Fugas - hotéis

Daniel Rocha

Olhai senhores, esta Lisboa d'outras eras

Por Luís J. Santos ,

Um novíssimo cinco estrelas pegou na Lisboa dos anos 20/30 e levou-a para dentro das suas paredes. Eis o Vintage Lisboa Hotel, união da contemporaneidade com memórias de outras épocas.

Olhai senhores, esta Lisboa d'outras eras

"O tema do hotel é Lisboa", resumia com um sorriso Carlos Saraiva, o presidente do CS Hotels, Golfs & Resorts (sendo o CS, já se vê, as iniciais do seu nome) que, numa bela tarde estival, fazia as apresentações deste Vintage, novo e íntimo cinco estrelas de meia centena de quartos com que o grupo hoteleiro se estreia na capital. Mesmo antes de passearmos pelo hotel com o próprio CS como guia ou até de pormos à prova um dos quartos com um belo e reparador sono, já acreditamos plenamente na temática. O cenário ajuda: a apresentação do hotel, que começou a receber hóspedes em Junho e fica no coração da cidade junto à Avenida da Liberdade, decorre no topo do edifício num pequeno bar-terraço que potencia as vistas de Lisboa que corre até ao rio e sobe até ao Castelo. É ainda com estas imagens da Lisboa contemporânea na retina que, piso a piso, quarto a quarto, sala a sala, do terraço ao restaurante e spa, haveremos de descobrir uma Lisboa de outras eras: o vintage com que se baptiza o hotel mostra-se num subtil e discreto fulgor de detalhes, opções arquitectónicas ou de decoração, que reportam a um foco nos anos 20/30 alfacinhas, sendo o pormenor mais chamativo as fotografias de grande dimensão que ilustram cada piso; fotografias-parede, digamos, que nos dão a ver de outras formas e conteúdos a cidade e o seu povo, com o centro histórico como cenário, e onde é um prazer ir descobrindo pormenores, caras e trajes.

O edifício, de inícios do século XX, foi alvo de uma profunda remodelação, mantendo, naturalmente, toda a sua traça e numa luxuosa simplicidade, sem desvarios cromáticos ou decorativos. A fachada, que também respeita a discrição, incluindo na sinalética, quase lembra os típicos eléctricos, até porque é um edifício-proa, situado no topo do quarteirão e cruzando três ruas, com o seu amarelo pronto a torrar pelo sol, continuando a mostrar as cantarias e gradeamentos de ferro forjado trabalhado das varandas. Os espaços são globalmente amplos, porque o hotel, de quatro pisos superiores, pode ter uma dimensão reduzida mas ainda assim quer garantir amplitude, além de privacidade, até nos corredores, com um arejado pé-alto, ou mesmo nos espaçosos elevadores. Saliente-se que as portas, mesmo as dos quartos, são altíssimas, dir-se-ia para gigantes, dando quase a impressão de estarmos não a entrar num simples quarto mas numa abastada casa.

Numa adaptação orgânica ao edifício, os quartos vão diferindo nas suas composições, embora mantendo a coerência, que percorre os outros espaços, nas suas cores suaves contrastadas com o uso de móveis e peças pretas de linhas simples salientados com sublinhados de tachas metalizadas (este contraste é, aliás, uma constante pelo hotel). Fazendo justiça à opção pela largueza, saliente-se que as suites são verdadeiros apartamentos. O jornalista-cobaia ficou-se por um quarto normal mas o sono-teste, pode garantir-se, foi abençoado. O quarto, com uma espaçosa e macia cama, inclui detalhes simpáticos, caso do duche, um espaço à parte (uma caixa-duche) revestido por inteiro a mármore onde até nas torneiras ecoa a estética vintage, ou do suplementar jogo de almofadas (lá está: XL). À estética de época, junta-se, claro, a modernidade: à disposição um ecrã LCD de boas dimensões ou Internet sem fios, entre os habituais serviços de um cinco estrelas.

De salientar que este (e restantes quartos) têm garantida toda a luz natural que se quiser, graças às suas amplas janelas. Espaço para outras iluminações é o Relax Center, marcado por uma imponente e luminosa piscina animada aquecida, num escuro dourado, que dá ares de inspiração na Roma Antiga; um belo tepidarium com um fontanário em onda metalizada a alimentar continuamente o lago e que garante entradas cinematográficas, quase "fellinianas", na água. Ladeada por sauna e banho turco, esta zona relaxante inclui ainda áreas com gabinetes de massagens e tratamentos, ginásio, balneários, zona de descanso e duches de contraste. Por estes dias, é ainda de acesso limitado aos hóspedes do hotel mas em Agosto começará também a abrir as portas a visitantes. Aliás, o mesmo sucederá com o restaurante, o Vintage Restaurante & Lounge que, como sublinha o director do hotel, Fernando Carriço, é "um restaurante virado para a cidade", tendo uma entrada exclusiva. A área de restauração divide-se em duas áreas distintas: restaurante e bar com snack (mesmo ao lado, uma pequena e conveniente esplanada em pátio), ambos com um estilo clássico.

Aqui, temos a promessa de uma particularidade: o restaurante aposta em tentar fugir a demasiadas fusões modernas de "comida de hotel" e alicerça-se numa carta composta de pratos tradicionais portugueses, cada um com a sua devida adaptação à modernidade segundo os critérios da chefe Susana Venâncio; ou, como resumiria um bem-humorado Carlos Saraiva, "cozinha de tacho sofisticada", uma "cozinha de regresso às origens". E por falar em regressos, que tal um regresso ao quarto que já se faz tarde? Ainda a cheirar novo, o quarto a que o escriba tem direito merece mesmo o adjectivo de acolhedor. E uma confissão: talvez pelo ambiente criado, talvez pela cama (não houve tempo para experiências científicas), o certo é que há muito tempo não adormecia com tal rapidez. Foi um sono à antiga. Talvez até com uns sonhos vintage...

Um restaurante para a cidade

Encontrar sítio para jantar no centro de Lisboa a más horas passa a ser mais fácil com o novo Vintage Restaurante & Lounge: o restaurante quer abrir-se à cidade e oferecerá a possibilidade de comer e petiscar até às duas da manhã, um verdadeiro pitéu para os alfacinhas mais noctívagos. Acrescente-se o detalhe de ter à disposição uma ementa algo rara na hotelaria, composta por "cozinha tradicional portuguesa, mas sofisticada e actual", no dizer do director do hotel, Fernando Carriço. Entre os pratos principais, destacam-se o estaladiço de alheira, a meia desfeita de bacalhau, umas lulas recheadas ou mesmo um bacalhau cozido com todos. As sobremesas incluem do arroz doce ao pudim Abade de Priscos e a carta de vinhos garante extensão e sapiência (realce-se o vinho da casa, literalmente: o Solar da Rede, produzido no Douro, na propriedade que inclui a pousada homónima do grupo CS). A zona "snack" promete também variedade e a preços mais económicos.

CS em crescimento exponencial

O grupo CS tem vivido um desenvolvimento surpreendente, aumentando o seu portfólio de hotéis de cinco estrelas por todo o país (tem oito unidades em funcionamento e uma dezena de projectos em andamento e para breve no Algarve, Alentejo, Madeira, Porto, Douro e Lisboa). Entre as estrelas maiores do grupo contam-se o Vintage House Hotel, a Pousada Solar da Rede ou o Madeira Atlantic Resort & Sea Spa. Para os próximos meses, aguarda-se a muito esperada abertura do Palace Lisboa Hotel, em Belém, recuperação da antiga Casa do Governador, casa senhorial do século XVI mas marcada por intervenções dos séculos XVII e XVIII, onde chegou a funcionar a Escola Profissional de Pesca e onde os trabalhos actuais já levaram à descoberta de uma antiga fábrica de salga romana datada do século I.

O grupo promete um trabalho de "reconstrução e restauro minuciosos". Ainda em Lisboa, espera-se pelo Palace Bairro Alto Hotel (no antigo palácio dos Lumiares, na Rua S. Pedro de Alcântara com o Elevador da Glória como referência). A norte, o próximo ano trará o Vintage Oporto Hotel, em Gaia, e o Cubas Douro Hotel, no Pinhão. Mas há mais na calha: nos finais de 2010 e em 2011, deverão abrir o Hotel do Lago Montargil (Alto Alentejo), o Algarve Palace Hotel (no Resort CS Morgado do Reguengo, perto de Portimão) e na Herdade dos Salgados (Guia - Albufeira) o projecto global deverá completar-se com mais unidades conceptuais, depois do recém-estreado Salgados Dunas Suite Hotel: Salgados Golf & Beach Hotel, Salgados Dunas Hotel e Salgados Golf Holiday Apartments. O grupo tem ainda campos de golfe, projectos de centros de congressos e outros empreendimentos.

 (Julho 2010)

Nome
CS Vintage Lisboa Hotel
Local
Lisboa, Lisboa, Rua Rodrigo da Fonseca, 2
Telefone
213005030
Website
http://www.cshotelsandresorts.com
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