Fugas - hotéis

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Uma princesa dividida entre Poirot e Valmont

Por Alexandra Prado Coelho ,

Dizem que o diabo está nos pormenores. Mas entre os luxos do hotel Tivoli Palácio de Seteais é o paraíso que está nos pormenores.

Chegamos já de noite, atravessámos as estradas estreitas da serra de Sintra, passámos pela sombra inquietante da Quinta da Regaleira, e, de repente, o Palácio de Seteais surge numa curva da estrada, o relvado impecável, a fachada iluminada, as duas alas unidas por um arco.

É como se estivéssemos a entrar num cenário. "É com muito prazer que o convidamos a ser um hóspede da história", diz-nos um texto de apresentação. Vamos então ver que histórias nos esperam. Podia ser um dos livros de Agatha Christie (e descobrimos mais tarde que a escritora foi em tempos hóspede de Seteais), em que os convidados vão chegando para um magnífico fim-de-semana num palacete de um lorde excêntrico, que decidiu reunir um grupo improvável de hóspedes para uma noite que há-de acabar de forma misteriosa. Poirot será certamente um desses hóspedes.

Está-nos reservada a suite, a única deste palácio construído no século XVIII por Daniel Gildemeester, consul holandês em Portugal e amigo do marquês de Pombal. Dado que o palácio (transformado em hotel em 1955) foi inicialmente uma casa familiar, os seus quartos são todos diferentes. Coube-nos o maior, e a grande e pesada chave que temos na mão parece a chave de uma porta mágica.

Abrimos a porta e, como a Alice no País das Maravilhas, passamos para o outro lado - uma sala à nossa direita, o quarto à esquerda. E a cama, alta (ou somos nós que, como Alice, nos sentimos pequenos?), coberta com um fofo edredão branco e quatro grandes almofadas. O mobiliário é antigo - todo impecavelmente restaurado pela Fundação Ricardo Espírito Santo numa profunda obra de remodelação que levou o palácio a fechar durante um ano, reabrindo em Março de 2009 - mas há duas ou três cedências ao conforto moderno: um ecrã plasma, uma máquina de café Nespresso, um telefone móvel. Só depois descobrimos os tais pormenores.

Num canto do quarto, o aroma das flores que enfeitam uma jarra, junto à entrada uma antiga caixa de madeira onde podemos deixar os sapatos que queremos engraxados no dia seguinte, na casa de banho o sabonete com cheiro a citrinos ("a glimpse of glamour"), a flanela para os sapatos ("a touch of brightness"). Aqui tudo é assim, suave, discreto, não há luxos exagerados - é um toque, um vislumbre, uma sugestão.

É hora de jantar. Descemos pela escadaria até ao andar de baixo e somos guiados pelo som de uma harpa tocada ao vivo (há noites de harpa e outras de piano) para a sala de jantar, onde a luz das velas se reflecte numa grande mesa de tampo espelhado. Jantamos - canja de Santa Teresinha com sêmola de trigo, folhado de linguado recheado com alho francês, queijadas com gelado de canela e baunilha - e em seguida aventuramo-nos pelos corredores.

Passamos por uma sala com as cenas ingénuas dos frescos que o francês Jean-Baptiste Pillement ali pintou no século XVIII, por outra com as paredes forradas a seda pintada à mão, pelo piano antigo, por bustos, quadros, mesas de mármore, móveis requintados, recantos discretos. O som da harpa está mais distante e parece-nos agora ouvir o restolhar de saias de anquinhas como se alguma donzela tivesse subitamente dobrado uma esquina para não a apanharmos em ligações perigosas com o irresistível Visconde de Valmont (e havemos de descobrir que John Malkovich, o Valmont das verdadeiras Ligações Perigosas, filmadas por Stephen Frears, esteve instalado em Seteais).

Nome
Tivoli Palácio de Seteais
Local
Sintra, São Martinho, Rua Barbosa de Bocage, 10
Telefone
219233200
Website
http://www.tivolihotels.com
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