Fugas - hotéis

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Sonhos de princesa em aposentos de reis e rainhas

Por Carla B. Ribeiro ,

Não deve ser um desejo muito original. Dormir num castelo, qual princesa. E é exactamente isso que se pode viver na Pousada do Castelo de Óbidos: ter todos os confortos dos dias de hoje entre paredes cheias de História para contar.
De tantas idas a Óbidos, havia ainda uma porta a transpor: a do castelo que, depois de ter sido destruído pelo terramoto de 1755, foi recuperado pelas Pousadas de Portugal em meados do século XX. A minha situação não é rara, diz-me Tiago Gonçalves: há muita gente que se sente como que a invadir um espaço que, embora entregue aos cuidados das Pousadas, actualmente sob a gestão Pestana, continua a ser público e, saliente-se, classificado como Monumento Nacional.
 
Na realidade, há uma espécie de parede invisível, brinca o director do hotel. “As pessoas sobem à porta do castelo, mas a maioria apenas entra dois passos; depois, há alguns que se atrevem a subir até à porta da pousada; e poucos os que acabam por percorrer os diferentes espaços.” Quando alguém da pousada dá por isso, convida o visitante a entrar — até porque há uma série de espaços que podem ser conhecidos: o bar, o restaurante, as ameias, as torres… Mas, para isso, o melhor é começar a preparar as pernas.
 
“Costumamos dizer, a brincar, que isto é uma unidade em que, além do pequeno-almoço, o ginásio está incluído no preço da noite.” É que, depois de se ser recebido numa nova recepção, que parece ter sido arrancada à força à muralha — ressalve-se a utilização de uma pedra distinta: “não queremos enganar quem nos visita” —, não há elevadores que nos valham. Algo que complica verdadeiramente o abastecimento da unidade: “Só para carregar as águas é uma mão-cheia de gente.” E transportar as botijas de gás, de tamanho industrial, testemunhámos, é um trabalho quase hercúleo. É que é sempre a subir. E, no meu caso, ficando com um quarto com uma deliciosa vista sobre os bem tratados e, mesmo sendo Inverno, floridos paços do castelo e para uma das torres, há que ainda subir as desgastadas e polidas escadas em pedra. Enquanto se contam degraus, é impossível não reparar nos vários detalhes saídos de um tempo longínquo. Como o velho, ferrugento e pesado baú logo à entrada, cuja abertura, desafia o director da unidade, dá direito a uma noite grátis: “Já tentámos de tudo.”

Na parede, uma grande tapeçaria cujo estado denuncia a sua idade. O restauro chegou a ser equacionado, mas a tentativa de retirar o objecto da parede depressa se mostrou inviável. É que os estragos seriam piores. Esta tapeçaria faz parelha com alguns frescos numa sala em que uma única mesa, posta para quatro, aproveita a melhor vista do restaurante. Mas a sala de refeições tem mais paisagens das quais se pode gabar. Como na mesa em que tomámos o pequeno-almoço (com direito a mimos de fruta fresca, sumo de laranja natural, croissants estaladiços e ovos quentes), em que se fica junto a uma das restauradas janelas de estilo manuelino. 

Camas para todos os títulos
Há quem na Pousada de Óbidos durma como rei. Como na suite D. Dinis, que ocupa uma das torres do castelo. Aqui, a forma física volta a ser importante. Mas, mais ainda, o cuidado. As escadas são desencontradas e a pique. Tanto no exterior, para aceder à suite, como no seu interior, para chegar à zona do quarto. 
 
“Esta suite é única”, enaltece Tiago Gonçalves, durante uma visita guiada, “logo a começar pelo característico ranger da porta”. Com a necessidade de dar conforto e de combater qualquer sensação claustrofóbica, o quarto, com cama de dossel e paredes preservadas em pedra, apenas ostenta a cama, mesinhas de cabeceira e uma poltrona com mesa de apoio. O guarda-roupa, cuja tonalidade clara contrasta demasiado com tudo o resto, fica no piso de baixo, sendo aproveitado para acomodar uma TV em frente a um confortável sofá. Já a casa de banho foi literalmente encaixotada sob as escadas. Não será o mais agradável (ter a porta da casa de banho a abrir para a porta da rua), mas apostamos que uma noite repousada e quase monárquica no andar de cima apaga todos e quaisquer defeitos.
 
Enquanto vamos percorrendo as ameias do castelo, com vista sobre toda a vila, Tiago confessa que o que mais lhe impressiona são as histórias dos hóspedes. Como as de dois casais, que nunca se cruzaram, mas que há mais de 20 anos vêm sempre nos mesmos dias e com um intervalo de apenas um dia entre eles. Ou a de um septuagenário que, confrontado com um cancro, decidiu reviver a sua estada no castelo há muitos anos.
 
Deixando as suites para os reis, fico a dormir em quarto de rainha. Mais precisamente de D. Catarina de Áustria, rainha consorte de D. João III, a quem se ficou a dever a construção do Aqueduto da Usseira que inaugurou o sistema de abastecimento de água ao burgo obidense. Aqui, a proposta inclui duas camas, ambas dotadas de uma imponente e trabalhada cabeceira e com comprimento suficiente para as gentes dos dias de hoje. Assim que se poisa a cabeça na almofada, a sensação é de que é tudo demasiado fofo e, não tarda, pensa-se nas dores de costas do dia seguinte. Mas, estranhamente, não passa de uma impressão. Tanto o sono como o acordar na manhã seguinte, com a luz do dia a entrar pela fresta dos pesados reposteiros que deixámos de propósito abertos, primam pela tranquilidade. 
 
A calma é, aliás, uma qualidade que pode ser vivida durante toda a estada. Aqui não há lugar nem a correrias nem a pressas. Curiosamente, mesmo sem qualquer pressa, o serviço é diligente. Um café pedido no quarto chega em menos de dois minutos; ainda antes de estacionarmos o carro (note-se que a pousada disponibiliza uma autorização de estacionamento dentro das muralhas) há alguém pronto a receber-nos; e, durante o pequeno-almoço, não há lugar a falhas.
 
É assim, em ambiente principesco, que confessamos a vontade de prolongar a estada, tirando proveito de uma cómoda poltrona, que colocamos estrategicamente de frente para a janela do quarto, virando as costas ao televisor. E, certamente, como muitos hóspedes, a vontade de voltar.
 
A Fugas esteve alojada a convite da Pousada de Óbidos
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Como ir
De Lisboa, a auto-estrada A8, em direcção a Leiria, é o caminho mais fácil. Do Porto, o mais rápido será seguir pela A1, direcção sul, sair para a A25 em direcção a Aveiro, para depois continuar pela A17 até chegar à entrada da A8.
 

Além dos nove quartos inseridos no castelo, há outros oito integrados numa nova ala. Todos possuem nomes de monarcas cuja história se une a Óbidos. Uma noite reserva-se desde 160€, embora haja promoções frequentes no site das Pousadas.

Nome
Pousada de Óbidos
Local
Óbidos, São Pedro (Óbidos), Paço Real - Castelo de Óbidos
Telefone
210407630
Website
http://www.pousadas.pt/
Observações
Além dos nove quartos inseridos no castelo, há outros oito integrados numa nova ala. Todos possuem nomes de monarcas cuja história se une a Óbidos.
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