O cinco estrelas acaba de abrir portas, como denuncia ainda toda a envolvente do hotel: para lá da calçada da rua, esculpida a mármore, em breve nascerá um jardim para amenizar a crueza da pedra. Mas, por enquanto, ainda se podem observar os trabalhos em curso e o estacionamento tende a ser irregular, ofuscando a luz que emana do próprio mármore. Ainda assim, o peso, que temíamos, convida mais que intimida.
A entrada até pode ser feita com alguma cerimónia, respeitando a polida e brilhante armadura medieval que nos recebe. Mas depressa a frieza petrificada que nos acolhe num curto túnel ganha o calor do Alentejo, com as paredes e cortinados em amarelo vivo a servirem de moldura à pedra que se prolonga por um extenso salão, onde a imponência do mármore polido que calcamos, numa esquadria perfeita a branco, negro e dourado, é suavizada não apenas pelos chás que são servidos mas pelas pessoas, conversas e risos que enchem a sala. Não são apenas hóspedes; muitos vila-viçosenses procuram o hotel ao fim da tarde ou após o jantar (ou mesmo para o repasto... mas já lá vamos). Alguns ainda movidos pela curiosidade, outros já pela certeza de encontrarem ali um espaço tranquilo e, apesar da sua dimensão, familiar.
O nascimento do Marmoris é, de facto, uma coisa de família. Trata-se de uma ode ao amor à pedra: os proprietários dedicam-se à extracção de mármore e é na rocha ainda em bruto que encontra a beleza. A prová-lo, o elevador, que, com duas paredes em vidro transparente, se encarrega de levar cada hóspede numa viagem por uma fotografia em grande escala de uma das pedreiras da família. Desde o fundo da pedreira, no piso -1, até à superfície, que se desenha nos últimos pisos.
É, enfim, apenas um aperitivo, já que a sensação de visitar uma pedreira de extracção de mármore é muito difícil de simular (e, por isso mesmo, o hotel, além de estar integrado na nova Rota Tons de Mármore, organiza expedições acompanhadas às pedreiras na região). "É uma maneira de tornar a estada mais do que uma dormida, uma experiência", conta-nos a sócia-gerente, Maria Ana Alves. O trato não é, por isso, desprezado. Desde a recepção até ao restaurante, espalha-se uma delicada e contida simpatia, reflexo também de quem gere o espaço. E há sempre alguém pronto a atender qualquer pedido. Aqui e ali, a pedra em bruto volta a ganhar peso, sobretudo no exterior. Como é o caso de uma parede fragmentada que cerca o terraço da piscina que, como nos explica Maria Ana Alves, serve também para "esconder" a necessária escada de emergência. Outras peças, mais pequenas, assumem o lugar de esculturas, revelando obras sem mão de artista. Como a imponente mesa em mármore branco que ocupa parte do restaurante e que serve, ao pequeno-almoço, como montra para o bufett. "Teve de entrar de grua", conta-nos, entusiasmado, um dos funcionários do restaurante. Entusiasmo foi, aliás, o que sentiram os proprietários da pedreira quando o gigantesco calhau foi cortado. Não teve logo destino definido, mas sabiam que aquele tesouro era para guardar. O bloco acabaria por ficar completo com um tampo em vidro, estando assente numa estrutura própria para aguentar as suas toneladas.
O silêncio é de pedra
Se há coisa levada a sério no Marmoris é o recato. E, depois de toda a pedra que nos envolve nas áreas comuns, o caminho para o quarto é marcado pelas grossas alcatifas que abafam o som dos nossos passos (e alheios) e pela delicada iluminação a contrastar com toda a luminosidade dos halls.
No quarto em que a Fugas dormiu, um duplo, os tons sóbrios marcam a decoração. Madeiras escuras, tanto nas mesinhas-de-cabeceira como numa espaçosa secretária, grossos reposteiros em castanho, que travam a entrada da luz do dia às primeiras horas da manhã, permitindo esticar o sono para lá da madrugada, e um espelho em altura numa trabalhada moldura a imitar talha dourada - num pormenor curioso, a televisão pode ser visionada precisamente numa área elevada desse espelho, ficando oculta desde que desligada. A zona de dormir resume-se a estes traços que podem parecer básicos, mas a utilização global de materiais nobres, assim como a aposta na qualidade dos colchões e dos tecidos, alvos, das roupas de cama, surtem efeito na sua missão de aconchegar. E em proporcionar momentos de descanso.
Pedra? Nos quartos? Pouca. De tal forma que quase nos esquecemos de todo o mármore de que vive este hotel. Até se chegar à casa de banho, interior mas com luz natural graças à parede em vidro fosco e desenhado que a separa da zona de dormir. No WC, o mármore volta em força, forrando todo o espaço e em cada quarto há pormenores diferentes. No nosso, destaca-se o lavatório: em tom de coral com laivos brancos, forma uma gigantesca concha.
No spa, o silêncio também é de ouro. Mas a pedra ganha (ainda mais) destaque. As obras das fundações do hotel foram aproveitadas para escavar uma pedreira, deixando à vista as formações rochosas em bruto, com salientes veios em mármore. Por isso, caminhar entre a zona de banhos termais e as salas de tratamentos - garantidos pela reconhecida marca Stone Spa by Cinque Mondes, mas que o tempo nos obrigou a deixar para próximas experiências - faz lembrar uma viagem ao âmago da mãe Terra.
A Fugas esteve alojada a convite do Turismo do Alentejo
Alentejo à mesa
Para lá do mármore, há outra razão que brilha no Marmoris: o restaurante Narcissus arrancou com ambições culinárias abrilhantadas pelo chef Alexandre Silva que, depois de vencido o concurso televisivo Top Chef, inicia uma nova etapa ao assumir a liderança de uma cozinha onde se pode provar o Alentejo.
Os sabores são, de facto, tradicionais; mas as técnicas, inovadoras. Tudo para apresentar pratos de autor que, num espaço a branco e pinho, são quase uma explosão de cor (e, por vezes, de sabor). Como aconteceu no menu de degustação idealizado para a noite em que por lá passámos.
Arrancou com um snack de ovas de robalo fritas com maioneses de cebolinho numa cama de alface, continuou com o amuse-bouche de barriga de robalo com endívias, nozes e avelãs. Nas entradas frias, lombo e barriga de cavala salteada, salada de rama de aipo e caldo de cebola tostada e requeijão vegetal, rúcula e frutos secos; nas quentes, farinheira de Estremoz, rábano, pickles de maçã de Portalegre. O peixe chegou em forma de lombo de bacalhau escalfado, línguas estufadas, cebolinhas e lombardo salteados com mel, creme de batata olho-de-perdiz. A carne foi representada por rabo de boi estufado com puré de cherovia, legumes e verduras glaceados. Experimentámos ainda os rebuçados de ovo de Portalegre "explosivos" e atestámos os canteiros de Vila Viçosa, plantados numa cama de brownie de chocolate.
O festim de sabores não se fica, porém, pelo jantar. O pequeno-almoço, servido numa aconchegante salinha com vista para o pátio da piscina, é, por si só, uma experiência gastronómica: croissants estaladiços ainda mornos, frutas de várias cores, compotas tradicionais, queijos, pão de vários feitios, sumos naturais e uma vasta lista de pratos quentes feitos na hora: ovos (mexidos, fritos, escalfados...), bacon, crepes...
Preços
Ainda em período de abertura, os quartos duplos reservam-se desde 139€. No spa, com quatro salas de tratamentos, piscina interior e exterior, banhos quentes e frios e hammam, há tratamentos inspirados em vários pontos do globo. No restaurante, o menu de degustação, Grande Alentejo, custa 65€ por pessoa e inclui snacks, amuse-bouche, entrada fria, entrada quente, peixe, brincadeira, carne, amuse sobremesa, pré-sobremesa, sobremesa e petis.
Como ir
De Lisboa, são cerca de 190km, a maioria dos quais em auto-estrada (A2, direcção Sul, e A6, direcção Borba/Alandroal). Após a saída da auto-estrada são cerca de dez quilómetros pela EN255. Do Porto, são 380km: A1 até Coimbra, seguindo pelo IC3/A13 até à A23, direcção Abrantes. Sair para Portalegre / Nisa pela IP2. Em Estremoz sair para a EN4
- Nome
- Alentejo Marmoris Hotel & Spa
- Local
- Vila Viçosa, Conceição, Largo Gago Coutinho
- Telefone
- 268887010
- Website
- http://www.alentejomarmoris.com