Fugas - hotéis

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O luxo também mora na serra

Por Mariana Oliveira ,

Um hotel rural, um restaurante, além de produção de vinho e de queijo da Serra da Estrela. É o novo Hotel Rural Madre de Água, junto à aldeia de Vinhó, município de Gouveia, a cerca de 20km da Torre.

 

Estamos no campo, a cinco minutos de Gouveia e às portas do Parque Natural da Serra da Estrela. Na propriedade, com mais de 60 hectares, há centenas de ovelhas e cabras, três cavalos e dezenas de cães Serra da Estrela. Integrado numa zona rural, o Madre de Água merece bem as quatro estrelas que lhe atribuíram.

O Madre de Água é um hotel de quatro estrelas e parece-nos indiscutível que as merece bem. Contudo, dizer isso pouco ou nada exprime do que aqui se pode encontrar. A cinco minutos de Gouveia e às portas do Parque Natural da Serra da Estrela, esta unidade proporciona experiências invulgares para um hotel de luxo. E se lhe ensinassem a ordenhar ovelhas?

A tarefa não é para todas as mãos, mas está ao alcance de todos. Basicamente de quem se quiser aventurar. O desafio foi-nos proposto e não o poderíamos declinar. Afinal, estamos num hotel rural onde o lema é participar nas tarefas da quinta. No rescaldo da experiência, constatámos que a tarefa é bastante mais difícil do que parece ser para Jorge Lima, o responsável pela parte agrícola da propriedade. Com algum esforço, superámos a prova.

Enquanto nos familiarizamos com os pormenores da ordenha, a maior parte do grupo delicia-se com quatro cachorrinhos Serra da Estrela, com apenas alguns meses de vida. A mãe acompanha de perto as brincadeiras, mas o seu porte é suficiente para nos intimidar. Para isso contribuem também os outros Serra, que nos rondam. No final, há que sublinhar que a experiência mostrou que o receio era infundado. Os cães mostraram-se extremamente carinhosos com todos, especialmente com as crianças.

Mas desengane-se quem pensa que os cães aqui são animais domésticos. Os Serra da Estrela são trabalhadores incansáveis e dedicados. São cães pastores e Jorge Lima não se cansa de repetir que se deixar as ovelhas uns meses na serra eles lá ficarão para as proteger. "Sem nunca lhes tocarem", realça o responsável de 48 anos. Há um par de anos, Jorge Lima trocou a azáfama de Lisboa pela tranquilidade da serra que o viu nascer e hoje gere os mais de 60 hectares de Luís e Lurdes Perfeito. Aqui produz-se, entre outras coisas, vinho, azeite e queijo da serra.

O queijo ainda não é feito entre muros, mas este mês arrancam as obras para a queijaria e para o ovil, que devem ficar prontos no início do próximo ano. Mesmo assim, já se faz queijo com a chancela Madre de Água a partir do leite das 250 ovelhas bordaleiras da quinta, a raça que dá o leite que permite produzir o serra verdadeiro. Ovelhas de luxo, brinca Jorge Lima, que explica que todos os dias o rebanho sai para pastar. Chamamos-lhe verdadeiro porque tem direito a certificação, um selo de qualidade que obviamente se reflecte no preço (que ronda os 25 euros o quilo).

Fomos ao encontro das ovelhas numa propriedade de Jorge Lima, a uns quilómetros do hotel rural. Depois da visita aos borregos e aos cabritinhos seguimos para a quinta. Pelos habituais caminhos... de cabras. Literalmente: todas as semanas passam por aqui centenas de ovelhas e cabras vigiadas pelos seus guardiões, num percurso delineado pelo pastor de serviço.

Apesar da crise, Jorge Lima tem dificuldades em encontrar trabalhadores dedicados. Alguns arriscam-se nesta vida, mas a dureza da tarefa acaba por desanimá-los. Muitos desistem apesar do salário certo, muito acima do mínimo definido no país.

Sonhos no Alfrocheiro

Deixemos as ovelhas e voltemos ao hotel, onde depois da visita nos aguardam para um manjar sofisticado da responsabilidade do chef Valdir Lubave. No restaurante do Madre de Água privilegiam-se os sabores da região, com destaque para as carnes e enchidos da serra e para o genuíno queijo da Estrela. Não pense, contudo, encontrar uma cozinha tradicional. Aqui os sabores da serra misturam-se com a cozinha de autor.

Comemos muito bem e dormimos melhor. O conforto é, aliás, palavra de ordem no hotel rural. O edifício, com dez quartos (incluindo duas suites), foi construído de raiz. Apenas se aproveitou uma pequena casa de pedra, transformada hoje na sala de estar e na sala de reuniões da unidade. A decoração é sóbria, requintada e muito acolhedora. O bom gosto impera. O projecto, de linhas simples, é da responsabilidade do escritório de Cascais Palmer Grego Arquitectos. No hotel, em forma de L, sobressai a utiliza? ?ão de madeiras e o cuidado com a luz, que inunda o espaço através de grandes janelas e paredes de vidro. "Quisemos que os nossos quartos - na decoração, mobiliário e enquadramento geral - oferecessem serenidade e uma atmosfera intimista", lê-se na brochura de apresentação do hotel. Somos a prova que o objectivo foi atingido.

Calhou-nos o Alfrocheiro, uma das castas de vinhos que dão nome aos quartos. Nos dormitórios, como aliás em todo o hotel, há uma preocupação com os detalhes. Exemplo disso é o poema de Virgílio Ferreira Que há para lá do sonhar?, escolhido para o pequeno desdobrável que serve para guardar o cartão do quarto. O escritor, lê-se, nasceu a 28 de Janeiro de 1916 em Melo, uma aldeia vizinha, que faz também parte do concelho de Gouveia.

Mas não é caso único. A qualidade dos colchões impressionou-nos, o que nos levou a reter a sua marca. Em todos os quartos há confortáveis roupões e chinelos à disposição de cada visitante. Os dez aposentos dispõem todos de uma varanda com vista sobre a piscina, um luxo com pouca utilidade nesta altura do ano, mas que permite compensar os excessos do calor no Verão.

Agora que já dormimos impõe-se novamente uma passagem pelo restaurante para o pequeno-almoço. A oferta na primeira refeição do dia não é abundante, mas é cuidada. São seleccionados produtos de excelência, como o fantástico requeijão, com a marca da quinta, que se pode acompanhar com uma das deliciosas compotas de Lurdes, a proprietária. A fruta é variada e o ananás, por exemplo, é cortado às fatias finas. Há ainda sumos, iogurtes, flocos, pães diversos, croissants e um bolo caseiro de noz.

O tempo chuvoso não convida ao passeio, mas fazemos questão de desbravar os mais de 60 hectares da quinta. Na véspera tínhamos conhecido as ovelhas e as cabras, mas há mais. Jorge Lima volta a provar ser um óptimo anfitrião. Apresenta-nos Leonor, Matilde e Inês, as três éguas lusitanas que animam as cavalariças. Perto há um canil para animais abandonados que a proprietária mandou construir e todos os dias os mais de trinta cães passeiam-se por uma mata vedada com mais de dois hectares. Nesta quinta os hóspedes não são os únicos a merecer tratamento de luxo. Os pássaros das redondezas também não se podem queixar: ao longo da propriedade foram montadas mais de 30 boxes em madeira onde todos os dias se deposita comida.

Há também uma área reservada aos Serra da Estrela, onde até se criaram espaços especiais que permitem respeitar as rivalidades caninas, atribuídas a disputas de liderança.

Ao percorrer a Madre de Água percebemos que o induzimos em erro - na realidade, a propriedade do casal Perfeito não é composta por uma quinta, mas sim por quatro quintas que têm vindo a ser adquiridas ao longo dos anos. A última, com 25 mil hectares, tem várias casas antigas, que a família pretende recuperar e já se vislumbra a hipótese de um novo hotel, neste caso de charme. Também já se equacionam novas aquisições para tornar a propriedade maior.

No fim de tudo, há algo que temos dificuldade em transformar em palavras. Mais do que a simpatia de todos (alguns ainda pouco experientes nas lides de um atendimento de luxo com poucos meses de vida) sentimo-nos afortunados por termos partilhado desta paixão. Não conhecemos os donos, mas nos funcionários transborda o gosto e a genuinidade por este projecto de desenvolvimento rural. Do investimento de alguns milhares de euros não se pretendem lucros milionários. Quer-se apenas um projecto sustentável que dê forma a um sonho de família. Transformado agora em realidade.

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Como ir
De Lisboa: Pode optar pela A1 ou a A23. Se escolher a primeira, saia em Coimbra Norte. Entre no IP3 e continue até à saída do IC12 Nelas/Mangualde. À entrada de Nelas apanha a EN231 até Seia, na rotunda corte à esquerda pela EN17 até Gouveia. Se escolher ir pela A23 vá até à Guarda e aí entre na A25, sentido Viseu. Saia para Celorico da Beira e siga pela EN17 na direcção de Gouveia.

Do Porto: Siga pela A1 até perto de Aveiro, onde vai apanhar a A25. Continue nesta auto-estrada no sentido de Viseu/Guarda. Saia em Mangualde, passe pelo centro e vá até Gouveia pela EN232.

O que fazer
Nos mais de 60 hectares da propriedade há uma exploração vitivinícola, um rebanho de 250 ovelhas e umas dezenas de cabras, três éguas lusitanas e vários cães Serra da Estrela. Por isso, há muito a explorar só dentro de muros. A quinta oferece ainda uma piscina exterior, obviamente difícil de testar nesta altura do ano. Está-se a uns minutos do Parque Natural da Serra da Estrela e a pouco mais de meia hora da Torre.

Onde comer
No hotel, o chef Valdir Lubave oferece uma cozinha sofisticada que privilegia os sabores da região. Destaque para as carnes e enchidos da serra e para o genuíno queijo da Estrela, produzido com o leite e a chancela da Madre de Água. O menu da Páscoa, por exemplo, incluiu presa de porco preto e tranches de salmão na grelha com ervas aromáticas. De sobremesa, cheesecake de requeijão e frutos vermelhos, entre uma oferta muito mais variada.

Preços
Semana: quarto duplo clássico a 120 euros e suite (para dois adultos e duas crianças) a 180. Fim-de-semana: quarto clássico a 130 euros e suite a 200. Em Agosto, estadia mínima de duas noites e de três na Páscoa, no Carnaval e no fim de ano. A oferta completa-se com um apartamento de dois quartos, que custa entre 200 e 250 euros, e um estúdio para duas pessoas cujo preço varia entre os 150 e os 210 euros.

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A Fugas esteve alojada a convite do Madre de Água

Nome
Hotel Rural Madre de Água
Local
Gouveia, Vinhó, Quinta Madre de Água, Vinhó
Telefone
238490500
Website
http://madredeaguahotelrural.pt
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