão de batata, caril Jaipur, ovo de codorniz e caviar de salmão"; "Robalo de linha, funcho selvagem, percebas, pepino da horta e cabeça de vitela"; "Coelho alentejano, banana de Madagáscar, baunilha, espinafres, manteiga de noz e abóbora"; "Lombo de borrego de Monchique, lardo de colonato, tomates fumados, beringelas, feijão e puré ligeiro de alho"; "Azeitão, noques de requeijão, pastel de nata e damasco"; e "Praliné de avelã 50 por cento, fruto kalamansy e manteiga de citrinos". Com vinho a acompanhar, uma refeição no Ocean não sai nada barata. Mas é, só por si, uma grande experiência.


Como ir
Do Porto ou de Lisboa, não há que enganar: é seguir para o Algarve, pela A2. Depois, deve abandonar a auto-estrada em Alcantarilha e tomar a direcção de Portimão e Porches, pela EN 125. Na rotunda principal à entrada de Porches, vire à esquerda, para Armação de Pêra. O resort está sinalizado à direita.

O que fazer
Também neste capítulo o céu é o limite. Dentro do Vila Vita as opções são incontáveis - já enumerámos algumas, mas o melhor mesmo é tirar a prova dos nove na Internet. Só para abrir o apetite, o Vila Vita Parc tem um iate que permite aos hóspedes (10, no máximo) navegar um dia no mar do Algarve e organiza visitas à Herdade dos Grous (a 17 quilómetros de Beja). Para quem preferir descobrir o Algarve fora das portas mágicas do Vila Vita, a Fugas recomenda a viagem até Silves (20 minutos de carro, pelas estradas secundárias, caminho muito agradável), essencialmente para a visita ao castelo (entrada 1,25€), um belo exemplo de arquitectura militar islâmica no país.

A Fugas esteve alojada a convite do Vila Vita Parc

Nome
Vila Vita Parc
Local
Lagoa (Algarve), Porches, Sítio de Alporcinhos
Telefone
282310100
Website
http://www.vilavitaparc.com
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