Fugas - hotéis

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Em Braga, dorme-se na «pensão mais pequena do mundo»

Por Samuel Silva ,

Só entram quatro hóspedes de cada vez na Portuguez Inn. Dizer que é a mais pequena do mundo é um bom truque de marketing mas sublinhe-se que, lá dentro, cabe toda a história da cidade.

Dificilmente passa despercebida. A casa é pequena e tem uma fachada peculiar. Se a isso juntarmos a cor-de-salmão em que está pintada, percebe-se por que chama a atenção de quem passa numa das ruas mais movimentadas do centro de Braga. Depois de vários anos vazia, agora tem lá dentro uma pensão. Perguntar-se-á como, se a casa tem apenas dois andares. É a pensão mais pequena do mundo, dizem eles, e lá dentro só cabem quatro hóspedes.

Chama-se Portuguez Inn esta nova unidade hoteleira bracarense (inaugurada, precisamente, a 12.12.12, aproveitando a "data especial"), localizada na rua Frei Caetano Brandão, a poucos metros da praça que se abre frente à Sé. E, se não bastasse a proximidade de um dos monumentos mais emblemáticos da cidade, esta tem-se tornado também numa das zonas mais movimentadas de Braga, o que torna a localização privilegiada.

No quarteirão entre a rua que acolhe a pensão, a Sé e a rua D. Afonso Henriques abriram, em pouco mais de dois anos, cerca de uma dezena de bares e restaurantes com menu e atendimento contemporâneos, bem como lojas comerciais com oferta diferenciada. Não se estranha, por isso, que seja aqui que acorrem os jovens bracarenses nas noites de fim-de-semana. "Esta é hoje a parte mais interessante da cidade", defende Gonçalo Rocha, um dos dois irmãos que gerem a pensão.

Essa, acreditam, é uma mais-valia para captar clientes que procurem em Braga mais do que a oferta turística tradicional. E foi uma das questões que tiveram em conta no momento em que decidiram avançar para este negócio. A casa que acolhe a Portuguez Inn tinha sido recuperada em 1992 e encontrava-se disponível para arrendar quando, há um ano, o irmão de Gonçalo, Miguel Rocha, passou por lá num périplo fotográfico pela cidade. "Isso suscitou logo a minha curiosidade e pouco tempo depois viemos cá para vermos o interior e percebemos que a quantidade de valências à nossa disposição merecia que pegássemos nela", conta.

Os dois irmãos ainda pensaram em abrir ali uma galeria de arte, mas rapidamente perceberam que no mercado bracarense o negócio dificilmente resultaria. Foi então ganhando força a possibilidade de dedicar o espaço a uma unidade de alojamento. Mesmo que a área disponível não fosse muito grande. Gonçalo e Miguel têm uma empresa de publicidade. E perceberam o potencial de comunicar a casa como a pensão mais pequena do mundo.

Na prática, o que o cliente paga é a casa, onde encontra um quarto de casal e uma sala de estar em que o sofá se transforma numa cama confortável para mais duas pessoas. Assim, a lotação máxima da Portuguez Inn é de quatro hóspedes. "Necessariamente têm que ser pessoas que se conhecem", precisa Gonçalo Rocha.

A casa fica por conta do cliente, que receberá a visita diária de um funcionário pela manhã, que entrega um cesto de piquenique com o pequeno almoço e fará também os serviços de limpeza. O preço-base será de 160 euros por noite para duas pessoas. Quando são quatro os hóspedes da casa, o custo sobe para 260 euros por noite. O custo tem depois variações em funções dos dias de estadia, com desconto de 10% a partir da terceira noite, que vai crescendo sucessivamente até a uma redução de preço de 40% caso o cliente queira alugar a casa por um mês.

Para tornar rentável o investimento, "a taxa de ocupação terá que ser alta", reconhece Gonçalo Rocha, que aposta sobretudo na comunicação da ideia da pensão mais pequena do mundo como forma de atrair clientes. Mas este é "um risco controlado", acredita o empresário. De resto, o conceito de uma pensão para apenas quatro hóspedes é de tal modo inovador que os responsáveis têm tido dificuldades em associar-se às redes de divulgação internacional deste tipo de espaços na Internet.


Vê-se logo que é de Braga

Ao alojamento, a Portuguez Inn alia outros serviços, como massagens e visitas turísticas guiadas pela cidade e a região. A casa que acolhe a pensão está ainda equipada com uma sala de leitura, uma sala de refeição, uma cozinha e uma zona de arrumos, todos decorados e equipados por marcas e produtos nacionais. Essa é, de resto, uma das particularidades desta pensão, que se associou a uma série de marcas locais, regionais e nacionais. A biblioteca, por exemplo, foi oferecida pela livraria bracarense Centésima Página e várias lojas das redondezas como o Mercado da Saudade ou a loja de guitarras APC.

Talheres, utensílios de cozinha e electrodomésticos, por exemplo, também são "made in Portugal" e até há uma televisão dos anos 1970 fabricada pela Grundig, no tempo em que a marca de origem alemã era uma das grandes forças motrizes da economia de Braga. "Só o ecrã plasma não é português, porque cá já não se fabricam televisões", graceja Miguel. Este é outro dos elementos diferenciados desta pensão e os dois irmãos Rocha fazem gala disso.

"As cadeias internacionais são iguais em todo o lado. Aqui há um elemento local que o diferencia", diz Miguel. Gonçalo completa a ideia: "Nós não queremos um espaço em que a pessoa está em Braga como pode estar em Faro, no Brasil ou noutro ponto do mundo. Queremos um espaço em que a pessoa sinta que está em Portugal e sinta que está em Braga."

E era difícil que a Portuguez Inn mostrasse tão nitidamente que é de Braga. A pensão ocupa uma casa onde cabe quase toda a história da cidade. As quatro épocas mais importantes da história da urbe cruzam-se aqui. No piso inferior da casa ainda se encontra uma cloaca romana, que se estima ser do século I, e que os proprietários querem tornar peça de museu. Esta infra-estrutura está bem preservada e fazia parte de uma das principais redes de drenagem de água de Bracara Augusta, que corria junto à via romana Cardus Maximus.

Sobre a estrada romana foi construída, na Idade Média, a chamada Rua Verde. A casa desta pensão é a única sobrevivente dessa via medieval. O edifício tem génese no século XVIII e dessa época preserva ainda na fachada a inscrição IHS. O piso superior terá sido construído no século XVIII. Pelo menos surge assim referenciado no primeiro mapa das ruas de Braga, de 1750, época gloriosa da história da cidade, com a construção massiva de edifícios barrocos e rococó que ainda hoje marcam a paisagem urbana. E esta pode ser uma forma diferente de a pensão dar a conhecer a cidade. Miguel Rocha explica: "Quando as pessoas aqui entrarem, serão atraídas pelos elementos históricos que aqui encontram. E isso fará com que tenham vontade de conhecer mais sobre a cidade, os seus museus e até as lojas."

Nome
Portuguez Inn
Local
Braga, Cividade, Rua Dom Frei Caetano Brandão, 154
Telefone
962130549
Website
http://www.portuguezinn.pt
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