Fugas - hotéis

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Sonhos modernos numa quinta do Minho

Por Samuel Silva ,

Começou por ser um hotel dirigido ao público sénior - e ainda mantém algumas dessas características - mas este antigo solar do século XIX afirmou-se entretanto como uma unidade de saúde e bem-estar. Muito por obra da Capital Europeia da Cultura, o Camélia pisca agora o olho a todas as franjas de turistas que visitem Guimarães. 

Ninguém diria que estamos às portas de uma média cidade portuguesa. O ambiente de quinta do Minho permanece intacto nos jardins do Hotel Camélia, em Guimarães. O contraste moderno conferido pela arquitectura do espaço não ofusca o solar do final do século XIX. O edifício histórico permanece intacto, bem como o espaço verde envolvente. O som da água a correr no grande tanque e o ruído dos pássaros fazem esquecer onde estamos.

O ambiente recatado, quase bucólico, da quinta em que a unidade hoteleira foi construída é um dos seus pontos fortes. Outro é a localização: podemos estar contacto com a natureza, mas mantemo-nos bem perto do centro de Guimarães, a cerca de quatro quilómetros do coração da cidade.

A outra mais-valia do Camélia tem a ver com a sua própria história: o empreendimento é, desde o Verão, uma unidade de saúde e bem-estar. Está disponível para um público alargado, mas foi pensada inicialmente como uma residência para aposentados ou pessoas em período de recobro. Essa aposta inicial deu ao espaço uma configuração capaz de fazer deste "um hotel inclusivo", como anunciam os promotores. Dessa forma, responde especialmente às necessidades da procura do segmento sénior.

Porém, com a Capital Europeia da Cultura ao virar da esquina, o Camélia acaba por surgir no momento ideal para ajudar a reforçar a oferta hoteleira local. O hotel situa-se na entrada Sul da cidade, mesmo à margem da Estrada Nacional 105. É uma das mais perigosas do país e uma das mais movimentadas do Vale do Ave, mas a configuração do empreendimento faz com que a estrada passe despercebida para quem escolhe passar uma noite aqui. Não há ruído de automóvel que estrague o ambiente bucólico, ao qual as cameleiras dão um colorido diferente, com as suas flores brancas e cor-de-rosa.

Nesta zona do país costuma chamar-se "japoneira" a esta árvore. Mas foi ao nome mais comum das suas flores que os proprietários do hotel vimaranense foram buscar o nome do empreendimento. E daí tiraram uma vantagem: Camélia é um nome internacional, sem tradução na maioria das línguas, o que tem facilitado a promoção do empreendimento em mercados internacionais. Especialmente no Norte da Europa.

É nesses mercados que tem incidido a promoção do hotel vimaranense. A procura da unidade tem crescido no segundo semestre deste ano, sendo visitado maioritariamente por turistas da Europa Central, especialmente do Benelux. Para reforçar esta dinâmica, a empresa contratou há poucos meses uma colaboradora holandesa que está a explorar ainda mais esse mercado e está agora a alargar os seus contactos com operadores turísticos da Escandinávia. O objectivo é afirmar-se como "um hotel de design, com serviços de saúde e bem-estar associado", anuncia o consultor do Camélia Nelson Soares.

À espera da capital da cultura

Foi o gabinete de arquitectura vimaranense NAAA quem desenhou o edifício em que está instalado do hotel. O espaço atrai, primeiro, pela estética exterior: assimétrica, começando ao nível do solar histórico, à altura de quatro pisos, e terminando a uma cota mais baixa. A construção contrai-se numa espécie de desenho em boomerang que a torna marcante no espaço. Mas é a sua cobertura, feita integralmente em cobre, e as grandes janelas de vidro que não permitem que o Camélia passe indiferente.

O design exterior tem continuidade no interior do hotel. A mesma assimetria nos corredores e áreas comuns e um estilo simples, mas cómodo no interior dos quartos. A dose extra de conforto vem do mobiliário geriátrico, ergonomicamente adaptado, escolhida a pensar na sua função inicial de residência para seniores, aquando da abertura ao público, em 2009.

Essa opção inicial explica a escolha do mobiliário, as cores contrastantes das alcatifas ou a facilidade de acesso aos elevadores e casas de banho. Além disso, todos os quartos estão equipados com kitchenette e uma zona de repouso reforçada. As dificuldades com essa orientação do negócio foram transformadas em oportunidade pelos seus promotores e o empreendimento transformado numa unidade de turismo de saúde e bem-estar, no Verão deste ano.

A configuração interior do hotel tem sido importante para atrair um público mais especializado, em particular pessoas acima dos 55 anos. "Este é um hotel para pessoas dos zero aos cem anos, mas pela forma como foi pensado permite dar outra qualidade a pessoas com mobilidade reduzida ou outro tipo de problemas", explica Nelson Soares. "Sem o Camélia, haveria muitas pessoas que não teriam possibilidade de se deslocar a Guimarães por falta de preparação das restantes unidades", valoriza o responsável do hotel.

Outro ponto forte para atrair esses visitantes - e que tem sido bem acolhido pelos operadores turísticos do Norte da Europa - é a parceria estabelecida entre o Camélia e o grupo de saúde privada AMI, que é dono do hospital privado de Guimarães. Desta forma, os utilizadores têm apoio médio 24 horas por dia e um conjunto de serviços de saúde, como gestão de sono, peso ou fisioterapia.

O hotel está ainda equipado com piscina e jacuzzi, bem como um pequeno ginásio. Os clientes podem ainda usar uma sala de jogos, sala multimédia e um competente serviço de massagens. O espaço oferece ainda um serviço de restaurante, aberto também ao público exterior, com um serviço delicado e uma oferta baseada em sugestões diárias, quase sempre inspiradas na gastronomia da região do Minho.

Mas o novo alinhamento do Camélia quer também atrair um outro perfil de turistas. Desde o Verão que a transformação do empreendimento permitiu também acrescentar os seus 27 quartos à oferta hoteleira de Guimarães, que totaliza 1300 camas.

Em vésperas de Capital Europeia da Cultura, já há muito que a cidade percebeu que a oferta não será suficiente para a procura prevista para os eventos culturais agendados para o próximo ano.

"Já temos notado o reflexo da aproximação da Guimarães 2012 nos agendamentos", avança Nelson Soares. "A Capital da Cultura é um vector estratégico para o hotel", acrescenta o mesmo responsável, para quem as características do Camélia permitem uma "oferta diferenciada".

O sucesso dos primeiros meses de nova orientação da unidade de Guimarães fez com que a empresa avançasse recentemente para a construção de uma nova unidade em Braga. Se o hotel vimaranense é marcado pelo ambiente de quinta familiar, o "vizinho" dificilmente poderia ser mais urbano. Vai ficar instalado na Rua do Raio, a escassos metros da Avenida Central, e vai oferecer 64 quartos a partir do primeiro trimestre do próximo ano.

Nome
Hotel Camélia
Local
Guimarães, Polvoreira, EN 105, n.º 797
Telefone
253424400
Website
http://www.camelia.pt
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