Fugas - hotéis

  • Rita Baleia
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  • DR
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  •  Postal com gravura, 1898-1901, ed. Hotel Lisbonense, gravura Francisco Pastor. Biblioteca Municipal
    Postal com gravura, 1898-1901, ed. Hotel Lisbonense, gravura Francisco Pastor. Biblioteca Municipal
  • Postal colorido manualmente 1905, ed. de Dias & Paramos, cliché de Júlio Paramos. Biblioteca Municipal
    Postal colorido manualmente 1905, ed. de Dias & Paramos, cliché de Júlio Paramos. Biblioteca Municipal

O renascer do velho Grand Hotel das Caldas

Por Carla B. Ribeiro ,

Mais do que um hotel, o Grand Lisbonense constituiu um marco nas Caldas da Rainha e deixou saudades. Depois de anos em ruína, o local volta à vida hoteleira, agora como Sana Silver Coast. Mantêm-se a fachada e objectos históricos e mantém-se o desejo de continuar a marcar a cidade.
O centro das Caldas da Rainha já conheceu dias de ouro, sendo poiso de aristocratas, artistas, políticos... Diz-se até que era no Grand Hotel Lisbonense que a família real portuguesa ficava quando o rei D. Carlos I e respectivo clã passavam uns dias naquela cidade do Oeste para usufruírem dos benefícios termais das águas da localidade - uma teoria contrariada pela inexistência de provas, como sustenta Vicente Martins em "Grand" Hotel Lisbonense - História Social Arquitectónica com Observações em Teoria de Conservação e Restauro, obra ainda por lançar que destaca o facto de a família real ter por residência o Paço das Caldas. Já a corte que acompanhava os monarcas, conclui Martins, ficaria alojada no primeiro andar do hotel, reservado para o efeito.

Depois veio a decadência. E com ela o abandono que resultou numa ferida aberta no coração da cidade. Até que o edifício foi colocado na mesa de negociação quando, já neste século, o Grupo FDO quis construir um centro comercial: a autarquia aceitou - o shopping está lá, ocupando os antigos jardins do Lisbonense, nas traseiras do hotel - sob a condição de que o grupo se comprometesse a recuperar a antiga unidade.

E, depois de reconstruído e requalificado, o FDO resolveu o seu problema de exploração passando o equipamento ao Sana Hotels. O quatro estrelas inaugurou em Junho e, de certa forma, devolveu o Lisbonense à cidade: de dia ou de noite, a esplanada que acompanha toda a frente do hotel, o restaurante e o bar interior, que partilham o nome Lisbonense, enchem-se de caldenses, concedendo vida ao hotel que retribui ao marcar o centro com ainda mais vida.

"A população [das Caldas da Rainha] estava expectante", conta Sofia Nogueira, gerente do novel Sana Silver Coast. Tanto que a esplanada, de cariz romântico e servida pelo Café Lisbonense, comunga o mesmo passeio por onde dezenas de transeuntes se passeiam, separados apenas por uma vedação em ferro.

Entre apontamentos verdes e floridos, na esplanada, perfumada pelas acácias que habitam o jardim do outro lado da rua, alguns turistas, grupos de jovens amigos e famílias com crianças ocupam as mesas e cadeiras de jardim em verga escurecida ou os sofás de palhinha branca cujo conforto é garantido por almofadões roxos. Alguns chegam cedo e vão arrastando a leitura dos jornais manhã fora; outros vêm tarde e ficam em conversas animadas noite dentro. Seja de que forma for, é comum ter sempre gente a passear-se pelas áreas comuns do hotel, confirmando que o Sana Silver Coast não é apenas um abrigo para ficar, é uma grande casa para estar.

Tem sido assim desde o primeiro dia: chegam ao hotel tantos visitantes quantos hóspedes. E, se é verdade que hoje vêm para usufruir dos serviços e espaços abertos à comunidade - para já apenas bar, restaurante e esplanada, estando para breve a abertura de um centro de bem-estar com ginásio, sauna, banho turco e salas de tratamentos -, muitos dos que chegam de visita ainda têm por objectivo reviver momentos passados no Lisbonense ou apreciar a recuperação do espaço hoteleiro, mas entre os hóspedes também há muitos saudosistas. "Já tivemos quem marcasse um quarto para os pais porque tinha sido no Lisbonense que tinham passado a lua-de-mel e queriam fazer-lhes uma surpresa", conta-nos Sofia Nogueira, acrescentando que este é apenas um exemplo de muitos casos semelhantes.

Para não desiludir a busca de recordações, vários objectos do hotel original encontram-se expostos à entrada, em módulos de prateleiras que exibem loiças, livros e recortes de jornais das Caldas e que servem também para proteger quem está no bar dos olhares de quem entra e sai movido pela curiosidade.

Mas, entre a traça original e esses objectos cedidos como memorabilia do hotel, pouco mais resta da velha unidade. Toda a estrutura interior foi repensada e redecorada, conferindo ao hotel um ambiente moderno, embora com traços clássicos impostos logo pela iluminação prestada por imponentes candeeiros de cristal.

Sempre sem descurar o conforto ou o "atendimento personalizado" que esta unidade almeja, afiança Sofia Nogueira. "No fundo é um quatro estrelas que pretende oferecer um serviço de cinco estrelas", apostando sobretudo na qualificação de quem trabalha no hotel, a maioria proveniente do pólo das Caldas da Escola de Hotelaria e Turismo.

Passado o teste da arte de bem receber - a franca simpatia é sabiamente usada quer com os hóspedes, logo no balcão de check-in, quer com clientes externos que ocupam todos os dias as mesas da esplanada ou os sumptuosos e coloridos cadeirões que arrumam o bar de forma simétrica -, a premissa de conforto é posta à prova já no quarto, um espaço que, não sendo muito grande, é suficientemente amplo para suportar a mescla entre tons terra e ouro sem se tornar claustrofóbico.

Enquanto a casa de banho, pequena mas funcional, foi esculpida sob a simplicidade do preto e branco, pelo alcatifado espaço de dormir são os materiais nobres que imperam - desde a madeira escura do mobiliário até aos apontamentos em pele: num sofá de canto, nas mesinhas de cabeceira, no encosto da larga e confortável cama ou nos banquinhos de apoio aos seus pés.

Uma pequena bancada em madeira presta-se a servir de espaço de trabalho - embora demasiado pequeno para se conseguir efectivamente trabalhar (compensou o facto de na esplanada se conseguir ter acesso sem fios à Internet e tomadas eléctricas para ligar o PC), enquanto os pesados cortinados, em tons negro e ouro, garantem a tranquilidade (prolongada) do sono ao mesmo tempo que batalham pelo protagonismo com um painel que evoca a proximidade do mar.

É nesta saudável disputa entre a agrura do mar e o luxo do ouro, que se adormece, entre lençóis alvos e macios e sob a bênção de Rafael Bordalo Pinheiro, cujas palavras gravadas e emolduradas sobre a cama poderão vir a ser adoptadas por muitos que aqui ficarem: "Muito agradecido à gentileza com que fui recebido nas Caldas."

Como ir
O hotel situa-se no centro das Caldas da Rainha, em frente do Parque D. Carlos I e junto ao Hospital Termal. De Lisboa, são cerca 90 km (A8 até à saída 17, para as Caldas); do Porto, são perto de 250 km (seguir direcção Aveiro pela A25 até saída para A8Lisboa; a saída para as Caldas é a 20).

Características
Os 80 quartos de 21,5 m2 e as oito suites de 35 m2 (dois dos quartos são adaptados a pessoas de mobilidade reduzida) são equipados com climatização, rádio, telefone, televisor LCD, Internet sem fios, ligação para fax e modem, secador de cabelo, minibar e cofre digital. O hotel inclui restaurante, bar, esplanada e duas salas de reuniões (uma para até 120 pessoas e outra para 12) e aposta tanto no segmento de famílias como no de negócios.

Nome
Sana Silver Coast Hotel
Local
Caldas da Rainha, Santo Onofre, Av. Dom Manuel Figueira Freire da Câmara
Telefone
262000600
Website
http://www.silvercoast.sanahotels.com/pt
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