Os roteiros turísticos adoptaram a Ferraria como corolário de excursões à lagoa das Sete Cidades, até porque é lá que a estrada acaba e onde se desfruta do melhor pôr do sol de São Miguel. Antes o edifício termal em ruínas devia parecer lá plantado de propósito para acentuar o dramatismo das fotografias. Mais que contemplá-lo, no entanto, os locais foram ganhando o hábito de fazer zona balnear ali mesmo ao lado, numa pequena enseada onde a água do mar ronda os 40ºC. µ
Esta rara delícia levaria a prever enchentes que, no entanto, nunca se verificaram. Há, para começar, o factor distância: são 22 quilómetros de Ponta Delgada, o que para muitos açorianos equivale a 220. Mas não era só isso. Escreve António Ferreira Leite, no seu incontornável Um olhar de observação sobre os Ginetes (Assembleia de Freguesia de Ginetes, 2001): "Junto ao pequeno porto, a água termal mistura-se com a água salgada, o que propicia um banho delicioso e relaxante, que fazia o regalo dos poucos banhistas da década de 60 e 70, quando os banhos eram pouco procurados, em virtude de preconceitos que tiveram a ver com falsos pudores".
Jazz vulcânico
A requalificação da Ferraria não é um acto isolado. Faz parte de uma estratégia concertada de diversificação da oferta turística dos Açores, onde wellness rima com trekking e whale watching. O estabelecimento na ponta sudoeste de São Miguel concorre nesse segmento mais específico do turismo de saúde e bem-estar, destacando-se como o primeiro reaberto ao público de quatro antigos pólos termais intervencionados no arquipélago. Seguem-se as Termas do Carapacho (Graciosa), do Varadouro (Faial) e das Furnas (São Miguel).
O que veio a inaugurar no lugar da Ferraria é, no entanto, bastante diferente do que era para ser. O caderno de encargos inicial previa um hotel com spa integrado, o que implicaria alterar e semiprivatizar este escaninho de paraíso, por outro lado protegido sob a figura de Monumento Natural Regional. Uma pretensão de forma alguma aceite pelos locais, revolta que levou à reformulação do projecto e ao cancelamento da construção do hotel. Já não foi a tempo, pelos vistos, de impedir o surgimento de um apoio de praia sob a forma de um conjunto de volumes em vidro e betão, implantado à entrada das piscinas naturais. É por sinal uma obra bem bonita, com uma qualidade quase escultórica, mas nunca chegou a servir para nada, uma vez que foi concebida como anexo de um hotel que não chegou a ver a luz do dia.
Tem, portanto, essa poesia da arquitectura inútil. Em qualquer caso, quando o spa termal ficou pronto, o Governo Regional viu-se em mãos com um novo problema, uma vez que não apareceram candidatos ao concurso público de concessão entretanto lançado. A concessão acabou por ser directamente proposta e aceite por fisioterapeutas e executivos ligados ao Hotel do Caracol (Angra), que para o efeito criaram a empresa Palco Natural.
Sabrina no mar
O miradouro sobranceiro à Ponta da Ferraria e o próprio ramal (aqui chamado de rua) que lá vai dar respondem pela designação de Sabrina. É nome que se associa a princesas e contos de fadas, mas na circunstância refere-se a uma ilha de existência fugaz, por sua vez baptizada com o nome de uma chalupa inglesa, única embarcação que alguma vez lá aportou. O local onde a ilha emergiu, cerca de três milhas náuticas ao largo da costa, a 10 de Junho de 1811, hoje tem um fundo de 75 metros de profundidade. Ou seja, desapareceu sem deixar rasto, mas as vistas do miradouro debruçado sobre as falésias, com o farol centenário numa ponta e o edifício termal na outra, são de tal modo inebriantes que não custa imaginar os prodigiosos eventos eruptivos que ocorreram ali mesmo em frente e a espúria tentativa de colonização que se lhe seguiu.
- Nome
- Spa Termal da Ferraria
- Local
- Ponta Delgada, Ginetes, Rua Ilha Sabrina - Ginetes
- Telefone
- 296295669
- Horarios
- Todos os dias das 00:00 às 00:00
- Website
- http://www.termasferraria.com