Da estrada não se percebe bem o que é. Da praia nem sequer se vê. De tal forma que o segredo manteve-se praticamente até à data de abertura. Mesmo para muita gente da região. Escondido entre o pinhal, o Areias do Seixo apresenta-se, desde fins de Abril, camuflado entre a natureza e anichado no desnível oferecido pelo terreno. E, por essa razão, nem à chegada, já à porta do hotel, se percebe a verdadeira dimensão do projecto. Mas adivinha-se desde logo, com as 18 villas atrás de nós a montarem guarda, o venerável respeito pelo meio onde estamos, quer pelos materiais usados na construção, quer por apontamentos decorativos, como uma cadeira em madeira que parece ter sido esculpida pela própria natureza especificamente para aqui.
A recepção confirma a excepção: não há balcão de check-in nem concierge de nome gravado na lapela. Em vez disso, há um piano a musicar os sorrisos de boas-vindas dos proprietários e funcionários (e continuamos na coerência: sem fardas).
Marta e Gonçalo Alves, ambos naturais da região, há muito que sonhavam criar um espaço ao seu gosto, onde pudessem receber pessoas oriundas de todos os cantos do mundo e que tivesse por premissa romper com as convenções típicas dos cinco estrelas. Foi há sete anos que o jovem casal adquiriu o terreno, na freguesia de A-dos-Cunhados, a três passos da praia, e desde então o projecto tem vindo a crescer: primeiro foram construídas as 18 villas T3 com piscina (todas já comercializadas). Agora vêem nascer o hotel, em betão, cobre, vidro e, claro, seixos. E, não tarda, estarão a construir mais 19 villas.
Flutuemos
A entrada no hotel faz-se por uma ponte sobre água, onde flutua uma pequena canoa e onde até se pode relaxar ao sabor do movimento de dois baloiços. À direita, surge o spa, também aberto ao público, com sauna, banho turco e com acesso à piscina exterior aquecida, além de duas salas de tratamentos, duche vichy e sala de relaxamento. À esquerda, o Lugar da Horta, composto por bar, restaurante e mercearia, cuja frente em vidro, do chão ao tecto, se abre para uma esplanada com vista sobre pequenos jardins (que, surpresa!, se revelariam depois serem tectos dos quartos) e sobre as dunas, com o mar como quadro vivo de fundo.
Por aqui, o que falta em voluntária ostentação sobra em voluntário bom gosto. Cada elemento decorativo quer-se único e cada pormenor revela criatividade e capacidade de reciclagem ao longo de todo o processo: mesas em madeira robusta, cadeiras renascidas em cores vivas, estampados coloridos ou um lustre de tecto que poderia sugerir tratar-se de uma instalação artística mas que não passa do aproveitamento das chapas de cobre que o vento de Dezembro arrancou. Um temporal, quem diria!, que acabou por revelar-se um aliado na decoração de todo o espaço - quer com as referidas chapas, quer com as madeiras aproveitadas das árvores quebradas ou com as raízes arrancadas que formam lá fora o Círculo de Fogo, em cujo centro uma fogueira promete arder em fins de tarde tão descontraídos quanto com potencial romântico...
De volta ao Lugar da Horta, a mercearia, ao fundo da sala, lembra as antigas vendas, com o balcão em madeira e uma balança esmaltada a branco e onde se podem adquirir os produtos provenientes das hortas do hotel - todas biológicas, sem quaisquer adições químicas e abertas a experiências: para quem queira ir colher os ingredientes do seu próprio almoço ou para quem deseje cultivar um pedaço de terra (com entrega garantida do resultado final). Há ervas aromáticas, chás, couves, alfaces e cebolas. E, por estes dias, o doce aroma e o vermelho vivo dos morangos. O menu do restaurante - aberto também a visitantes, assim como a mercearia - será por isso variável e sempre de acordo "com o que a terra está a dar". E para passear pelas hortas basta descer a escadaria, que nos guia ao piso dos alojamentos, e atravessar uma gigantesca porta em madeira esculpida. Mas, antes, um passeio de reconhecimento pelos quartos - apenas dez, aos quais se junta uma penthouse T3 -, que se alinham de frente para a arriba.
Quartos crescentes
Os quartos são todos personalizados, com nome e decoração próprios. Mas todos ligados por elementos comuns, como as lareiras, as casas de banho XXL desenhadas e compostas em betão afagado e envernizado ou os terraços prazenteiros - que os uniformiza em harmonia. Há dois quartos superiores, Ouro e Nha Cretcheu, ambos com pátio exterior (e o primeiro com jacuzzi), mais oito, designados de Quartos Terra (Prata, Três Desejos, Terra, Quarto Que Voa, Sem Hora Marcada, Sete Sentidos, Ainda e Oliveira Princesa). Em sorteio, calhou-nos o último. Um quarto surpreendente, garantiram-nos, e no qual se torna bem visível o reaproveitamento de todo o tipo de materiais. E, tiradas as provas dos nove, não fomos enganados.
Em ambiente romântico, sugerido pelas palavras de Fernando Pessoa que se lêem na porta - "Conta a lenda que dormia/Uma princesa encantada (...)" -, encontramos vários elementos que geram uma agradável estupefacção: a começar desde logo pela existência de uma oliveira, no interior de uma espécie de aquário, de clarabóia aberta, plantado no centro da casa de banho (a única sem banheira, mas com dois duches circulares) ou, após aceder ao espaço de dormir, um painel em madeira, aproveitado do estaleiro de construção da unidade, em forma de cabeceira de cama, decorado com as gastas lâminas de rebarbadoras que casam com um candeeiro de aplique em cristal. Ao lado da cama, a mesa-de-cabeceira executada a partir de um velho bidão em ferro. Também o estrado da cama, assim como das de outros quartos, foi feito a partir das madeiras usadas em obra e a enfeitá-lo uma colcha colorida resgatada aos baús da família. Para embalar o repouso, há possibilidade de escolher a música, mas a TV foi totalmente banida (para os mais viciados: há uma sala para o audiovisual).
A noite avança. O hotel mergulha num profundo e luxuoso silêncio. O piano cala-se, as vozes apagam-se. No quarto, com os painéis em vidro cobertos por negras cortinas, entre roupas alvas e com o corpo poisado sobre um manto de penas, o sono (e aqui fala a voz da experiência) é digno de uma princesa.
Um hotel mais verde
Apresentado como eco-resort, não é só na reciclagem de materiais decorativos que o Areias do Seixo revela os seus planos de se afirmar como uma unidade que aposta na sustentabilidade em todas as suas vertentes. Toda a sua concepção foi pensada de forma a aproveitar da melhor maneira os recursos disponíveis e a haver o menor número de perdas. Entre uma série de medidas, tal refl ecte-se no isolamento térmico, em que foi usada cortiça, no método de aquecimento/arrefecimento dos espaços e das águas, com um sistema de geotermia por captação horizontal, com o reaproveitamento das águas para a rega ou para os aparelhos de descarga sanitária ou com a utilização sistemática de painéis fotovoltaicos.
Preços
Alojamento em quarto duplo a partir de 230 euros (promoção: 2 noites desde €350). Pequeno-almoço: €18. Meia pensão: €36. Pensão completa: €60. Experiências desde €30. Tratamentos spa desde €45. Crianças até dez anos são apenas aceites nas villas e na penthouse.
Como ir
De Lisboa: A8 em direcção a Loures/Leiria. Do Porto: A29 até Aveiro; A147 e depois A8 em direcção a Lisboa. Saída nº 9. Seguir direcção Lourinhã, virando à esquerda no sentido A-dos-Cunhados. Seguir as indicações para a Praia de Santa Cruz. Chegando a Póvoa de Penafirme, na rotunda tome a direcção de Praia de Santa Rita. Cerca de 400m à frente haverá indicação para o Hotel Areias do Seixo.
- Nome
- Areias do Seixo Charme Hotel & Residences
- Local
- Torres Vedras, São Pedro e São Tiago, Praceta do Atlântico
- Telefone
- 261936340
- Website
- http://www.areiasdoseixo.com