Depois veio a decadência. E com ela o abandono que resultou numa ferida aberta no coração da cidade. Até que o edifício foi colocado na mesa de negociação quando, já neste século, o Grupo FDO quis construir um centro comercial: a autarquia aceitou - o shopping está lá, ocupando os antigos jardins do Lisbonense, nas traseiras do hotel - sob a condição de que o grupo se comprometesse a recuperar a antiga unidade.
E, depois de reconstruído e requalificado, o FDO resolveu o seu problema de exploração passando o equipamento ao Sana Hotels. O quatro estrelas inaugurou em Junho e, de certa forma, devolveu o Lisbonense à cidade: de dia ou de noite, a esplanada que acompanha toda a frente do hotel, o restaurante e o bar interior, que partilham o nome Lisbonense, enchem-se de caldenses, concedendo vida ao hotel que retribui ao marcar o centro com ainda mais vida.
"A população [das Caldas da Rainha] estava expectante", conta Sofia Nogueira, gerente do novel Sana Silver Coast. Tanto que a esplanada, de cariz romântico e servida pelo Café Lisbonense, comunga o mesmo passeio por onde dezenas de transeuntes se passeiam, separados apenas por uma vedação em ferro.
Entre apontamentos verdes e floridos, na esplanada, perfumada pelas acácias que habitam o jardim do outro lado da rua, alguns turistas, grupos de jovens amigos e famílias com crianças ocupam as mesas e cadeiras de jardim em verga escurecida ou os sofás de palhinha branca cujo conforto é garantido por almofadões roxos. Alguns chegam cedo e vão arrastando a leitura dos jornais manhã fora; outros vêm tarde e ficam em conversas animadas noite dentro. Seja de que forma for, é comum ter sempre gente a passear-se pelas áreas comuns do hotel, confirmando que o Sana Silver Coast não é apenas um abrigo para ficar, é uma grande casa para estar.
Tem sido assim desde o primeiro dia: chegam ao hotel tantos visitantes quantos hóspedes. E, se é verdade que hoje vêm para usufruir dos serviços e espaços abertos à comunidade - para já apenas bar, restaurante e esplanada, estando para breve a abertura de um centro de bem-estar com ginásio, sauna, banho turco e salas de tratamentos -, muitos dos que chegam de visita ainda têm por objectivo reviver momentos passados no Lisbonense ou apreciar a recuperação do espaço hoteleiro, mas entre os hóspedes também há muitos saudosistas. "Já tivemos quem marcasse um quarto para os pais porque tinha sido no Lisbonense que tinham passado a lua-de-mel e queriam fazer-lhes uma surpresa", conta-nos Sofia Nogueira, acrescentando que este é apenas um exemplo de muitos casos semelhantes.
Para não desiludir a busca de recordações, vários objectos do hotel original encontram-se expostos à entrada, em módulos de prateleiras que exibem loiças, livros e recortes de jornais das Caldas e que servem também para proteger quem está no bar dos olhares de quem entra e sai movido pela curiosidade.
Mas, entre a traça original e esses objectos cedidos como memorabilia do hotel, pouco mais resta da velha unidade. Toda a estrutura interior foi repensada e redecorada, conferindo ao hotel um ambiente moderno, embora com traços clássicos impostos logo pela iluminação prestada por imponentes candeeiros de cristal.
Sempre sem descurar o conforto ou o "atendimento personalizado" que esta unidade almeja, afiança Sofia Nogueira. "No fundo é um quatro estrelas que pretende oferecer um serviço de cinco estrelas", apostando sobretudo na qualificação de quem trabalha no hotel, a maioria proveniente do pólo das Caldas da Escola de Hotelaria e Turismo.
Passado o teste da arte de bem receber - a franca simpatia é sabiamente usada quer com os hóspedes, logo no balcão de check-in, quer com clientes externos que ocupam todos os dias as mesas da esplanada ou os sumptuosos e coloridos cadeirões que arrumam o bar de forma simétrica -, a premissa de conforto é posta à prova já no quarto, um espaço que, não sendo muito grande, é suficientemente amplo para suportar a mescla entre tons terra e ouro sem se tornar claustrofóbico.
Enquanto a casa de banho, pequena mas funcional, foi esculpida sob a simplicidade do preto e branco, pelo alcatifado espaço de dormir são os materiais nobres que imperam - desde a madeira escura do mobiliário até aos apontamentos em pele: num sofá de canto, nas mesinhas de cabeceira, no encosto da larga e confortável cama ou nos banquinhos de apoio aos seus pés.
Uma pequena bancada em madeira presta-se a servir de espaço de trabalho - embora demasiado pequeno para se conseguir efectivamente trabalhar (compensou o facto de na esplanada se conseguir ter acesso sem fios à Internet e tomadas eléctricas para ligar o PC), enquanto os pesados cortinados, em tons negro e ouro, garantem a tranquilidade (prolongada) do sono ao mesmo tempo que batalham pelo protagonismo com um painel que evoca a proximidade do mar.
É nesta saudável disputa entre a agrura do mar e o luxo do ouro, que se adormece, entre lençóis alvos e macios e sob a bênção de Rafael Bordalo Pinheiro, cujas palavras gravadas e emolduradas sobre a cama poderão vir a ser adoptadas por muitos que aqui ficarem: "Muito agradecido à gentileza com que fui recebido nas Caldas."
Como ir
O hotel situa-se no centro das Caldas da Rainha, em frente do Parque D. Carlos I e junto ao Hospital Termal. De Lisboa, são cerca 90 km (A8 até à saída 17, para as Caldas); do Porto, são perto de 250 km (seguir direcção Aveiro pela A25 até saída para A8Lisboa; a saída para as Caldas é a 20).
Características
Os 80 quartos de 21,5 m2 e as oito suites de 35 m2 (dois dos quartos são adaptados a pessoas de mobilidade reduzida) são equipados com climatização, rádio, telefone, televisor LCD, Internet sem fios, ligação para fax e modem, secador de cabelo, minibar e cofre digital. O hotel inclui restaurante, bar, esplanada e duas salas de reuniões (uma para até 120 pessoas e outra para 12) e aposta tanto no segmento de famílias como no de negócios.
- Nome
- Sana Silver Coast Hotel
- Local
- Caldas da Rainha, Santo Onofre, Av. Dom Manuel Figueira Freire da Câmara
- Telefone
- 262000600
- Website
- http://www.silvercoast.sanahotels.com/pt